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Crise no Ministério do Turismo expõe empenho do Governo Bolsonaro na eleição da Câmara

Suspeito de participar de esquema com ‘laranjas’, Marcelo Álvaro Antônio deixou a pasta. Mas por um motivo mais trivial do que denúncias de corrupção: o rearranjo de alianças do presidente

Presidente Jair Bolsonaro, acompanhado pelos ministros do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (C), e da Casa Civil, Braga Neto, durante o lançamento da retomada do turismo no Palácio do Planalto, em 10 de novembro.
Presidente Jair Bolsonaro, acompanhado pelos ministros do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (C), e da Casa Civil, Braga Neto, durante o lançamento da retomada do turismo no Palácio do Planalto, em 10 de novembro.Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil (Agência Brasil)
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Marcelo Álvaro Antônio já assumiu o posto de ministro do Turismo sob suspeita. Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo o apontou, logo no início do Governo Bolsonaro, como participante de um esquema de desvio de recursos do fundo eleitoral, por meio de candidaturas de mulheres que serviam de laranjas. O caso ganhava o noticiário vez ou outra, como quando Álvaro Antônio foi indiciado pela Polícia Federal por conta dessa suspeita, em outubro de 2019 mas, apesar das especulações, o ministro seguiu inabalável no cargo até esta quarta-feira, quando deixou o Governo. A decisão do presidente Jair Bolsonaro foi antecipada por um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). E a demissão ocorreu por um motivo mais prosaico do que denúncias de corrupção: a política de Brasília.

Em meio à disputa para a sucessão nas presidência da Câmara e do Senado, o Governo Bolsonaro arregimenta forças partidárias que possam favorecê-lo dentro do Congresso Nacional. A busca para abrir espaço para novos aliados na cúpula do Palácio do Planalto gerou atritos entre Marcelo Álvaro Antônio e o ministro Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, como revelaram conversas por mensagens em um grupo de WhatsApp vazadas. “Não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR [presidente da República] pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados”, diz um trecho da mensagem, revelada pela CNN Brasil. “Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor”, segue a mensagem.

A mensagem escancara não apenas o receio do ministro de perder o cargo, mas o empenho do Governo na sucessão da Câmara ―empenho sobre o qual o presidente tem desconversado publicamente. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) referendar o impedimento constitucional à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e David Alcolumbre (DEM-AL) na Câmara e no Senado, respectivamente, o nome do deputado Arthur Lira (PP-AL), favorito de Bolsonaro, vai arregimentando apoios. A maioria da bancada do PSB (18 de 30 deputados), por exemplo, manifestou apoio ao progressista nesta quarta-feira. Do outro lado do ringue, Maia, presidente cessante da Câmara, promete promover uma candidatura pela “independência” da Casa legislativa.

Como de costume no Governo Bolsonaro, a confirmação da troca no Ministério do Turismo veio por canais informais. “Desejo boa sorte a Gilson Machado, que vinha fazendo bom trabalho como Presidente da Embratur e agora se torna novo Ministro do Turismo. Que Deus o ilumine nessa nova jornada”, escreveu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em seu perfil no Twitter, passando à frente o Diário Oficial, que, apesar de todas as especulações e notícias de bastidor sobre a queda de Marcelo Álvaro Antônio, não confirmava a saída até a noite desta quarta-feira ―assim como o próprio Ministério do Turismo. A confirmação oficial veio apenas nesta quinta-feira.

O futuro ministro do Turismo ficou conhecido popularmente por tocar sanfona ao lado de Bolsonaro durante suas lives de Facebook das quintas-feiras. Não está certo, contudo, se o posto será ocupado de forma definitiva por Machado, já que o posto, pelo que expôs a mensagem enviada pelo ministro demissionário a Ramos, estaria sendo cobiçado pelo Centrão.

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