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Procuradoria de Paris não sabe a causa do incêndio de Notre-Dame, 72 dias após tragédia

O Ministério Público, que descarta intenção criminosa, encerra sua investigação e cita negligência e falha elétrica como possíveis causas

Silvia Ayuso
Trabalho de combate ao incêndio que destruiu o teto da catedral de Notre-Dame em abril.
Trabalho de combate ao incêndio que destruiu o teto da catedral de Notre-Dame em abril.BERTRAND GUAY (AFP)
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Exceto pelo fato de que, como se suspeitava desde o início, não houve intenção criminosa, pouco se sabe sobre o incêndio que destruiu grande parte do teto de Notre-Dame, apesar de terem se passado mais de dois meses da catástrofe que quase acaba com a emblemática catedral gótica de Paris. Depois de mais de 70 dias de investigações, um arquivo de 1.125 folhas, uma centena de interrogatórios e “numerosas constatações”, o Ministério Público de Paris concluiu a investigação preliminar quase com as mesmas perguntas com as quais a abrira, pouco depois da catástrofe de 15 de abril. “As investigações realizadas não permitem, hoje, determinar as causas do incêndio”, disse em um comunicado o procurador de Paris, Rémy Heitz.

O certo é que, prossegue ele, entre as hipótese mais valorizadas pelos investigadores está, como relataram alguns veículos de comunicação franceses poucos dias depois do incêndio, a possibilidade de que o fogo tenha começado por uma “falha no sistema elétrico” ou por “um cigarro mal apagado”. No entanto, ressalta Heitz, no momento “não é possível privilegiar nenhuma” dessas pistas.

Uma semana depois do incêndio, o semanário satírico Le Canard Enchaîné revelou que os investigadores tinham encontrado sete bitucas perto dos restos do andaime que tinha sido instalado para as obras de recuperação da catedral. Pouco depois, um porta-voz da empresa que montou os andaimes confirmou que alguns dos trabalhadores tinham “violado a proibição de fumar de vez em quando”, embora tenha descartado a hipótese de que um cigarro pudesse ter provocado um incêndio tão grande. A publicação também falava, já no final de abril, da possibilidade de um “curto-circuito” como outra das pistas que eram seguidas, já que havia cabos que passavam entre as vigas para fazer com que os sinos da catedral tocassem, embora isso também fosse proibido, já que o teto — que ficou destruído — era feito inteiramente de madeira centenária.

As autoridades eclesiásticas também admitiram alguns erros humanos que fizeram com que se descobrisse, mais tarde, a origem do incêndio: o vigilante encarregado do sistema de segurança estava fazendo um turno duplo porque seu substituto não se apresentou. Além disso, era novo e não soube identificar bem os códigos do alarme, por isso não foi localizado rapidamente o foco do incêndio, que provocou o esvaziamento da catedral depois das 18h daquela segunda-feira de Páscoa, quando estava sendo celebrada uma missa.

Os bombeiros — mais de 400 acabariam trabalhando até altas horas da madrugada — chegaram pouco antes das 19h, mas àquela altura o fogo já tinha se espalhado por quase todo o telhado, cujo desabamento acabaria provocando, além da queda de uma torre da catedral e buracos na abóbada, vários danos na nave. Em meados de junho, o ministro da Cultura, Franck Riester, advertiu que Notre-Dame continua em um “estado frágil” e que ainda não se podia descartar um eventual desmoronamento. Apesar disso, o arcebispo de Paris, Michel Aupetit, celebrou uma missa reduzida e em meio a fortes medidas de segurança, como o uso obrigatório de capacetes, em uma capela lateral da catedral em 15 de junho.

Diante da falta de conclusões, a procuradoria anunciou o início de “novas investigações, mais profundas”, como parte de um novo processo judicial que acaba de ser aberto por “destruições involuntárias em um incêndio por violação manifestamente deliberada das obrigações de prudência ou segurança impostas pela lei ou pelo regulamento”. A investigação estará a cargo de três juízes de instrução e foi aberta contra “X”, fórmula usada na lei francesa para designar um suposto culpado cuja identidade é desconhecida.

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