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Fundos que controlam 16 trilhões de dólares cobram Bolsonaro pela crise na Amazônia

Fundos financeiros de 30 países que movimentam 16 trilhões de dólares exigem que Brasil adote medidas eficazes para proteger a Amazônia em meio à recente crise ambiental

Beatriz Jucá
A Amazônia brasileira perdeu em agosto 1.698 quilômetros quadrados de sua cobertura vegetal por conta das queimadas.
A Amazônia brasileira perdeu em agosto 1.698 quilômetros quadrados de sua cobertura vegetal por conta das queimadas.Fernando Bizerra Jr (EFE)
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A crise ambiental provocada pelo aumento dos incêndios na Amazônia brasileira se refletiu com força no mercado financeiro. Nesta quarta-feira, um total de 230 fundos de investimento internacionais que juntos administram 16 trilhões de dólares (cerca de 65 trilhões de reais) –valor equivalente a cerca de nove vezes o PIB do país em 2018– publicaram um manifesto, colocando mais pressão para que o Governo brasileiro apresente medidas efetivas para proteger a floresta amazônica e deter o desmatamento. O manifesto foi divulgado no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas (ONU) vetou o discurso do presidente Jair Bolsonaro ou de um representante brasileiro na cúpula do clima da próxima semana em Nova York. A justificativa é que o Brasil não apresentou um plano concreto e inspirador de aumento do compromisso de enfrentar a mudança climática.

Em um contexto de aumento da degradação e de debilidade na fiscalização ambiental no Brasil, empresas e fundos de investimento manifestaram preocupação com o impacto financeiro que o desmatamento na Amazônia pode ter nas empresas nas quais possuem participações, o que poderia aumentar os riscos de reputação, operacionais e regulatórios.

Os 230 fundos de investimento que colocaram mais pressão no Governo Bolsonaro nesta quarta-feira pedem às empresas que “redobrem seus esforços e demonstrem um claro compromisso de eliminar o desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento”. Trata-se de um grupo grande que investe um valor em torno de nove vezes o PIB brasileiro do ano passado. Nesse sentido, seu manifesto pode ter uma força importante para alertar as empresas que são coniventes com o desmatamento.

A responsabilidade ambiental, social e de governança (conhecida sob a sigla em inglês ESG) é um critério crescente nas carteiras de fundos de investimento em todo o mundo, como reflexo dos grupos de pressão na sociedade organizados em torno da luta contra a mudança climática. Na semana passada, grupos liderados pela ESG disseram que a onda de incêndios no Brasil entrou no radar.

O Brasil registrou entre janeiro e a terceira semana de agosto um total de 71.497 focos de incêndio, o maior número do mesmo período nos últimos sete anos, e pouco mais da metade ocorreu na maior floresta tropical do mundo. “Considerando o aumento das taxas de desmatamento e os recentes incêndios na Amazônia, estamos preocupados que as empresas expostas ao possível desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento brasileiras tenham cada vez mais dificuldades para ter acesso aos mercados internacionais”, diz a nota conjunta dos 230 fundos de investimento.

Eles se juntam a mais empresas e outros fundos de investimento que já tinham reagido nas últimas semanas contra a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro. O presidente minimizou a mudança climática e o desmatamento ilegal, assim como rejeitou as críticas de países como França e Alemanha. Sem um plano ambicioso para enfrentar a mudança climática, o presidente nem sequer poderá discursar na cúpula da ONU na próxima semana. A Organização havia solicitado aos países que apresentassem um plano com seus compromissos climáticos e selecionou os 63 que tinham os discursos mais inspiradores. O Brasil ficou fora dessa lista, assim como os Estados Unidos e outros países.

A crise ambiental brasileira se tornou um golpe na imagem internacional do país. Há pouco menos de duas semanas, a gigante da moda H&M anunciou a suspensão, com efeito imediato, da compra de couro brasileiro. Alegou “a conexão dos graves incêndios da Amazônia com a pecuária”. A decisão, segundo a empresa, ficará em vigor “até que existam sistemas de controle confiáveis de que o couro não contribui para os danos ambientais na Amazônia”.

O Brasil sofre uma campanha de boicote aos seus produtos, promovida por empresas internacionais que têm uma clientela cada vez mais preocupada com a mudança climática. Além da H&M, as empresas VFcorp, Vans e The North Face também anunciaram que deixariam de comprar couro brasileiro.

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