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Covid-19 mata 1 de cada 100 pessoas infectadas no Brasil

Pesquisa do Ministério da Saúde com a Universidade Federal de Pelotasl (UFPel) aponta que diferença entre os dados reais e aqueles que entram nas estatísticas é de seis vezes

Trabalhadores da Vigilância Sanitária fazem operação de controle da covid-19 no centro de São Paulo, em 1 de julho.
Trabalhadores da Vigilância Sanitária fazem operação de controle da covid-19 no centro de São Paulo, em 1 de julho.Sebastiao Moreira (EFE)

No dia em que o país registrou 1.496.858 infecções pelo novo coronavírus e 61.884 mortes ocasionadas pela covid-19, o Ministério da Saúde apresentou os resultados do maior estudo epidemiológico sobre a doença já feito no mundo, realizado em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os dados apontam que, de cada cem brasileiros que pegam a doença, um vai a óbito. Isso representa uma letalidade de 1,15% no país. Com 89.397 pessoas entrevistadas e testadas em 133 cidades de todos os Estados do Brasil, trata-se do estudo epidemiológico com maior número de indivíduos avaliados no mundo, afirmam os pesquisadores.

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Evolução dos casos de coronavírus no Brasil

O estudo também põe em cifras a subnotificação da pandemia no país. De acordo com os resultados, o total de pessoas com anticorpos para o novo coronavírus é seis vezes maior que o número de casos notificados oficialmente. Perguntado pelo EL PAÍS se essa subnotificação significa que o Brasil já teria oito milhões de casos de covid-19, Pedro Hallal, professor da UFPel que apresentou os dados nesta quinta-feira, explica que não necessariamente. “Pode significar seis milhões, oito milhões ou dez milhões de casos, mas isso depende da dinâmica epidemiológica dos outros 5.437 municípios que não entraram na análise”, explicou. Hallal destacou ainda que um estudo similar realizado na Espanha detectou que, lá, essa diferença era de dez vezes.

Os dados também indicam que apenas 9% dos brasileiros que participaram da pesquisa foram assintomáticos, ou seja, não apresentaram sintomas. “Não queremos dizer que 91% das pessoas com covid-19 vão precisar de atendimento hospitalar, mas que os sintomas aparecem, e isso é uma boa notícia para detectar esses pacientes e impedir o avanço da doença”, explicou Hallal. De acordo com o estudo, um dos principais sintomas é a alteração de olfato e paladar. “Das 2.000 pessoas que testaram positivo na nossa pesquisa, mais de 60% delas tiveram essa alteração, o que nos chamou muita atenção”, comentou o professor. De acordo com ele, o estudo também mostrou que crianças são infectadas tanto quanto adultos, mas com “casos mais leves”, e que os mais pobres registram proporcionalmente mais infecções.

Infecções dobraram em um mês e meio

O estudo revelou que a prevalência da covid-19 no grupo pesquisado dobrou em apenas um mês e meio, saltando de 1,9% na primeira fase —realizada entre 14 e 21 de maio— para 3,8% na terceira fase, entre 21 e 24 de junho. Na prática, isso representou um aumento de 53% no número de casos. No mesmo período, o distanciamento social caiu de 23,1% para 18,9% no país nos locais acompanhados pela pesquisa.

“O momento de flexibilizar as medidas de isolamento é quando a curva de contágios está descendente. Isso já acontece em algumas cidades do país”, afirmou Pedro Hallal. Já o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, lembrou que a decisão sobre essas medidas cabe aos gestores locais. “O Ministério orienta que governadores e prefeitos levem em conta fatores como a curva epidemiológica, as necessidades econômicas de cada região, as características socioculturais daquela população e a capacidade hospitalar para decidir flexibilizar ou não o isolamento”, disse.

A pesquisa revelou as diferenças no avanço da pandemia entre as diferentes regiões brasileiras, principalmente com o acelerado aumento de casos no nordeste entre as fases dois e três do estudo. Cinco em cada cem nordestinos já foram infectados pelo novo coronavírus. Mas há casos como o da cidade de Sobral, na região norte do Ceará, em que 26,4% da população já teve covid-19, o que representa a maior prevalência da doença verificada em todo o Brasil pelo levantamento. A região norte, com 8% de prevalência, ainda concentra a maior parte dos casos, e a região sul, com 0,4% de prevalência, tem o menor número. “Minha hipótese é de que isso acontece porque, no começo da pandemia no país, a população da região sul aderiu melhor às medidas de distanciamento social”, afirmou Hallal.

Com três inquéritos populacionais realizados a cada duas semanas, a pesquisa foi feita com equipes do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), que realizaram visitas domiciliares em todas as regiões do Brasil, por sorteio. O trabalho enfrentou, no entanto, resistência de gestores locais que, em quase 40 cidades, impediram os pesquisadores de trabalhar. De acordo com a UFPel, eles aguardavam a autorização das prefeituras “num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos”. Devido a esse problema, a primeira fase da pesquisa contou com apenas 90 cidades.


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