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Josu Ternera, histórico dirigente do ETA, é preso na França

Foragido havia 17 anos, terrorista deve cumprir pena em prisão francesa ou ser entregue à Espanha

José Antonio Urrutikoetxea, 'Josu Ternera', em um ato político no Sodupe (Vizcaya) em 6 de maio de 2001, quando era candidato do partido Euskal Herritarrok na província de Vizcaya
José Antonio Urrutikoetxea, 'Josu Ternera', em um ato político no Sodupe (Vizcaya) em 6 de maio de 2001, quando era candidato do partido Euskal Herritarrok na província de VizcayaPRADIP J. PHANSE

José Antonio Urrutikoetxea, mais conhecido como Josu Ternera, foi detido nesta quinta-feira por volta das 7h (horário local, 2h em Brasília) no estacionamento de um hospital da localidade de Sallanches, nos Alpes franceses. A detenção ocorreu quando ele se dirigia ao centro sanitário para ser tratado de um câncer diagnosticado há alguns anos, detalham as fontes consultadas pelo EL PAÍS. O ex-chefe político do ETA, de 68 anos, estava foragido havia 17 anos. A França expediu mandado de prisão contra ele para que cumpra no país uma pena de oito anos por ligação com grupo terrorista, proferida em 1º de junho do ano passado por um tribunal correcional de Paris, segundo fontes judiciais. Ele será diretamente levado a uma penitenciária francesa.

A operação, realizada pela DGSI (o serviço de inteligência francês) e pela Guarda Civil espanhola, foi batizada de Operação Infância Roubada, em alusão à morte de crianças num alojamento militar de Zaragoza, um atentado de 1987 pelo qual as autoridades espanholas o buscam desde 2002, e no qual foram assassinadas 11 pessoas, sendo 5 delas com idades entre 3 e 12 anos. A Audiência Nacional espanhola mantém vigente uma ordem internacional de detenção (OID) e uma ordem europeia de detenção pelo atentado de Zaragoza, segundo fontes do Ministério de Interior da Espanha. Além disso, os tribunais centrais de instrução 1, 2, 3 e 5 têm quatro precatórias em vigor. A Justiça o reclama para julgá-lo por crimes contra a humanidade. Entre outras ações, Josu Ternera está sendo processado na Espanha – à espera de julgamento – por crimes contra a humanidade desde outubro de 2015, em um processo no qual são réus também os ex-dirigentes do ETA Garikoitz Aspiazu (Txeroki), Mikel Karrera (Ata), Aitzol Iriondo e Aitor Elizaran.

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O ministro do Interior do Governo interino da Espanha, Fernando Grande-Marlaska, elogiou "o caráter simbólico" da detenção, que qualificou como uma "vitória do Estado de direito". Grande-Marlaska reconheceu que a "entrega material" de Ternera à Justiça espanhola pode ser adiada até que ele cumpra sua pena na França, mas acrescentou que existem outras possibilidades, como que as autoridades judiciais francesas o entreguem transitoriamente a Espanha para ser julgado na Audiência Nacional e que depois retorne à França, ou que solicite cumprir sua pena em uma prisão espanhola.

O terrorista vivia perto da localidade de Saint Gervais les Bains, em uma zona muito procurada para a prática de esportes de inverno, segundo a Guarda Civil, que destaca em um comunicado a "escassa distância" de lá até a fronteira com a Suíça e a Itália. Há dois anos, ele foi visto no sul da França, embora, segundo fontes policiais, sua captura tenha sido frustrada.

O histórico dirigente terrorista militou por meio século na organização separatista basca e desempenhou praticamente todas as funções orgânicas e estratégicas no grupo. Foi um dos símbolos e cabeças do ETA e seguiu uma vida paralela às principais ações protagonizadas pelos terroristas.

Estava em paradeiro desconhecido desde 2002, quando o Tribunal Supremo da Espanha o intimou a depor sobre sua participação no atentado do alojamento militar de Zaragoza. Ternera, que na época era deputado regional pelo partido Euskal Herritarrok, fugiu e retomou a vida na clandestinidade, o que não o impediu de participar das conversações com o Governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero em 2006, quando havia uma guerra fratricida pelo poder interno do ETA, afinal vencida pelo setor mais duro, encabeçado por Javier López Peña (Thierry) e Garikoitz Azpiazu Urbina (Txeroki). Ternera foi afastado, embora a ascendência que tinha na organização tenha voltado a lhe dar o protagonismo no dia em que o grupo anunciou o fim definitivo da luta armada, em 2011.

Depois, Ternera foi o encarregado de dar voz à declaração de dissolução e desmantelamento do ETA em maio de 2018. Embora sua busca fosse um "trabalho permanente", a Guarda Civil afirma que os esforços se intensificaram a partir deste último comunicado.

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