Argentinos estão proibidos de sair de casa até 31 de março
Com 128 casos do coronavírus, país sul-americano é o primeiro da América a ordenar a reclusão de todos os seus habitantes para lutar contra o coronavírus
A Argentina se submete a uma quarentena total. Entre 0h desta sexta-feira e a meia-noite de 31 de março, os cidadãos deverão permanecer em suas casas e limitar suas saídas à compra de alimentos e medicamentos. “É um momento excepcional”, disse o presidente Alberto Fernández ao anunciar o decreto que paralisa o país com o objetivo de “ganhar tempo para prevenir o avanço do vírus” e desacelerar o ritmo de contágios do coronavírus. No momento em que Fernández anunciava essas medidas extraordinárias, havia na Argentina 128 casos de coronavírus, a grande maioria na província de Buenos Aires, e três pessoas tinham morrido pela enfermidade que ela provoca, conhecida pela sigla Covid-19. Com cerca de 45 milhões de habitantes, o número de infectados no país é bastante inferior aos vizinhos Chile (342 casos) e Brasil (621 infectados e sete mortos).
O presidente afirmou confiar “na responsabilidade dos argentinos”, mas recordou também a irresponsabilidade coletiva de milhares de pessoas que se deslocaram para o litoral e áreas de lazer (“tem gente que não entende”, lamentou), e observou que violar a quarentena constitui uma infração prevista no Código Penal. “Seremos inflexíveis”, disse, “e pedi aos governadores que ajam com a máxima severidade”. Antes de anunciar o decreto urgente que regula o fechamento doméstico, Alberto Fernández se reuniu com todos os governadores. Alguns deles já tinham adotado medidas em dias anteriores, como o fechamento de fronteiras provinciais.
Em uma carta a todos os argentinos, publicada depois do discurso, Alberto Fernández pediu calma: “Ninguém precisa entrar em pânico. Precisamos de serenidade. Mas todos devem assumir a responsabilidade de cumprir a obrigação de se isolar”. E acrescentou: “Estamos a tempo na Argentina de evitar que esta epidemia seja incontrolável (...), será uma luta de meses e estaremos avaliando permanentemente”.
A quarentena argentina prevê diversas exceções. Permanecerão abertos os supermercados, os pequenos negócios de bairro, as farmácias e os postos de gasolina. E, obviamente, a rede sanitária funcionará a pleno ritmo, assim como os setores alimentício, farmacêutico, petroleiro e jornalístico. Será possível sair para fazer compras, mas com rapidez e respeitando as normas de higiene e distância estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde.
A urgência da pandemia deixa em relativo segundo plano outra urgência, a econômica. A Argentina vive uma crise profunda desde abril de 2018, e essa situação foi levada em conta ao estabelecer o período de quarentena: nas próximas semanas haverá vários feriados, incluindo um adendo, uma homenagem aos mortos na guerra das Malvinas, que será antecipado da data habitual, 2 de abril, para 31 de março. A ideia é paralisar a atividade o mínimo possível. “A economia vai se desacelerar e haverá problemas adicionais”, admitiu o presidente, assegurando que nos próximos dias serão adotadas novas medidas para amenizar a redução de renda dos trabalhadores autônomos e informais e a interrupção do negócio nas pequenas empresas.
A polícia patrulhará as ruas para evitar que violações da quarentena, incluindo controles permanentes nas estradas. Como na Itália, Espanha e França, os argentinos terão que justificar sua presença em espaços públicos. Em uma sociedade que não se caracteriza pelo senso de disciplina, minutos antes da fala do presidente ocorreu um momento emocionante: imitando a iniciativa popular espanhola, nas grandes cidades, especialmente em Buenos Aires, escutou-se um longo e sonoro aplauso dirigido aos trabalhadores da saúde. Nos próximos dias, porém, essas homenagens só poderão ser feitas a partir de janelas e varandas.
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