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Conselhos dos esquimós contra o pessimismo

Gorka Olmo

O presente como única realidade. Os verdadeiros amigos. Uma inesperada saída ante o medo. Pequenas lições dos povos do norte que nos ajudam a superar as adversidades diárias

Os 70.000 esquimós (ou inuit, que significa “povo” em seu idioma) residem num território que abrange o Canadá, o Alasca, a Sibéria e a Groelândia. Os habitantes do Ártico têm uma mitologia e uma espiritualidade próprias. Segundo a escritora e ensaísta norte-americana Annie Dillard, eles acreditam que “cada indivíduo possui seis ou sete almas, encarnadas por pessoas diminutas espalhadas por diferentes partes do corpo”. Uma das crenças mais belas desses povos do norte é que as estrelas são buracos no céu que deixam passar a luz dos seres queridos que já morreram, para que aqui embaixo saibamos que são felizes.

Talvez pelas duras condições de vida desses habitantes do frio, sua sabedoria popular expressa a arte cotidiana de superar as circunstâncias mais difíceis. Vejamos algumas dicas que podem ser úteis também para o nosso dia a dia.

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Ayurnamat. Esse termo inuíte não tem uma palavra equivalente em nosso idioma, mas engloba uma filosofia vital que podemos resumir nesta frase: “Não vale à pena se preocupar com as coisas que não podemos mudar.” Essa mesma ideia existe nas tradições chinesa e árabe, mas o fato de que os esquimós tenham um vocábulo específico indica até que ponto ele faz parte da sua cultura. A sobrevivência exige concentrar-se apenas no que depende de nós mesmos, deixando de fora tudo aquilo sobre o qual não temos controle.

“Não faça em sua casa janelas tão pequenas que impeçam a claridade de entrar nos quartos.” Tomando isso de forma literal, é compreensível que, nos assentamentos onde há pouca luz durante boa parte do ano, seja preciso facilitar a entrada de Sol. Mas essa frase inuíte possui uma segunda leitura mais pessoal. Se o seu olhar sobre a realidade é estreito, você sempre verá tudo escuro ou diretamente preto, já que a sua visão é influenciada por seu olhar. O melhor remédio contra o pessimismo e a negatividade é ampliar horizontes e entender que há um mundo muito amplo além dos nossos problemas.

“Você nunca saberá realmente quem são os seus amigos até que o gelo se rompa sob os seus pés.” Levando ao nosso entorno urbano, a atriz Marlene Dietrich dizia que “os únicos amigos que contam são os aqueles para quem você pode ligar às quatro da madrugada”. Em situações de comemoração e tranquilidade, certamente podemos ter a ilusão de que contamos com muitas amizades, mas a pedra de toque são os momentos difíceis. Ante uma ruína econômica, uma separação ou uma longa doença – equivalentes ao gelo que se rompe –, muitas pessoas desaparecem e só uma minoria continua presente, dando o melhor de si. Esse filtro revelador é uma das coisas que podemos agradecer à adversidade.

“Os presentes fazem escravos, assim como o chicote faz o cão.” Todos temos em mente a imagem de um trenó puxado por cachorros cruzando o território nevado. Os animais cumprem sua missão à força, empurrados pela chibata de quem os conduz. Do mesmo modo, segundo a sabedoria dos esquimós, aceitar um presente muito caro nos coloca numa posição de debilidade frente ao outro, já que inconscientemente nos sentiremos obrigados a devolver o favor. Isso é algo que nós mesmos devemos levar em conta quando oferecemos um presente. Deveríamos nos perguntar antes: entrego isso de forma generosa e espontânea, ou esperarei algo em troca com o tempo?

“Se você tem medo, mude de caminho.” Essa inspiração esquimó parece ir de encontro ao moderno coaching, que aconselha desafiar as crenças limitadoras e sair da zona de conforto. Mas há outra interpretação: se for fazer algo com dúvida e desconfiança, melhor não fazer. Um exemplo seria iniciar uma relação sentimental sob o temor de ser enganado ou de que as coisas não darão certo por qualquer outro motivo. É preciso domar o medo primeiro para viver e amar com liberdade.

“O ontem são cinzas, e o amanhã é madeira. Só hoje o fogo arde com todo o seu esplendor.” Encontramos equivalentes dessa ideia no zen japonês e em praticamente todas as tradições espirituais. Isto é tão simples quanto difícil de aplicar, a não ser que sejamos conscientes em cada um dos nossos atos. A existência é formada por momentos, e quem não sabe desfrutá-los se condena a viver sempre na melancolia do passado ou no desejo do futuro.

Para mitigar e medir a irritação

E seu livro Pequeño Curso de Magia Cotidiana (sem edição em português), Anna Solyom descreve um ritual dos esquimós citado pela historiadora Lucy R. Lippard para os momentos em que a ira se apodera de nós. "Um costume dos esquimós para aliviar alguém que está aborrecido consiste em fazer essa pessoa caminhar seguindo uma linha reta através do campo. O ponto em que o aborrecimento é conquistado é marcado com uma vara, como testemunho da força e da duração da raiva." Essa prática tem uma dupla vantagem. O fato de mover o corpo em momentos de ira nos ajuda sair da armadilha em que nossa mente nos colocou. Por outro lado, essa forma tão gráfica de medir a raiva permite que nos afastemos dela e entendamos nossa própria emoção como algo que não nos pertence.

Francesc Miralles é escritor e jornalista especialista em psicologia.

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