A esquerda cresce mas ainda precisa apoios para governar
PSOE, Podemos e Compromís somariam 165 cadeiras, ficando a 11 da maioria no Congresso. Ainda há 26% de eleitores indecisos
O primeiro ministro espanhol Pedro Sánchez chega à semana decisiva da campanha como claro favorito para vencer as eleições de domingo, 28, mas necessitará do apoio dos nacionalistas para construir uma maioria absoluta que sustente um Governo estável, devido à rejeição frontal do partido Ciudadanos (Cs) a uma composição, segundo os resultados de uma pesquisa da empresa 40dB para o EL PAÍS. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) obteria 28,8% dos votos e 129 cadeiras, ampliando sua vantagem sobre o segundo (o PP, que obterá 17,8% e 75 deputados, seu pior resultado histórico) em relação à sondagem de um mês atrás. Sánchez reunirá mais cadeiras que os populares e o Cs juntos e seu avanço permite uma clara vantagem do bloco de esquerda sobre uma direita que se afasta da maioria absoluta apesar da ascensão do Vox, com 32 deputados.
Sánchez foi nomeado pelo Parlamento espanhol como substituto do premiê conservador, Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), em junho de 2018. Na época, o líder socialista conseguiu reunir apoios de diferentes partidos de esquerda até então inimizados, e especialmente dos nacionalistas, inimigos históricos do PP, para uma moção de censura, que acabou por destituir o conservador. Porém, apenas oito meses e meio após assumir o cargo, Sánchez teve que convocar novas eleições por conta da rejeição dos independentistas catalães, que foram cruciais para levá-lo ao poder, aos Orçamentos Gerais.
Neste domingo, a campanha de 28 de abril entra em sua semana final com dois debates sucessivos na televisão que podem ser determinantes devido à alta porcentagem de indecisos e com Pedro Sánchez na cabeça de todas as pesquisas. Quase três anos depois de ter obtido o pior resultado dos socialistas na democracia, Sánchez parece ter tudo em seu favor para encerrar seu complexo percurso diante do PSOE, com a primeira vitória de seu partido nas urnas em 11 anos.
No entanto, o panorama da governabilidade continua sendo complexo. O bloco de esquerda PSOE-Unidas Podemos-Compromís soma 165 deputados, segundo conclui a pesquisa (realizada com 2.000 entrevistas entre segunda-feira e quinta-feira, em plena campanha e com todas as estratégias sobre a mesa). São 11 abaixo da maioria absoluta (176 cadeiras em um Congresso de 350). Os sete parlamentares que os socialistas ganhariam segundo os dados da sondagem da 40dB para este jornal há quase um mês compensam os que deixariam a aliança encabeçada por Pablo Iglesias, e afiançam a vantagem da esquerda diante da queda de populares e Cs.
Um acordo entre socialistas e Cs, que somariam, segundo a sondagem, 178 parlamentares, é cada vez mais duvidoso, devido às reiteradas afirmações de Albert Rivera nas últimas semanas, enquanto o PSOE se limita a não fechar portas e opinar que um triunfo claro de sua sigla fará mudar de opinião o Ciudadanos. Assim, para continuar no Palácio da la Moncloa, a sede central da Presidência do Governo de Espanha, Sánchez deverá buscar parceiros entre aqueles que o apoiaram na moção de censura que derrubou Mariano Rajoy.
Uma das melhores opções para o PSOE — formar uma aliança entre Unidas Podemos e Compromís e PNV, partidos com os quais já cogoverna na Comunidade Valenciana e no País Basco, respectivamente — o deixaria, segundo a pesquisa, às portas da maioria absoluta, com 170 cadeiras. Nessas circunstâncias, tem importância-chave o resultado dos separatistas catalães — os possíveis aliados mais arriscados para Sánchez, em pleno desafio separatista e com a Catalunha transformada em pedra angular da oposição e da campanha da direita — e em especial do ERC, cujas boas perspectivas o estudo ratifica, segundo o qual passaria de suas nove cadeiras atuais para 13, claramente acima das cinco dos Junts per Catalunya.
A aliança que os pesquisadores preferem continua sendo a da moção de censura: um acordo entre socialistas, Unidas Podemos e nacionalistas é a eleição de 36,9% dos pesquisados, quase três pontos acima de quando, em março, foram questionados quanto à mesma opção e 14 acima da opção seguinte, um tripartite PP-Cs-Vox semelhante ao acordo andaluz.
Um hipotético consenso entre socialistas e Ciudadanos (opção pela qual 22% dos pesquisados tende) continua dividindo seus respectivos eleitorados, mas em especial quem se declara votante do Cs. Estes últimos dão por resolvido também de forma majoritária que, se seu partido tem uma possibilidade de se eleger, acabará buscando antes um tripartite como o andaluz em vez de um pacto com Sánchez.
O PSOE, cuja intenção de voto direta se aproxima de triplicar a do PP, eleva a fidelidade de seus eleitos: 73,5% de quem o apoiou em 2016 afirma que repetirá no domingo (nove pontos a mais do que na pesquisa passada). E mantém sua mobilização dos abstencionistas mais do que qualquer outro partido.
Pablo Casado não consegue rentabilizar nem sua campanha de duríssimos ataques a Sánchez, nem a virada conservadora que deu seu partido desde que assumiu a presidência há nove meses, nem suas candidaturas para as listas. Sua estreia nas urnas diante do PP segue no sentido de se transformar no pior resultado do partido desde sua criação em 1989. A pesquisa lhe dá 75 cadeiras (uma a menos que em março), cedendo 62 parlamentares e 15 pontos em relação ao último pleito eleitoral. E não só não lhe serviria a coalizão da praça Colón — aliar-se com Cs e Vox — para conseguir governar: a pesquisa posiciona o PSOE com cinco deputados a mais que a soma de PP e Ciudadanos, ao combinar o crescimento socialista com a tendência a baixa dos Rivera, a quem esse estudo eleitoral dá seis cadeiras e acima de três pontos menos do que em março, mesmo consolidando-se como terceiro bloco do Congresso. Casado não consegue reduzir as fugas para o Vox: 20,2% de seus apoiadores em 2016 afirmam que agora votarão no partido de extrema direita. O PP registra a fidelidade de voto mais baixa (41,3%, sete pontos abaixo do Cs e 32 a menos que o PSOE), mas também quase não consegue atrair ninguém de outros partidos, nem entre os abstencionistas.
A volta de Pablo Iglesias para a primeira linha política não detém a queda do Unidas Podemos, que passaria a ser a quarta força da Câmara com 33 cadeiras, uma apenas acima da ultradireita, diante dos 71 que tem atualmente. A coalizão encabeçada por Iglesias continua pagando pela crise interna do Podemos e deixa para os socialistas um de cada cinco eleitores que teve no pleito de três anos atrás.
Junto com a entrada do Vox, as urnas podem levar pela primeira vez ao Congresso um partido defensor dos animais. A sondagem confirma as previsões de outros estudos e atribui duas cadeiras ao Partido Animalista contra o Maltrato Animal (PACMA), depois de 16 anos de história e um crescente apoio que até o momento não se traduziu em nenhum cargo público.
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