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O obscuro e desconhecido arsenal do ETA

As forças de segurança especulam que os terroristas conservam sob seu controle ao menos duas centenas de pistolas e cerca de 5.000 quilos de explosivos O grupo dedicou os dois últimos anos a localizar e unificar os arsenais que conhecia

Dois policiais franceses saem de um zulo próximo a Montpellier.
Dois policiais franceses saem de um zulo próximo a Montpellier.efe

O ETA precisou de onze comunicados para anunciar seu compromisso de inutilizar “até seu último arsenal”. Desde que o grupo anunciou que deixaria de matar, em 20 de outubro de 2011, os terroristas que ficavam livres se dedicaram a fazer inventários dos esconderijos e do armamento que ainda conservavam para colocá-los em segurança. E não foi fácil: ninguém, nem a própria organização –com cerca de meia centena de membros em liberdade-, sabe que material operativo resta.

Durante os dois últimos anos, o ETA fez um balanço de seus arsenais e os unificou. Mas só pôde chegar a um limitado número de esconderijos de armas e explosivos, já que, segundo todos os policiais especialistas no assunto, nem o próprio grupo sabe quanto material mantém nem onde está grande parte dele.

As forças de segurança especulam que os terroristas conservem pelo menos menos cerca de duas centenas de pistolas e 5.000 quilos de explosivo. Mas é um cálculo “a olho, com certeza”, confessa um investigador.

Os policiais concordam que ETA reuniu seu arsenal e o colocou em mãos de um reduzido número de terroristas (quatro, dois deles protagonistas do vídeo do desarmamento). As pistolas remanescentes de um roubo de armas perpetrado pelo grupo no dia 26 de outubro de 2006 em Vauvert, próximo a Nimes (França), estão sob sua custódia: 200 Smith & Wesson (pistolas e revólveres) e outras 140 automáticas de várias marcas e quatro rifles.

O quarteto também possui mais de três toneladas de explosivos caseiros, mais uma quantidade sem determinar de explosivo industrial: pentrita, algo de dinamite (Titadyne, sabem onde está), cordão detonante, subfuzis Uzi, granadas Mekar…

Mas ninguém além dos etarras que atualmente cuidam disso sabe, coincidem fontes antiterroristas da Guarda civil e da polícia. Estas também estão de acordo em que existem vários esconderijos fora de controle do grupo, outros com o material podre e oxidado e algum mais que surpreenderia ao próprio ETA.

Onde estão as 112 pistolas que o grupo roubou da Ertzaintza (polícia basca) em 1983? E as armas de 500.000 euros que José Javier Arizkuren, Kantauri comprou na Bósnia, na mesma operação em que adquiriu dois mísseis terra-ar Stela Sam-7 para tentar derrubar o avião de José María Aznar? E os 5.000 quilos de Goma-2 do roubo de sete toneladas do barril de pólvora de Soto de la Marina (Cantábria) em 1980, que ainda não foram localizados?

A organização foi durante anos muito organizada com suas armas. Existiam três grandes arsenais (Z-40, Chernobil… ou o de Sokoa), geralmente situados em granjas ou em casas, perfeitamente ordenados e listados em inventário. Costumavam ser cuidados por uma família. Um membro do grupo cuidava da contabilidade de compra, entregas, existências… Nada se movia sem que o contador ou o encarregado da nota de entrega não soubessem. Isso foi o que, em 11 de março de 2004, dia do ataque terrorista em Atocha, estação central de Madri, levou José Félix Esparza Luri, chefe da logística etarra a exclamar: “Mas quem foi? Ninguém me pediu material para Madrid!”. O controle era total (“Tranquilo, não fomos nós”, respondeu a Esparza Luri, seu interlocutor telefônico).

No entanto, depois da prisão de Esparza Luri e, posteriormente, de Mikel Antza (e com eles dois interessantes arsenais), o ETA decidiu dispersar suas armas em dezenas de esconderijos e fazer mudanças (como a Portugal, onde uma casa de Óbidos, próximo a Lisboa, foi descoberta em 2010 como um escritório e depósito de armas).

A criação de compartimentos à prova d'água para evitar que as armas estragassem ao cair em riachos e o próprio secretismo da banda fizeram com que o arsenal se perdesse em esconderijos para sempre. Para eles e para o controle policial. Nada novo, porque as perdas de material por secretismo e outros motivos fazem parte da história do ETA. Onde estão escondidas as velhas pistolas FN, Star que eram a habitual da banda? E os Cetme ou fuzis antigos do Exército espanhol? Os últimos 50 fuzis desta leva (com a que os milhares de homens espanhóis usaram durante o serviço militar) foram encontrados em 2005.

Os golpes da polícia e da Guarda civil entre 2009 e 2011 –foram localizados mais de vinte esconderijos- levou enormes quantidades de material do ETA e, sobretudo, deixou uma dúvida à nata da organização: quais são os esconderijos que as forças de segurança têm localizados? Dos esconderijos queimados (que acreditam que estavam sendo vigiados) nem se aproximaram. E a comissão de verificação, que reclamou das dificuldades que têm ou tiveram para entrar nos esconderijos.

Um especialista em antiterrorismo caçoava que talvez teriam que fazer uma assembleia na cadeia com os antigos chefes logísticos e militares para localizar tudo, as armas e explosivos que sobraram.

Agora falando sério, os especialistas advertem que não se deve cair no que denominam “o joguinho das armas do ETA”. “As armas se entregam mas outras iguais podem ser compradas. É uma manobra de distração. A chave é a dissolução, mas não vão fazer porque ninguém quer falar do que é crucial para eles: os presos”.

Na quinta-feira passada, o diretor da Polícia disse no Senado que ainda há aproximadamente cinquenta membros do ETA  escondidos em diversos países e a Justiça espanhola pede sua extradição. Cosidó insistiu que a luta contra o grupo terrorista “não tem fronteira” e assegurou que a Polícia “irá atrás deles” para esclarecer os atentados pendentes.

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