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Chanceler Ernesto Araújo sobe tom e diz que “forças do mal” celebram eleição argentina

Bolsonaro já havia criticado a eleição do peronista Fernández e deixou de lado qualquer diplomacia para anunciar que não pretende felicitar o presidente eleito neste domingo

O presidente Jair Bolsonaro, durante visita oficial aos Emirados Árabes Unidos.
O presidente Jair Bolsonaro, durante visita oficial aos Emirados Árabes Unidos.AFP
Naiara Galarraga Gortázar

O presidente Jair Bolsonaro não ocultou seu profundo desgosto com a vitória do peronista Alberto Fernández na eleição presidencial argentina deste domingo. O ultradireitista deixou de lado qualquer diplomacia com o país vizinho, o terceiro parceiro comercial do Brasil, para anunciar que não pretende felicitar Fernández. Também culpou o eleitorado argentino por ter levado de novo a esquerda ao poder: “Lamento. Não tenho uma bola de cristal, mas acho que a Argentina escolheu mal”, declarou ele à imprensa brasileira durante visita oficial aos Emirados Árabes Unidos. Além das divergências ideológicas, para Bolsonaro foi uma afronta que, nas horas anteriores e posteriores à vitória, o argentino recordasse o ex-presidente Lula e reivindicasse sua libertação.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, foi ainda mais longe nas críticas ao dizer que "os sinais são os piores possíveis" e que "as forças do mal estão celebrando". Em seu perfil no Twitter, Araújo escreveu que "as forças da democracia estão lamentando pela Argentina, pelo Mercosul e por toda a América do Sul". "Mas o Brasil continuará inteiramente do lado da liberdade e da integração aberta", ressalvou. "A esquerda é totalmente ideológica no apoio aos regimes tirânicos da região. Mas, quando se relaciona com as democracias (das quais depende), a esquerda pede 'pragmatismo'. Curioso. 'Pragmatismo' significa sempre a direita se acomodar aos interesses da esquerda. Seremos pragmáticos na defesa dos princípios e interesses do Brasil: um Mercosul sem barreiras internas e aberto ao mundo, uma América do Sul sem ditaduras", escreveu.

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Em seu Twitter, Carlos Bolsonaro, o filho do presidente e uma espécie de responsável informal pela comunicação do Governo, também criticou a estratégia política de Maurício Macri, chamando-o de ingênuo, e reafirmou a estratégia extremista de seu pai. "[Macri] acreditou que poderia contar com a esquerda, como se existisse empatia no comunismo. Ficou em cima do muro, perdeu apoio de um lado, não conseguiu do outro, e quando decidiu descer já era tarde! Se dependesse do isentão daqui, Bolsonaro cometeria o mesmo erro!", ressaltou.

A virada à esquerda da Argentina e o retrocesso do direitista Iván Duque nas eleições municipais realizadas também neste domingo na Colômbia são más notícias para Bolsonaro, que desde sua eleição, há um ano, se tornou o máximo expoente do nacional-populismo na América Latina. O brasileiro reviu inclusive sua posição sobre o futuro do acordo União Europeia-Mercosul com uma Argentina peronista. Nesta segunda-feira, sugeriu que, se Fernández mantiver seu anúncio de não aderir ao pacto, “será preciso afastá-lo” como sócio, em vez de que saia o Brasil.

Bolsonaro se irritou muito com as referências a Lula num dia tão marcante, porque uma das alavancas que o levaram ao poder foi justamente a do antipetismo e antilulismo, que domina uma parte significativa da sociedade. “O primeiro ato de Fernández foi ‘Lula, livre’, dizendo que está injustamente preso. Isso já antecipa o que se avizinha”, queixou-se. O peronista, de fato, esforçou-se por recordar Lula, preso há mais de um ano por corrupção, durante toda a jornada eleitoral. Em seu discurso da vitória, estimulou a multidão a gritar em coro “Lula, livre”, após pedir sua libertação. Ao seu lado estava a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que será sua vice.

Horas antes, o candidato peronista já tinha reivindicado sua sintonia com Lula, que no começo deste século era a grande referência da esquerda latino-americana, e exigira sua soltura em um tuíte no qual o parabenizava pelos 74 anos completados neste domingo. Depois de qualificá-lo como “homem extraordinário injustamente preso”, escreveu: “Espero te ver logo”.

Em contraste com o presidente Mauricio Macri, que rapidamente aceitou sua derrota e convidou seu sucessor para a uma reunião, seu homólogo brasileiro anunciou que não tem a intenção de felicitar o peronista por enquanto. “Vamos esperar um tempo para ver qual é sua posição real em política. Tem que tomar posse, adotar uma posição sobre o que está ocorrendo e vamos ver que linha adota”.

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