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Brasil declara haver contágio comunitário de coronavírus em todo o país para evitar disputa entre Estados

Mesmo com Estados ainda sem casos confirmados, ministro da Saúde mudou classificação nesta sexta. Governo não descarta impor quarentena

Duas mulheres desinfectam o vagão de um trem no Rio de Janeiro para combater o coronavírus.
Duas mulheres desinfectam o vagão de um trem no Rio de Janeiro para combater o coronavírus.RICARDO MORAES (REUTERS)

Três semanas depois de registrar o primeiro caso importado de coronavírus, o Ministério de Saúde do Brasil declarou o estado de transmissão comunitária da Covid-19 em todo o território nacional, mesmo que alguns dos Estados brasileiros ainda não tenham casos confirmados da doença. De acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira, o país tem 904 pessoas infectadas (casos confirmados) e 11 óbitos, o que equivale a uma mortalidade de 1,2%. Até a quinta-feira (19/03) eram seis as regiões com transmissão sustentada do vírus, ou seja, quando já não é mais possível identificar a origem do contágio: as cidades de Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, a região de Tubarão (no sul de Santa Catarina), além dos Estados de Pernambuco e São Paulo.

A decisão de dar um caráter nacional à transmissão da doença parece ter fundamentos mais logísticos e políticos que propriamente epidemiológicos. Antes do Ministério da Saúde anunciar a decisão, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, havia se queixado da disputa entre os Estados para fechar rodovias e impedir fluxo externo para tentar conter a doença. Segundo Mandetta, o tipo de medida pode impedir a chegada de alimentos e insumos a várias partes do país. “Então, muito possível que a gente tenha que reconhecer, em um momento precoce, (que) estamos em uma sustentação nacional, dizer que somos todo o Brasil”, disse. “Essa história de fechar o aeroporto, o estado A fecha para B, isso não pode ser descentralizado, se não vira bagunça”, afirmou. “Não podemos travar as coisas de uma hora para outra. Vamos centralizar e organizar essas questões de acordo com as transmissões dos casos e o cenário que se avizinha.”

Mandetta afirmou, no entanto, que o Governo não descarta decretar uma quarentena nacional, como fez a Argentina, para conter o avanço da pandemia no país. “Trabalhamos com todos os cenários”, disse o ministro em coletiva de imprensa, ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

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Luiz Henrique Mandetta e Jair Bolsonaro durante reunião com empresários, no Palácio do Planalto no dia 20 de março de 2020. (Isac Nobreda/PR)
Mandetta apela por isolamento para evitar colapso do sistema de saúde no final de abril
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Depois das cenas de multidões nas praias do Rio de Janeiro e de outras aglomerações em várias cidades na semana passada, incluindo manifestações estimuladas o ministro da Saúde apelou para o bom senso dos brasileiros a respeito do isolamento social. “Esse final de semana vai ser um grande teste de maturidade para a população, um grande teste de entendimento das mensagens. Acho que as pessoas estão gradativamente colaborando, e vamos ver se esta colaboração se cristaliza”, disse.

Durante o dia, em reunião com Bolsonaro, empresários e representantes da indústria, o ministro afirmou que o sistema de saúde brasileiro entrará em colapso ao final de abril, caso não sejam cumpridas as regras de distanciamento social. “Temos aí 30 dias para que a gente resista razoavelmente bem, com muitos casos, dependendo da dinâmica da sociedade. Mas, claramente, em final de abril nosso sistema entra em colapso”, disse.

Depois, questionado por jornalistas, Mandetta tentou minimizar o impacto da frase e fez questão de marcar distância da Itália, país que registra mais de 40 mil casos de Covid-19 e cuja linha de progressão do contágio se assemelha à do Brasil. “Nós temos um sistema forte, com capilaridade nacional. A Itália, que tem um sistema de primeiro mundo, suportou [a situação] por um tempo muito baixo, por ter uma população mais idosa”, disse, acrescentando que um dos Estados que “mais preocupam” no Brasil é o Rio Grande do Sul, que tem a maior faixa etária populacional.

"Os números de leitos e CTIs [Centros de Terapia Intensiva] estão sendo ampliados em todas as cidades, coisa que a Itália não teve tempo de fazer. Nosso sistema pode inflar, pode crescer, temos espaço para isso”, continuou Mandetta.

Depois do confuso pronunciamento de quinta-feira, em que Mandetta e sua equipe anunciaram que pacientes com sintomas de gripe devem ser tratados como se estivessem infectados por coronavírus e orientaram essas pessoas a procurar os postos de saúde —contrariando a recomendação anterior de isolamento domiciliar—, o Ministério da Saúde se absteve de dar informações sobre protocolos de atendimento e de realização de testes nesta sexta. Tampouco se sabe o número de casos suspeitos no país.

O Estado de São Paulo, que lidera a curva do contágio no país, divulgou seus números durante a manhã: tem 396 casos de Covid-19 e estima 9.023 casos suspeitos.









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