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MP vê indícios de que Flávio Bolsonaro lavou dinheiro ao comprar 19 imóveis por 9 milhões

Revista 'Veja' teve acesso a documento sigiloso em que procuradores apontam que filho do presidente aparece como suspeito de encobrir ganhos ilícitos quando era deputado no Rio

Flávio e Jair Bolsonaro, no dia 6 de maio em cerimônia no colégio militar do Rio.
Flávio e Jair Bolsonaro, no dia 6 de maio em cerimônia no colégio militar do Rio.RICARDO MORAES (REUTERS)
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O Ministério Público do Rio de Janeiro vê indícios de que o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, comprou e vendeu imóveis para lavar dinheiro, segundo informou a revista Veja nesta quarta-feira. Entre 2010 e 2017, quando ainda era deputado estadual, Flávio investiu 9,425 milhões de reais na compra de 19 imóveis, entre salas e apartamentos, e lucrou 3,089 milhões nessas transações imobiliárias. Em documento sigiloso obtido pela revista, a promotoria, que conseguiu na Justiça a quebra do sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas relacionadas ao senador, identificou "suspeitas de subfaturamento nas compras e superfaturamento nas vendas" dos imóveis. Para o MP, a fraude pode ter ocorrido para "simular ganhos de capital fictícios" de modo a encobrir "o enriquecimento ilícito decorrente dos desvios dos recursos" da Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ).

As operações imobiliárias de Flávio Bolsonaro foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo em janeiro do ano passado, antes das eleições. Agora, o MP diz que essas movimentações indicam que o gabinete do então deputado estadual cometeu os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra de sigilos bancário e fiscal de Flávio em 24 de abril. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga a suspeita de que o filho do presidente cobrava a devolução de parte do salário dos funcionários, entre eles o desaparecido Fabrício Queiroz, prática popularmente conhecida como "rachadinha" ou "Rachid". O senador, que tentou, sem sucesso, barrar a investigação no Supremo Tribunal Federal reivindicando foro privilegiado.

Os promotores descrevem as valorizações excessivas que os imóveis comprados pelo filho do presidente tiveram em tão pouco tempo. Por exemplo, ele comprou no dia 27 de dezembro de 2012 um apartamento em Copacabana, na avenida Prado Junior, por 140.000 reais. Em fevereiro de 2014, 15 meses depois, vendeu por 550.000 reais, obtendo assim um lucro de 292%. Outro exemplo: em novembro de 2012, Flávio comprou outro apartamento em Copacabana, na rua Barata Ribeiro, por 170.000 reais. Um ano depois, vendeu por 573.000, obtendo um lucro de 237%. Acontece que nesse mesmo período, a valorização dos imóveis no bairro foi de 11%, segundo o índice Fipezap. Os promotores apontam que os valores declarados para a compra eram inferiores aos do mercado, enquanto que os de venda eram superiores.

Entre os imóveis na zona sul do Rio há também um apartamento em Laranjeiras que, em apenas oito meses, teve uma valorização excessiva. Os procuradores questionam a afirmação do senador de que a negociação teria sido feita em dinheiro vivo, o que explicaria depósitos parcelados em sua conta corrente que somavam 96.000 reais.

Por fim, o MP identificou que, entre dezembro de 2008 e setembro de 2010, o filho do presidente adquiriu dez salas comerciais na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense, por 2,662 milhões de reais. Em outubro de 2010, todos foram vendidos para a empresa MCA Exportação e Participações por 3,167 milhões de reais. O comprador tem, entre os sócios, a Listel S.A., sediada no Panamá, um paraíso fiscal. Os procuradores ressaltam que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enxerga “sérios indícios” de lavagem de dinheiro “a realização de operações imobiliárias envolvendo pessoas jurídicas cujos sócios mantenham domicílio em países com tributação favorecida”.

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