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O jogador da seleção sub-20 que comeu carne no México e foi pego no doping

Gabriel Menino, do Palmeiras, estava sob a responsabilidade da CBF quando ingeriu substância proibida em alimento processado. Punição foi revertida na Justiça

Gabriel Menino renovou seu contrato com o Palmeiras em outubro do ano passado.
Gabriel Menino renovou seu contrato com o Palmeiras em outubro do ano passado.Divulgação / Palmeiras
Diogo Magri
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Gabriel Menino, 18 anos, é uma das maiores promessas das categorias de base do Palmeiras. O volante se destacou no ano passado pelo juvenil alviverde e acabou convocado pelo treinador Carlos Amadeu para amistosos com a seleção brasileira sub-20 no México, em setembro de 2018. No dia 2 daquele mês, ele se reuniu com os selecionados e participou dos três jogos que o Brasil fez lá: venceu os donos da casa no dia 5, empatou com o Japão quatro dias depois e voltou a bater os mexicanos no dia 11. Na manhã seguinte, voltou para São Paulo e, do aeroporto de Guarulhos, pegou um transporte para Itu, no interior do Estado, a tempo de enfrentar o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro da categoria. Gabriel jogou e perdeu para o rival, mas a maior derrota veio em seguida. Sorteado para fazer o teste de urina após a partida, o atleta acabou pego no exame antidoping e foi suspenso do futebol preventivamente. Entrou num calvário que só se resolveria seis meses depois.

Gabriel testou positivo para clembuterol, um esteroide anabolizante proibido pela Agência Mundial Antidoping (WADA) que é capaz de facilitar a respiração através da broncodilatação e induzir o ganho de massa muscular. No México e na China, o clembuterol é usado no tratamento de animais cuja carne será destinada ao consumo da população. “O Gabriel comeu carne processada no México na semana que ficou lá, no aeroporto e até no avião de volta”, afirma Alexandre Miranda, advogado que representou Menino diante do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD). Por causa da contaminação através do alimento, garante o advogado, a substância estava presente no organismo do jogador quando fez o exame antidoping, aplicado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), em Itu.

Os problemas relacionados ao clembuterol são de conhecimento da WADA e há anos motivam comunicados da agência alertando quanto ao perigo de consumir carne processada durante competições no México ou na China. Em junho de 2011, ano em que foi realizando um Pan-americano em Guadalajara e um Mundial de Natação em Xangai, a WADA veio a público para dizer que “o clembuterol é uma substância proibida sob qualquer limite, mas um pequeno nível do esteroide no corpo do atleta pode ser resultado de contaminação involuntária através da comida”. Nos meses seguintes, outros comunicados da entidade advertiram atletas e federações devido ao grande número de casos. A seleção mexicana de futebol, que teve cinco jogadores afastados por uso de clembuterol em 2011, proibiu o consumo de carne processada no país antes das disputas das Copas do Mundo de 2014 e 2018.

Com a premissa de doping involuntário, quando não há a intenção de dolo, Alexandre Miranda conseguiu uma liminar contra a suspensão preventiva de Gabriel Menino que o permitiu disputar o sul-americano sub-20 com a seleção. Mas o processo só foi encerrado com absolvição do jogador neste mês. “É seguro dizer que o Gabriel não pode mais sofrer punições por este caso”, explica o advogado. Ele acrescenta que seu cliente teve “azar”: “Outros atletas que estiveram na seleção não foram selecionados para a coleta da ABCD. Caso contrário, todos seriam suspensos por clembuterol no organismo”.

O advogado diz que Gabriel ingeriu a substância proibida ao se alimentar enquanto estava sob responsabilidade da CBF, que o levou para disputar amistosos no México. A WADA, através de sua assessoria de imprensa, disse estar ciente do caso de Menino. Ela também confirmou "centenas de casos" de ingestão de clembuterol através de carne contaminada nos últimos anos e reforçou o cuidado necessário para se alimentar nos países citados. “A agência já emitiu avisos específicos sobre esse problema”, diz a nota. “Há uma necessidade de os atletas terem extrema cautela com relação a comer carne quando viajam para competições na China e no México. É da responsabilidade dos organizadores do evento e dos Governos garantir que a carne disponível para os atletas não esteja contaminada”.

"Não considero que foi um caso de negligência por parte da CBF porque eu já fui para o México com várias delegações e nunca houve um alerta", comenta Turibio Leite de Barros, fisiologista e consultor de suplementação nutricional para atletas. Barros trabalhou na equipe médica do São Paulo e da seleção brasileira, mas não atua com delegações esportivas desde 2010 – um ano antes da WADA jogar luz sobre os casos de clembuterol. "A substância é um dos esteroides mais utilizados quando se pretende estimular a síntese de proteína através dos hormônios [o que ajuda a ganhar massa muscular e perder gordura]", esclarece o fisiologista, "mas essa parece uma circunstância absolutamente anormal". Alexandre Miranda, que venceu o caso com a tese de contaminação involuntária através do alimento, exime a CBF de responsabilidade. “Existe aí uma questão política. O Palmeiras é filiado à confederação e ela teve uma participação decisiva no desfecho positivo do caso, fornecendo documentos e ratificando a tese de ingestão acidental”. Procurada, a CBF não se pronunciou até o fechamento desta reportagem. “O doping inverte a ordem dos outros casos de criminosos: o acusado é culpado até que se prove o contrário. Esse caso é relevante para provar que existe contaminação ou sabotagem”, comemora Miranda.

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