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Casa Branca admite que condicionou verba à Ucrânia a investigação contra democratas

Chefe de Gabinete de Trump contradiz publicamente o presidente, que nega ter havido uma barganha na conversa com Zelenski que originou o processo de ‘impeachment’

Pablo Guimón
O chefe de Gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney.
O chefe de Gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney.Evan Vucci (AP)

Mick Mulvaney, chefe de Gabinete interino da Casa Branca, afirmou em uma entrevista coletiva nesta quinta-feira que o Governo Trump condicionou o desbloqueio de um pacote de ajuda militar à Ucrânia a uma investigação de Kiev por um suposto caso de corrupção dos democratas na campanha presidencial de 2016. É a primeira vez que um funcionário da Casa Branca admite em público, contradizendo o próprio Trump, que o dinheiro público dos norte-americanos foi usado para pressionar um Governo estrangeiro em benefício dos interesses políticos pessoais do presidente.

"Não houve quid pro quo [barganha]”, repete o presidente desde que um informante anônimo denunciou o conteúdo de um telefonema de julho em que Trump pedia a seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, que lhe fizesse o “favor” de investigar as atividades de seus rivais políticos no país. Essa denúncia provocou o início do atual processo de impeachment contra Donald Trump, um mecanismo extraordinário previsto na Constituição com o qual os democratas buscam sua destituição por ter cometido "delitos ou faltas graves".

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Antes do telefonema entre Trump e Zelenski, os Estados Unidos tinham congelado um pacote de 391 milhões de dólares (1,6 bilhão de reais) em ajuda militar à Ucrânia. Esse dinheiro, além de uma eventual visita à Casa Branca que o recém-eleito Zelenski esperava, teria sido usado como arma de negociação pela Administração Trump para o seu benefício político pessoal, conforme atestaram diversos diplomatas e funcionários nas últimas semanas a investigadores no Capitólio. Mas agora é a própria Casa Branca, através do seu chefe de Gabinete, que admite publicamente que essa ajuda militar a um Governo estrangeiro, aprovada pelo Congresso, havia sido condicionada em parte à sua disposição de investigar os rivais políticos do presidente, algo que Mulvaney considera “absolutamente apropriado”.

“Também mencionou [Trump] no passado a corrupção relacionada ao servidor do Comitê Nacional Democrata? Claro, não há dúvida a respeito. Mas isso é, por isso retivemos o dinheiro”, declarou Mulvaney. Ele se refere a uma desacreditada teoria que sustenta, com pouquíssimo fundamento, que um servidor de informática pirateado do Comitê Nacional Democrata (a organização que dirige o partido norte-americano) foi levado à Ucrânia para ocultar que foi Kiev, e não Moscou, que interferiu nas eleições presidenciais de 2016.

Mulvaney defendeu que pressionar países estrangeiros usando a retenção de ajudas é uma prática que se faz “o tempo todo em política externa”, e que o Governo Trump apenas pediu ao presidente ucraniano que participasse de uma revisão geral das eleições de 2016 promovida pelo Departamento de Justiça. Mas, para os democratas, trata-se de uma autêntica admissão de culpa. “Mulvaney acaba de dizer que a ajuda militar à Ucrânia foi retida fazendo-a depender das investigações da Ucrânia contra os democratas. As coisas acabam de passar de muito mal a muito pior”, tuitou Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes (deputados) e encarregado de liderar a investigação do impeachment.

A equipe jurídica do presidente Trump, segundo uma fonte interna anônima citada pela CNN, está “desconcertada” com as declarações de Mulvaney. “Não ajudou muito”, diz a fonte.

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