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PIB cai 0,2% no primeiro trimestre e país flerta com recessão técnica

Este foi o primeiro resultado negativo desde o quarto trimestre de 2016 e foi puxado principalmente por recuos da indústria (-0,7%) e agropecuária (-0,5%)

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,2% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2018, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com igual período de 2018, o PIB cresceu 0,5%. O resultado coloca o país na fronteira de uma recessão técnica, um jargão utilizado por economistas para explicar quando a economia deixa de crescer por dois trimestres consecutivos, o que põe a política econômica do Governo Bolsonaro em alerta.

Esta foi a primeira queda no crescimento desde o quarto trimestre de 2016 (-2,3%) e foi puxada, em grande parte, pelos recuos da indústria (-0,7%) e agropecuária (-0,5%). A forte queda na indústria extrativa (-6,3%) também teve um grande peso no resultado. “O incidente de Brumadinho e o consequente estado de alerta de outros sítios de mineração afetaram todo o setor”, informou em nota a gerente de contas nacionais do IBGE, Claudia Dionísio.

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As indústrias de transformação (-0,5%) e de construção (-2,0%) também afetaram os serviços, que variaram 0,2% em relação ao trimestre anterior. Dois grupos de atividades de peso no setor ficaram negativos em comparação com o quarto trimestre de 2018: comércio (-0,1%) e transportes e armazenagem (-0,6%). Em valores correntes, o PIB totalizou 1.714 trilhões de reais no primeiro trimestre. O consumo do governo teve alta de 0,4% no período em relação ao quarto trimestre de 2018, e variação de 0,1% em relação ao primeiro trimestre de 2018.

Fantasma da recessão

O fantasma da recessão já ronda o Brasil. O último trimestre de 2018 fechou com um crescimento de 0,1% em comparação com o trimestre anterior. Não houve revisão do resultado do quarto trimestre, o que afastou a entrada imediata em recessão técnica. Mas somado ao resultado pífio de 2018 está a dificuldade do Governo de convencer o Congresso em apostar em sua principal bandeira, a reforma da Previdência, que promete animar a economia no longo prazo. No curto prazo, no entanto, medidas como o contingenciamento de recursos federais para implementar o teto dos gastos não têm empolgado.

O resultado não surpreendeu, pois já estava dentro das expectativas do mercado. Mas alguns sinais preocupam os economistas. Os investimentos das empresas, que incluem compras de maquinários e projetos de expansão, tiveram uma redução de 1,7% em relação ao quarto trimestre de 2018. Este é o segundo trimestre em que as empresas apresentam retração nos investimentos. "Isso indica que os juros baixos não estão encontrando aderência na realidade e o otimismo empresarial com o Governo não se traduz em investimentos", explica André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Em relação ao primeiro trimestre de 2018, no entanto, os investimentos das empresas tiveram alta de 0,9%. A taxa de investimento foi de 15,5% do PIB, acima da observado no mesmo período de 2018 (15,2%).

João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper, também defende que o investimento físico das empresas é a variável mais crítica. “Ele é medíocre e vem caindo nos últimos anos na proporção do PIB, porque falta confiança no futuro”. Mascolo explica que os empresários não investem em maquinário e contratações quando ainda estão inseguros. “Quando se compra equipamento não tem como se arrepender, como nos investimentos em bolsa de valores. O empresário acaba com capacidade ociosa ou tendo que se desfazer de equipamentos na bacia das almas.”

Consumo das famílias

O consumo das famílias teve um papel importante para que o resultado do trimestre não fosse pior, com leve melhora de 0,3% em relação ao trimestre anterior. Esta é a nona alta seguida neste indicador, que representa 64,3% do PIB. Em relação ao primeiro trimestre de 2018, o consumo das famílias cresceu 1,3%. O IBGE atribui a alta ao "bom comportamento do crédito para pessoa física e da massa salarial", apesar do desemprego, que atinge 13 milhões de brasileiros. Mesmo consistente, a performance do consumo não anima a todos. "Este PIB mostra que estamos no fio da navalha, o empresário não investe e o consumidor não toma crédito para comprar porque não têm perspectiva no futuro", alerta Mascolo.

A reforma da Previdência ainda é a maior aposta dos economistas para tirar o país da inércia. “Do ponto de vista de resultado fiscal, a reforma vai demorar um pouco para ter resultado. E no curto prazo, não faz diferença no déficit público. O positivo é a sinalização, o que pode ajudar na aprovação de outras reformas, como a tributária”, diz Mascolo.

Projeção para 2019

O mercado financeiro vem revisando progressivamente a projeção de crescimento do Brasil para 2019. Segundo resultado mais recente do boletim Focus, uma publicação semanal elaborada pelo Banco Central com base nas perspectivas das instituições financeiras, a estimativa é que o PIB tenha alta de 1,23% neste ano. Para 2020, a projeção é de alta de 2,50%. "Mantemos nossa projeção de PIB em 0,9% este ano, mas devemos rever para baixo o valor nos próximos dias", afirma André Perfeito, da Necton.

Mascolo lembra que para alcançar um crescimento na faixa de 1,23%, o país não pode ter dois trimestres negativos: "A sinalização [de melhoria econômica] ainda precisa ser mais firme. Tomara que com esse pacto [entre os Poderes] as coisas melhorem."

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