Marcelo Crivella, prefeito do Rio, é preso por suspeita de chefiar esquema de propina
Justiça determinou afastamento do político, que não conseguiu se reeleger, das funções públicas. Outras seis pessoas foram presas na operação que investiga um suposto ‘QG’ da corrupção na prefeitura
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira durante uma operação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil. A poucos dias de deixar a prefeitura ―o prefeito eleito Eduardo Paes (DEM) toma posse em 1º de janeiro―, Crivella foi detido em sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. A prisão foi ordenada pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, que também determinou o afastamento do prefeito do cargo.
Segundo o Ministério Público, a investigação revelou a existência de uma bem estruturada e complexa organização criminosa liderada por Crivella e que atuava na prefeitura desde 2017. Além do prefeito, seis pessoas foram alvo de prisão preventiva (sem prazo para acabar) sob acusação de integrar organização criminosa voltada para as práticas de corrupção, peculato, fraudes a licitações e lavagem de dinheiro. Ao todo, 26 pessoas foram denunciadas.
A Promotoria aponta três principais operadores do esquema: Rafael Ferreira Alves (financiador da campanha eleitoral de Crivella e irmão de Marcelo Ferreira Alves, ex-presidente da Riotur), Mauro Macedo (ex-tesoureiro de campanhas do prefeito) e Eduardo Benedito Lopes (suplente do prefeito no Senado e ex-presidente regional do PRB no Rio). Sob a liderança do prefeito, ainda segundo a investigação, eles aliciavam empresários que participariam do esquema em troca de favorecimentos na Administração municipal.
O esquema ficou conhecido como “QG da Propina” e motivou a abertura do processo de um impeachment contra Crivella na Câmara Municipal. Como mostrou reportagem do EL PAÍS em setembro, em um vídeo gravado durante a busca e apreensão na casa dele, em março, Crivella supostamente liga para um dos celulares de Rafael Alves para avisar de uma busca na Riotur e é atendido pelo delegado da Polícia Civil responsável pela ação. Ao perceber que não se tratava de Alves ao telefone, Crivella encerra a chamada. A desembargadora Rosa Helena Guita, da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que deu a ordem de busca na ocasião e determinou a prisão do prefeito nesta terça, disse que na época que “a subserviência de Crivella a Rafael Alves é assustadora”.
Ao ser preso nesta terça, Crivella afirmou aos jornalistas ser vítima de “perseguição política”, em declaração na entrada da Polícia Civil às 6h35. “Lutei contra o pedágio ilegal injusto, tirei recursos do carnaval, negociei o VLT, fui o Governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro”, disse. Questionado sobre sua expectativa agora, o prefeito disse: “Justiça”. O advogado de Crivella, Alberto Sampaio, disse que o prefeito ficou surpreso com a prisão.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por seu tio, o bispo Edir Macedo, Marcelo Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro em 2016, mas não conseguiu reeleger-se, apesar do apoio explícito do presidente Jair Bolsonaro, após acumular críticas a sua gestão. O presidente da Câmara do Rio, Jorge Felippe (DEM), vai assumir a Administração municipal pois o vice de Crivella, Fernando McDowell, morreu em 2018.
Já Eduardo Paes comentou pelo Twitter a prisão, afirmando que o trabalho de transição de Governo será mantido. “Conversei nessa manhã com o presidente da câmara de vereadores Jorge Felipe para que mobilizasse os dirigentes municipais para continuar conduzindo suas obrigações e atendendo a população. Da mesma forma, manteremos o trabalho de transição que já vinha sendo tocado”, escreveu.