Liderança indígena Guajajara é assassinada a tiros no Maranhão, a segunda em cinco meses
Zezico Rodrigues Guajajara era um dos líderes da TI Araribóia e professor. Sua morte ocorre em meio à escalada da violência na região e meses depois de o líder Paulino Guajajara ter sido assassinado a tiros em novembro
Uma liderança indígena da etnia Guajajara foi assassinada a tiros nesta terça-feira no Maranhão, segundo confirmou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Zezico Rodrigues Guajajara era um dos líderes da Terra Indígena Araribóia, diretor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru e professor há 23 anos. Seu corpo foi encontrado na estrada da Matinha, próximo à sua aldeia, Zutiwa, no município de Arame. Em nota publicada no Twitter, o governador Flávio Dino (PCdoB) lamentou a morte e garantiu que a Secretária de Segurança já entrou em contato com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF). “Reiteramos que Governo do Estado está à disposição para auxiliar governo federal na segurança a indígenas em suas terras”, afirmou. Um equipe da Polícia Civil foi enviada à região.
O assassinato de Zezico ocorre em meio à escalada de violência contra os indígena no Maranhão nos últimos meses. O líder local Paulino Guajajara, membro grupo “Guardiões da Floresta”, formado para proteger o território contra madeireiros ilegais, também foi assassinado a tiros em primeiro de novembro de 2019. Ele voltava de um dia de caça acompanhado de outra liderança, Laércio Guajajara, que tomou tiros nos braços e nas costas e conseguiu fugir do ataque. Após novas ameaças, Laércio teve de deixar a aldeia e ir morar em um local não divulgado sob orientação do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal. Com isso, Zezico se tornou a principal voz de denúncia sobre os ataques de madeireiros ilegais na região —sua aldeia era um dos principais alvos de queimadas criminosas.
De acordo com o colunista do UOL Rubens Valente, a Fundação Nacional do Índio (Funai) já havia sido notificada em janeiro que Zezico teria sido ameaçado por outros indígenas da região. Em carta assinada por ele e outras pessoas, pedia-se o apoio da Funai para que conseguissem um veículo e fossem à Polícia Federal de Imperatriz, no Maranhão, registrar um Boletim de Ocorrência. Ainda segundo Valente, o documento dizia o seguinte: “No dia 15/01/2020, um grupo de indígenas da mesma aldeia foram até a residência do sr. liderança, Zezico Rodrigues Guajajara. Os quais foram armados para cometer crimes de homicídio contra a liderança. Na ocasião um deles sacou de uma faca para tentar esfaquear um dos líderes de jovens e um jovem que tentou defender o outro. Sendo que essas ameaças já vinham sendo anunciadas há dias pelos mesmos, tanto contra o líder Zezico, como contra atuais lideranças, onde afirmam que enquanto não praticarem o assassinato não descansarão".
Outros dois indígenas da mesma etnia, Raimundo e Firmino Guajajara, também foram assassinatos no dia 7 de dezembro de 2019. O crime ocorreu no município de Jenipapo dos Vieira, Maranhão, às margens da rodovia BR-226, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, e a 506 quilômetros ao sul da capital São Luís. Na ocasião, outras quatro pessoas ficaram feridas. Outros Guajajara chegaram a bloquear a pista em protesto.
A escalada de violência contra os indígenas no Maranhão fez com que o governador Flavio Dino (PCdoB) criasse por decreto, ainda no início de novembro, a Força Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT-VIDA), “para auxiliar os órgãos federais em dificuldades e para atender emergências em terras indígenas”, segundo explicou na ocasião.
O presidente Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 afirmando que não permitiria novas reservas indígenas e, desde que assumiu, vem defendendo a exploração de recursos minerais em suas terras. Seu discurso com relação ao desmatamento e à exploração das riquezas naturais da Amazônia é visto por especialistas e ambientalistas no aumento do desmatamento e dos incêndios neste ano. A maior parte da destruição se deu justamente em terras indígenas e reservas naturais protegidas, segundo indicam os dados. Essas terras são ambicionadas por madeireiros e grileiros, movidos pelas promessas do Governo de fazer uma regularização fundiária na região, o que poderia resultar também na legalização das áreas invadidas de forma criminosa.