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A violenta história do ETA, em números

Alguns dados para entender e lembrar a história do grupo, que entregou suas armas 58 anos após sua fundação

Uma pintada de ETA em Bayona.Foto: reuters_live | Vídeo: BOB EDME AP | Reuters-Quality

O ETA admitiu neste sábado sua derrota diante das instituições democráticas, com a entrega em Bayona, na França, por meio de intermediários, das armas que ainda tinham sob controle. Desde sua fundação, em julho de 1959, foram 52 anos até que, em outubro de 2011, o grupo declarou o fim de suas atividades armadas - na primeira vez que assumiu seu fracasso -, e 58 anos até hoje. Anos de dor e maldade que deixam para trás dados para recordarmos.

Não existe um número exato de assassinatos cometidos pelo ETA e grupos simpatizantes, como os Comandos Autonomos: são 955, segundo a Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT); 867, de acordo com um informe do Ararteko (Defensoria Pública basca) de atenção às vítimas; 864 para o escritório de assistência às vítimas da Audiência Nacional; 858 para o Centro Memorial das Vítimas do Terrorismo; 853 de acordo com o Ministério do Interior; 845 segundo um estudo do Instituto de História Social Valentín de Foronda, da UPV; e 837 para o Governo basco. As discrepâncias existem porque há órgãos que atribuem ao grupo determinados crimes (a AVT é a única, por exemplo, que culpa o ETA pelo incêndio de 1979 no hotel Corona de Aragón, de Zaragoza, com 83 mortos).

Se esmiuçamos os dados, também há dados diferentes de acordo com a fonte. Bastam dois: de todos esses crimes, 802 foram cometidos após a morte de Franco, em 1975. Em 1980, o ano mais sangrento, o grupo cometeu 92 assassinatos, um a cada quatro dias.

O primeiro assassinato indubitavelmente do ETA foi o do policial civil José Pardines, em 7 de junho de 1968, em Billabona (Gipuzkoa). E a última vez que o grupo matou alguém foi em 16 de março de 2010, quando pela primeira vez matou um policial francês, Jean-Serge Nèrin, em um tiroteio. O último atentado com vítimas na Espanha aconteceu em Calvià (Mallorca) em 30 de julho de 2009: uma bomba matou os policiais civis Carlos Sáenz de Tejada e Diego Salvá.

Um documento do Ararteko, de junho de 2009, aponta para o número de 16 mil feridos. E o número de pessoas ameaçadas chegou a 42 mil.

No total, foram indenizadas 3.421 vítimas, incluindo as de kale borroka (ataques de vandalismo de partidários do ETA nas ruas). A quantidade global de indenizações, segundo a UPV, superam os 395,6 milhões de euros (aproximadamente R$ 1,3 bilhão).

O número de atentados gira em torno de 3.600, de acordo com um relatório do Governo basco de 2013. O mais grave foi cometido no supermercado Hipercor, em Barcelona, no dia 19 de junho de 1987, com 21 mortos e 45 feridos. As ações de kale borroka ("briga de rua", em basco) superam as 4.500.

A Audiência Nacional espanhola elaborou, em 2011, um relatório sobre crimes sem resolução: havia 349 assassinatos sem autor conhecido judicialmente, cometidos entre 1978 (depois da morte de Franco e da anistia) e 2009, em 271 inquéritos. Os números se mantêm até hoje. Quase a metade deles já prescreveu. Com esses dados, o Observatório contra a Impunidade apresentou naquele mesmo ano um relatório que colocava o número de assassinatos sem condenação em 314.

Entre 1970 e 1997, a organização levou a cabo 86 sequestros, que valeram 38,5 milhões de euros (cerca de R$ 130 milhões) em resgates, de acordo com estudos dos professores Francisco Llera e Rafael Leonisio. Os dois sequestros mais conhecidos (o mais longo, de José Antonio Ortega Lara; e o mais dramático, de Miguel Ángel Blanco), não tiveram uma motivação econômica, mas sim de simples chantagem política.

Cerca de 10 mil pessoas, sobretudo empresários e trabalhadores, sofreram extorsão por meio do imposto revolucionário, embora só existam dados confiáveis desde 1993, segundo apontam os autores de Missivas del terror, o estudo mais detalhado a respeito.

A extorsão deu ao grupo um rendimento, em cifras de 2002, de 3,8 milhões de euros (cerca de R$ 12,5 milhões) anuais entre 1993 e o 2002, e de 1,9 milhões (cerca de R$ 6,25 milhões) anuais de 2003 a 2008, de acordo com o professor Mikel Buesa.

A análise macroeconômica mais rigorosa sobre o impacto do terrorismo na economia basca foi realizada em 2003 pelos professores Alberto Abadie e Javier Gardeazabal. Eles concluem que, depois da explosão de violência, o PIB per capita do País Basco caiu cerca de 10 pontos percentuais se comparado com outras regiões sem terrorismo.

O ETA teve, ao longo de sua história, cerca de 3.800 militantes. Desde 1961, foram 3.300 presos. Atualmente são 343, segundo a Etxerrat, associação que agrupa familiares de reclusos (265 na Espanha, 75 em prisões francesas e três pendentes de extradição para Reino Unido, Portugal e Suíça).

Cerca de 200 comandos foram desarticulados desde que, em 1973, os dois primeiros caíram. Atualmente, o ETA tem em torno de 20 terroristas ativos, apenas.

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