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PIB surpreende, avança 0,4% no segundo trimestre e Brasil escapa da recessão técnica

País tem retomada tímida de indicadores de investimento das empresas e consumo das famílias. Resultado foi puxado pelos ganhos da indústria e dos serviços

Ivan Bueno/ APPA
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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre em relação ao três primeiros meses deste ano, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço da atividade, que veio acima das principais projeções, fez com que país escapasse da recessão técnica, quando a economia deixa de crescer por dois trimestres consecutivos, já que entre janeiro e março, o Brasil registrou um recuo de 0,2%.

O resultado foi puxado, principalmente, pelos ganhos da indústria (0,7%) e dos serviços (0,3%). Já a agropecuária caiu 0,4%. O crescimento na indústria foi influenciado pela expansão das indústrias de transformação (2%) e construção (1,9%). Já as extrativas recuaram (-3.8%) no período. Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre totalizou 1,78 trilhão de reais.

Mesmo com uma agenda de reformas em andamento, um cenário de inflação fraca e juros em uma mínima histórica de 6%,o desemprego ainda é um entrave e permanece elevado - atingindo mais de 12 milhões de pessoas, o que restringe os gastos dos brasileiros. Segundo o IBGE, o consumo das famílias avançou apenas 0,3%.

Já o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) - que inclui os recursos em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação- se destacou com um aumento de 3,2%, impulsionado principalmente pela construção. Foi o melhor resultado desde o mesmo período de 2013, quando ele cresceu 5,8%. No segundo trimestre de 2019, a taxa de investimento foi de 15,9% do PIB, acima da observada no mesmo período de 2018 (15,3%).

A construção civil responde por cerca de metade do investimento no país e o setor finalmente apresentou resultado positivo. Segundo o IBGE, a atividade  que avançou 1,9% em relação ao trimestre anterior, interrompeu uma série de 20 trimestre consecutivos de queda. A melhora do setor foi impulsionada principalmente pelo mercado imobiliário e não por obras de infraestrutura.

Na avaliação do economista André Perfeito, da corretora Necton, o avanço do PIB maior do que o projetado pelo mercado - que apontavam para alta de 0.2% - "é uma surpresa extremamente" positiva e irá forçar revisões em nossas projeções.

O desempenho do PIB repercutiu positivamente na Bolsa de Valores de São Paulo na manhã desta quinta-feira. O Ibovespa opera em alta seguindo também as bolsas internacionais. Às 11h50 ( horário de Brasília), o índice avançava 0,73%, a 99.041 pontos.

Economia ainda patina

Apesar do avanço no segundo trimestre, a economia brasileira ainda patina e não conseguiu se recuperar da recessão de 2015 e 2016, quando a atividade somou uma queda de 8%. A retomada tem sido uma das maias lentas das últimas décadas. Após sair oficialmente da recessão há dois anos, o país cresceu apenas 1,1% em 2017 e repetiu o valor no ano passado. Para 2019, as projeções do mercado são de um avanço de cerca de 0,8%, um resultado ainda mais fraco que os dois últimos anos.

“Não dá para afirmar que há recuperação, precisamos de um período maior de análise”, afirmou a gerente de contas trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio, ao ser questionada por jornalistas se o resultado indica uma retomada. De acordo com Dionísio, com a recuperação lenta e gradual, a economia recuperou até o momento apenas 3,7% das perdas registradas durante a recessão até o 4º trimestre de 2016.

Embora haja perspectivas positivas para o futuro da economia, como o histórico acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, o país ainda é suscetível às intempéries do ambiente político e do exterior. Enquanto o cenário global se complica, com o acirramento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e os temores de uma recessão mundial avança, a crise ambiental desencadeada pelo aumento das queimadas na Amazônia e pela reação tardia do Governo de Jair Bolsonaro já respingam na economia. Pelo menos dezoito marcas brasileiras confirmaram que suspenderão o uso do couro brasileiro até que seja esclarecida a origem dos produtos.

Além disso, a já debilitada economia Argentina, o parceiro comercial mais importante do Brasil na região, passa por uma nova turbulência após as primárias revelarem o favoritismo de Alberto Fernández, nas eleições presidenciais. O país vizinho apelou ao FMI e credores por mais tempo para pagar a dívida. A notícia deve ter reflexo no mercado brasileiro.

Setor externo

No segundo trimestre, as exportações registraram desempenho negativo. No período, as vendas do Brasil para outros países caíram 1,6%, em relação aos três primeiros meses do ano. A queda foi maior do que a projetada pelas consultorias. Já as importações de Bens e Serviços cresceram 1,0% em relação ao primeiro trimestre de 2019.

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