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Revisão de resultado que dá vitória a Evo Morales põe Bolívia sob tensão

Os dados da contagem rápida, que foram interrompidos por quase um dia, descartam um desempate com Carlos Mesa. A oposição anuncia que não reconhecerá o resultado

Francesco Manetto
Um cordão policial separa militantes do governo e da oposição, nesta segunda-feira em La Paz.
Um cordão policial separa militantes do governo e da oposição, nesta segunda-feira em La Paz.Jorge Saenz (AP)
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Resultados preliminares indicam segundo turno na Bolívia
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A apuração provisória das eleições gerais na Bolívia nesta segunda-feira colocou Evo Morales à beira de uma vitória no primeiro turno. O sistema de contagem rápida, chamado TREP ou Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares, foi interrompido por quase um dia desde a noite de domingo, com quase 84% das cédulas verificadas, os dados mostraram um cenário de segunda rodada entre o presidente e seu principal adversário, o ex-presidente Carlos Mesa. Com 95% examinados, a imagem mudou e o líder do Movimento para o Socialismo (MAS) evitaria um desempate e alcançaria uma vantagem de mais de 10 pontos por apenas alguns décimos: 46,86% versus 36,72%.

Mesa já garantiu que não reconhecerá esse resultado, enquanto a contagem tradicional de votos progride lentamente, que depois das 20h locais chegava a 60% e a um empate técnico. De qualquer forma, a comunicação dos resultados resultou em uma fotografia de caos e na suspeita que desencadeou a tensão no país andino. Durante o dia, houve protestos nas principais cidades. Em La Paz, militantes do MAS e apoiadores da oposição se reuniram às portas do hotel onde está instalado o centro nacional de informática.

A missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que liderava a observação internacional nas eleições também lamentou o ocorrido. Primeiro pediu ao TSE que explicasse “por que foi interrompida a transmissão de resultados preliminares” e exigiu “que o processo de publicação dos dados do cômputo se desenvolva de maneira fluida”. Diante do ritmo da contagem, o órgão afirmou: “É crucial que esse processo seja feito com agilidade e transparência”.

A tendência dos resultados preliminares antecipava um segundo turno, previsto para 15 de dezembro. Morales, que está há quase 14 anos no poder, tinha 45,7% dos votos, bem abaixo de suas marcas anteriores, enquanto Mesa ficava com 37,8%. O clima gerado por esse anúncio era de mudança de ciclo. O país começou a vislumbrar um segundo turno de todos contra um. O líder do Movimento ao Socialismo (MAS) foi o primeiro a acalmar os ânimos em seu pronunciamento. “Vamos esperar até a apuração do último voto nacional para prosseguir e continuar com nosso processo de mudança”, disse o presidente. Morales disputou essas eleições apesar de ter perdido um referendo sobre reeleição indefinida em 2016 e após ter sido habilitado como candidato pelo mesmo tribunal encarregado de processar os votos, controlado pela situação.

Mesa, que se reuniu com a missão da OEA, convocou a imprensa e denunciou uma tentativa de manipulação. “O segundo turno é um fato objetivo”, afirmou. O ex-presidente, que governou entre 2003 e 2005 e agora lidera a plataforma Comunidade Cidadã, conclamou seus simpatizantes a protestar para pedir ao Executivo e sua máquina transparência e rapidez. “Faço um pedido à mobilização democrática (...) para que estejamos em todos os tribunais eleitorais departamentais e no TSE para impedir que se repita um 21-F”, reiterou nas redes sociais em referência à data da consulta popular que fechou em 2016 as portas à reeleição indefinida. Os resultados provisórios causaram especulações sobre alianças dos diversos dirigentes de oposição. O senador Óscar Ortiz anunciou seu apoio a Mesa e o pastor presbiteriano Chi Hyun Chung também sugeriu que lhe daria respaldo.

Passadas as 18h (19h de Brasília), a contagem tradicional de votos ainda não chegava a 60%. Mesa tinha uma pequena vantagem sobre Morales, 42,85% a 42,12% respectivamente, mas o cenário ainda era muito provisório para se fazer conjeturas. “O mais prudente é esperar a conclusão de todo o processo, que acabe a apuração oficial das urnas, pois também é preciso lembrar que em grande medida a contagem da apuração da área rural demora para chegar, há problemas de transporte. Assim que toda a contagem for enviada aos tribunais departamentais já poderemos ter uma avaliação completa do resultado”, disse o chanceler, Diego Pary, em uma entrevista coletiva.

O Governo, entretanto, também deu uma previsão geral. “Acreditamos que será um resultado provavelmente apertado em relação à decisão em primeiro ou segundo turno e é justamente por essa margem e essa dúvida que é preciso ser responsável e esperar a contagem”, disse o ministro da Comunicação, Manuel Canelas.

Entre essas dúvidas e as sombras que envolvem o processo, a Bolívia continua esperando os resultados de eleições que confirmaram a profunda divisão do país. E que preveem, aconteça o que acontecer, um aumento da polarização entre o MAS e a oposição, que parecia uma panela de pressão prestes a explodir.

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