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MP investiga papel de grupos radicais da Internet no ataque em Suzano

O procurador-geral de Justiça do Estado não descarta "ampliar" investigações para tentar desmobilizar estes fóruns

Enterro de uma das vítimas do ataque à escola em Suzano.
Enterro de uma das vítimas do ataque à escola em Suzano.
Gil Alessi

O Ministério Público de São Paulo investiga se os autores do massacre de Suzano contaram com o auxílio de grupos radicais que operam em fóruns na deep web (os sites da Internet que não são facilmente rastreados em plataformas de busca como Google) para planejar o atentado cometido na Escola Estadual Raul Brasil na quarta-feira. Estes grupos de troca de mensagens conhecidos como chans garantem o anonimato aos usuários, e são famosos pelas discussões de caráter racista, homofóbico, misógino e com conteúdo de pedofilia. O procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, afirmou que o “cyber Gaeco” - equipe especializada do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP - apura se Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro frequentavam estes fóruns.

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Smanio não descarta a ampliação das investigações para combater estes grupos online de forma mais abrangente. “Alguns deles já foram investigados anteriormente pelo MP e pelo Ministério Público Federal”, afirma, sem citar os nomes. “É possível que muitos jovens circulem nesse ambiente, e que existam outros crimes [sendo planejados ou cometidos nos grupos]”, disse o procurador.

O massacre de Suzano foi comemorado em vários chans, onde os matadores foram tratados como “heróis”. Computadores e telefones celulares utilizados pelos jovens assassinos foram apreendidos para serem periciados. De acordo com reportagem do portal R7, Guilherme e Luiz teriam trocado mensagens com o administrador do fórum radical Dogolachan, um homem conhecido apenas pela sigla DPR. O fundador do grupo, Marcelo Valle Silveira Mello, conhecido com Psy, foi preso em maio de 2018 na Operação Bravata da Polícia Federal, e condenado a mais de 41 anos de prisão pelos crimes de divulgar imagens de pedofilia, coação e outros. O Dogolachan se auto-intitula "o maior fórum alt-right do Brasil", em referência ao termo usado nos Estados Unidos para se referir à extrema direita no país.

Esta linha da investigação, que conecta o crime de Suzano ao submundo da Internet, esbarra na falta de rastreabilidade de alguns chans da deep web e em uma discussão sobre liberdade de expressão, censura e limites das autoridades nas hora de controlar conteúdos. No primeiro caso, a dificuldade se dá porque é necessária a utilização de um navegador específico para acessá-los, o Tor, que faz uso de tecnologia que camufla o endereço do usuário na rede (chamado de IP). “É praticamente impossível detectar, por exemplo, onde está o servidor que hospeda estes grupos de discussão de ódio para que se possa tirá-los do ar”, afirma Arthur Igreja, professor da Fundação Getúlio Vargas especialista em tecnologia e inovação. Ele explica que a deep web não é necessariamente ilegal ou “ruim”: “Militantes de direitos humanos na China, por exemplo, a utilizam para conseguir se comunicar com o mundo exterior. Os grupos que organizaram a Primavera Árabe também dependiam dela”. No entanto, Igreja afirma que existe uma “camada” da deep web conhecida como dark net (ou rede escura), onde ocorre a venda de armas, drogas, pedofilia e o planejamento de crimes.

A tarefa das autoridades para apurar se os assassinos de Suzano contaram com ajuda ou apoio de fóruns de ódio hospedados na deep web não será fácil. “O maior desafio é a falta de rastreabilidade. É muito difícil [chegar aos autores das postagens]. Existem técnicas de investigação, tanto periciais quanto de infiltração de agentes que procuramos utilizar para fazer uma investigação adequada. Mas é um ambiente hostil [à investigação]”, afirmou o procurador-geral Smanio.

O desafio não é exclusivo das autoridades brasileiras. Um dos atiradores responsáveis pelo atentado que deixou ao menos 49 mortos em mesquitas na Nova Zelândia também participava de um desses grupos, o 8chan, um fórum também popular para intercâmbio racistas e misóginos. Ele usou a plataforma para postar, momentos antes do ataque, o link para um manifesto supremacista branco. No texto existe uma citação ao Brasil: "O Brasil, com toda a sua diversidade racial, está completamente fraturado como nação, onde as pessoas não se dão umas com as outras e se separam e se segregam sempre que possível", comenta.

Como a operação foi extremamente bem-sucedida –o vídeo do atentado transmido ao vivo viralizou-, o ataque na Nova Zelândia também reacendeu o debate sobre as políticas de controle de conteúdos violentos e discursos de ódio na Internet que, para além da deep web e da dark net. Em plataformas como Facebook, YouTube e fóruns menos numerosos com o o Gab esse tipo de mensagem recebe o incentivo dos algorítimos, que ditam qual alcance o material vai ter. “Vídeos chocantes - especialmente com imagens gráficas gravadas pela primeira pessoa - é onde o reality show se encontra com a cultura violenta dos jogos e com os algoritmos de amplificação da atenção”, disse Jonathan Albright, diretor de pesquisa do Centro de Jornalismo Digital da Universidade Columbia ao jornal Washington Post. “A Internet moderna foi projetada para o engajamento em primeiro lugar, e isso funciona na contramão de impedir rapidamente a disseminação de material e ideias prejudiciais”.

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