“Fritar” o vírus. Empresa brasileira cria esterilizador capaz de eliminar o coronavírus do ar (e os aerossóis)
Produto foi projetado para ser usado em ambientes internos, como escolas, academias, restaurantes, escritórios, consultórios e hospitais
Após pressão de vários pesquisadores, a Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu, no mês passado, que possivelmente a covid-19 possa ser transmitida pelo ar. As evidências de que as micro gotículas, os chamados aerossóis, expelidas por alguém com coronavírus fiquem suspensas no ar por várias horas aumentam a preocupação com os ambientes fechados ou pouco ventilados, onde pessoas poderiam se infectar mesmo não estando próximas uma das outras. Diante da retomada gradual das atividades econômicas em meio à pandemia do coronavírus, empresas têm desenvolvido equipamentos que prometem atenuar os riscos de contaminação.
No Brasil, onde a doença já infectou mais de 3 milhões e matou mais de 100.000 pessoas, um esterilizador capaz de eliminar o coronavírus de ambientes fechados já chegou ao mercado. O processo do equipamento consiste em uma “fritura do vírus”. O aparelho SuperAr, desenvolvido e produzido pela empresa KIIR, aspira o ar ambiente, eleva sua temperatura a 380° graus na câmara de esterilização, por meio de um conversor regenerativo de calor e, em seguida, abaixa a temperatura antes de devolver o ar limpo ao ambiente. “Existe uma morte térmica do vírus. A gente chama de desnaturação do RNA do vírus, que quebra e fica inativo”, explica Gilberto Janólio, pesquisador e engenheiro responsável pela tecnologia.
A eficácia do SuperAr foi comprovada no Laboratório de Virologia do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O laudo, emitido no início do mês de julho, afirma que o equipamento reduz em 99,99% a quantidade de coronavírus em suspensão no ar. Para os testes foram utilizadas cargas virais de outro tipo de coronavírus, mas que possuem a mesma reação da SARS-CoV2, a covid-19. O aparelho, que lembra um ar condicionado portátil, tem capacidade de esterilizar 30 metros cúbicos por hora. “Numa sala fechada, para cada passada do ar no aparelho, ele elimina 50% da carga viral. Se tiver 10.000 vírus, em uma hora, passa a ser 5.000, depois de mais uma hora, 2.500 e assim por diante”, explica Janólio.
Não há, no entanto, como calcular em quanto tempo toda a carga viral de coronavírus poderia ser eliminada em um lugar infectado. “Afinal, se em um local forem entrando mais pessoas infectadas, elas vão deixando mais cargas virais, mas o tempo todo o aparelho está diminuindo a quantidade desse vírus”, diz. “Assim como o distanciamento e o uso de máscara, este equipamento é mais uma barreira para dificultar a transmissão do vírus. E pode ser usados em pequenas salas de escolas, pequenas enfermarias”, completa.
O produto nasceu do aprimoramento de outro equipamento, lançado há cerca de 20 anos pela empresa na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/IPEN-Cietec, voltado à eliminação de fungos e comercializado para bibliotecas e arquivos. “Quando começaram a sair as informações sobre a sobrevivência térmica do vírus, traçamos um gráfico e vimos que o equipamento utilizado para o mofo estava calibrado para uma temperatura acima ainda da necessária para matar o coronavírus. Então, apenas recalibramos o valor e melhoramos um pouco o sistema do esterializador”, explica o pesquisador.
Atualmente o principal nicho de utilização do produto tem sido os consultórios dentários. Além de estarem o tempo todo em contato com a boca dos pacientes, os dentistas usam brocas, o conhecido “motorzinho”, que aumentam o risco de contágio da doença. Durante um procedimento dentário, a ferramenta produz aerossóis — que são micro-partículas de ar que saem da boca do paciente e ficam suspensas no ar ou em objetos. “Se o paciente estiver infectado sem saber, é uma alta carga contaminante que pode infectar o dentista”, explica o pesquisador.
A empresa fabricou dois modelos: o M25, que pode ser usado em locais como escolas, academias e restaurantes. E o outro chamado D30, direcionado aos consultórios odontológicos e locais de maior exposição. Como diferencial, que esse último, que lembra um aspirador de pó, possui um duto para ser posicionado próximo ao paciente. “Você já aspira a carga viral da respiração, tipo um aspirador. Claro que algo pode sair, não há milagre, mas é uma barreira de proteção”, diz.
Ambos os modelos estão na mesma faixa de preço. O D-30 custa 5.880 reais e o M-25 sai por 5.620 reais. O aparelhos, segundo a empresa, podem ficar ligado 24h por dia, não apresentam riscos à saúde e foram projetados para funcionar até 20.000 horas sem manutenção.
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