‘Os Mortos Não Morrem’, os zumbis ecologistas de Jim Jarmusch
Cineasta inaugura o festival de Cannes com 'Os Mortos Não Morrem', uma mistura de comédia e horror, com Bill Murray e Tilda Swinton, no qual aposta na defesa da natureza
Jim Jarmusch passou para o lado dos zumbis. A priori, não pareceria seu gênero, mas depois de um filme de vampiros, Amantes Eternos (2013), por que não? "Na verdade, não sou muito de zumbis", contou na manhã desta quarta-feira o cineasta, um dos criadores norte-americanos assíduos em Cannes, na coletiva de imprensa de Os Mortos Não Morrem, que abriu a 72ª edição do festival francês, e que será lançado no Brasil em 11 de julho. "Quando eu era um menino via os filmes de monstros da Universal, e gostava especialmente dos de Drácula e de vampiros. Depois vi os filmes de Carpenter e Sam Raimi. Eu me interesso por todos os tipos de filmes, é verdade, mas os de terror não são precisamente a minha.”
Mas, em seguida, em uma mesa em que estava acompanhado dos dois produtores e alguns membros do elenco (Tilda Swinton, Selena Gómez, Bill Murray e Chloë Sevigny), Jarmusch esclarecia: "A graça de George A. Romero [criador do gênero e a quem presta homenagem em Os Mortos Não Morrem] é que geralmente os monstros vêm de fora, enquanto os zumbis de Romero emergem de dentro da sociedade, e a afundam por dentro, e ao mesmo tempo são vítimas”. Não quis ir mais longe porque sua principal intenção era entreter, afirmou. "Antes prefiro lembrar que na Europa há criadores formidáveis neste gênero, como Mario Bava e Dario Argento. Ontem, no jantar, conheci Argento e John Carpenter."
Tilda Swinton e Bill Murray foram ao evento encarnando seus papéis. Enquanto a primeira ria um pouco do mundo da moda e dos tapetes vermelhos – "O que procuro é dar um espetáculo" – e insistia na necessidade de continuar promovendo filmes feitos por diretoras, "a começar pela educação", o segundo fazia piadas em suas respostas. Trabalha muito com Jarmusch porque, dizia, impassível, ele lhe manda "uma tonelada de dinheiro e muitos presentes". Quando lhe perguntaram sobre sua afinidade com filmes de terror, Murray disse: “Adoro estar em Cannes”. E quando o moderador respondeu: “Mas não há zumbis na Croisette”, o ator disse: “Verdade?”. E sobre se acredita na vida depois da morte, confessou: “Sim, mas não para todos”. Só ficou sério quando afirmou: “Sou uma pessoa melhor quando trabalho, e essa é a minha contribuição para a humanidade”.
Aliás, quando perguntaram a Selena Gómez o que lhe causa medo, respondeu, sem rodeios: "As redes sociais têm sido realmente terríveis para a minha geração. Me assusta quando vemos como os garotos e as garotas estão expostos".
Jarmusch falou mais sobre o equilíbrio que implica fazer uma comédia e uma obra de terror e sobre a mensagem ecológica do filme. Sobre o coquetel do filme, explicou: "A obscuridade é parte da vida e o humor também. Para mim, a apreciação do humor é algo maravilhoso. Sem as piadas seria muito difícil continuar vivendo, temos que aproveitar esses detalhes diários. O filme é fatalista? Não tinha me dado conta do quanto é obscuro porque estava mais focado no equilíbrio entre a comédia e o horror”.
E começou uma mensagem muito new wave em defesa da natureza quando explicou que o filme– no qual o apocalipse zumbi começa quando por culpa do fracking nos polos a Terra muda a sua rotação – na verdade fala da crise ecológica: " Quero mostrar que para mim a crise ecológica não é parte dos assuntos políticos. Os políticos não me interessam, eu me interesso pelas pessoas. Os políticos distraem do que é importante, que são as corporações, as verdadeiros dominadoras do planeta. O importante é termos consciência, saber onde estamos e que há uma relação entre todos os ecossistemas do planeta. Espero que as pessoas continuem a apreciar a natureza, e sou otimista porque vejo que as gerações mais jovens, especialmente os adolescentes, que me interessam muito, fazem isso”. E o que assusta Jarmusch é "o declínio da natureza a um ritmo sem precedentes".
É por isso que o diretor, que entre seus dois filmes de terror lançou Paterson e o documentário Gimme Danger, insistiu: "É essa inépcia para enfrentar esse declínio que afeta todos os seres vivos o que me perturba e me assusta". E depois de agradecer a seus companheiros de viagem pelo seu esforço e a diversão conseguida nas filmagens, e insistir em como está feliz por ter trabalhado com Selena Gómez ("Ela me inspira por sua luta para empoderar os jovens para que busquem sua voz, para lhes dar forças), Jarmusch recolheu a tropa e se foi.
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