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México esfria expectativas da Argentina de formar um eixo progressista

López Obrador recebe Alberto Fernández e deixa claro que a política externa não está entre as suas prioridades

Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e do México, Andrés Manuel López Obrador, nesta segunda-feira.
Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e do México, Andrés Manuel López Obrador, nesta segunda-feira.AFP
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O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, se propôs a uma política externa que, ao menos para a plateia, agrade a todos. Sob o lema de que não quer interferir em assuntos de outros países, aproveita para dizer isso a quem quiser ouvir, seja Donald Trump, Nicolás Maduro, os governantes centro-americanos ou, o último caso, Alberto Fernández, presidente-eleito da Argentina. Mas, exceto no caso dos Estados Unidos, a quem na prática também agradou aumentando os controles migratórios, com o resto da América Latina os movimentos são minúsculos. Daí que as expectativas de Fernández de construir um grande eixo progressista na região esfriaram no decorrer desta que é sua primeira viagem ao exterior depois da vitória eleitoral de outubro.

A política externa não é uma prioridade para López Obrador, apesar dos desejos das forças progressistas latino-americanas, que ganham fôlego após alguns anos de decepções. A eleição do centro-esquerdista para o Governo mexicano, em 2018, já havia sido a primeira lufada de ar fresco, ou assim quiseram interpretar seus aliados, embora isso estivesse muito distante dos interesses do mandatário. Tampouco a atual conjuntura motivou um entusiasmo especial, por mais que alguns governantes – como o venezuelano Nicolás Maduro no fim de semana passado em Havana – tenham o desejo de abrir um novo ciclo, como o que em seu dia chegaram a formar Lula, Hugo Chávez, Néstor Kirchner, Evo Morales e Rafael Correa, sob o guarda-chuva ideológico de Fidel Castro, então ainda vivo.

“O mais importante é nos apegarmos à nossa política externa, que está definida na Constituição. Os princípios de não intervenção, autodeterminação dos povos, cooperação pacífica das controvérsias”, disse López Obrador, como um mantra, quando perguntado sobre as expectativas argentinas, durante sua entrevista coletiva matinal. “Certamente temos relações de irmandade com os povos da América Latina e o Caribe. Mas ao mesmo tempo temos uma relação econômica, de cooperação e respeito mútuo com os Estados Unidos e o Canadá, e vamos manter essa relação por razões geopolíticas, econômicas e também de amizade”, concluiu, horas antes de receber Fernández no Palácio Nacional – sem lhe dedicar tratamento de chefe de Estado, por ainda não ter tomado posse.

Justamente por isso, Fernández compareceu sozinho perante a imprensa depois de se reunir com López Obrador e com o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard. “Tivemos um encontro mais do que formidável”, comentou ele numa sala que o Governo anfitrião costuma usar para reuniões extraoficiais e conferências menores. A forma de pensar a política externa de Fernández é “muito parecida” com a de López Obrador, afirmou o argentino, que qualificou o chefe do Executivo mexicano como “um presidente muito latino-americanista”. Um dos principais resultados da reunião bilateral de segunda-feira foi potencializar a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), um organismo regional que o Governo mexicano presidirá a partir de 2020. “A integração da América Latina é central, e nisso vamos trabalhar.”

Fernández não quis entrar em detalhes sobre a postura do México no Grupo de Puebla, o centro de pensamento integrado por ex-presidentes, ex-chanceleres e políticos latino-americanos impulsionado por pessoas muito próximas a Fernández, como o chileno Marco Enríquez-Ominami, e que terá uma reunião no final desta semana em Buenos Aires. Um evento que terá a presença de Fernández e ao qual o México enviará um representante, em princípio o subsecretário Maximiliano Reyes.

O presidente-eleito disse que a intenção dos dois países era formar “canais de comunicação na América Latina que funcionem com um olhar progressista”. Seu discurso, tão regionalista como o que apresentava Néstor Kirchner em meados da década passada, não fechou as portas a outros líderes regionais com quem não compartilha ideologia. Nesse sentido, apontou que “é possível” que visite o Chile nos próximos dias.

A crise da Venezuela, por outro lado, quase não foi abordada durante a conversação, segundo Fernández. “Praticamente não tocamos no assunto”, disse, evitando confirmar a saída da Argentina do Grupo de Lima. “Estou insistindo para que a América Latina volte a se unir”, acrescentou. A proposta do presidente-eleito argentino é potencializar o recente Grupo de Puebla, que tomaria uma posição mais neutra perante a crise venezuelana. “Não queremos gerar uma referência ideológica para repudiar alguém”, apontou. “Já sabemos o que ele pensa [López Obrador] e o que eu penso do tema. Somos pessoas que valorizam a institucionalidade e a democracia.”

Esta primeira viagem de Fernández ao México procura também encontrar um aliado contra a crise econômica argentina. Para isso, conta com que o Governo de López Obrador aja como enlace com o Fundo Monetário Internacional e, de alguma forma, se torne seu fiador. “O México tem representação na direção do FMI”, recordou Fernández, “e López Obrador prometeu ajudar a Argentina em tudo o que ela necessitar”.

A passagem de Fernández pelo México inclui também encontro com o chefe do Escritório da Presidência, o empresário Alfonso Romo, e uma dezena de empresário mexicanos, entre eles, o dono do Grupo Carso, Carlos Slim. “Espero encontrar a mesma receptividade neles que encontrei em López Obrador”, afirmou. O argentino explicou que o objetivo da reunião será incentivar os investimentos em áreas como a extração de petróleo não convencional e a mineração. “A Argentina necessita dos investimentos estrangeiros”, concluiu.

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