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China suspende voos do Boeing 737 Max 8 depois do acidente na Etiópia

Pequim destaca semelhanças entre o desastre de um avião do mesmo modelo da companhia indonésia Lion Air em outubro com o de Addis Abeba

Grupo de trabalhadores diante de um Boeing 737 Max 8 da Air China, em uma imagem de arquivo. Em vídeo, morrem os 157 ocupantes da aeronave acidentada.
Grupo de trabalhadores diante de um Boeing 737 Max 8 da Air China, em uma imagem de arquivo. Em vídeo, morrem os 157 ocupantes da aeronave acidentada.Thomas Peter (REUTERS)

O acidente do avião da Ethiopian Airlines no trajeto Addis Abeba-Nairobi, no qual 157 pessoas morreram, já começou a ter consequências. A China determinou que suas companhias aéreas deixem o Boeing 737 Max 8 em terra, segundo informou a Administração da Aviação Civil desse país (CAAC) em um comunicado. A CAAC justificou sua decisão especificamente pelas semelhanças entre esse acidente e o de um avião do mesmo modelo da companhia indonésia Air Lion, há seis meses. A medida representa um duro golpe para a reputação da fabricante norte-americana, a maior empresa aeroespacial do mundo. No Brasil, a Gol mantém em operação sete aeronaves do tipo em rotas internacionais e afirma que acompanha de perto as investigações sobre o acidente.

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As companhias aéreas chinesas, em plena expansão, são alguns dos melhores clientes da Boeing e de seu modelo de avião 737 Max, o mais moderno do grupo. De acordo com o site oficial da empresa, já foram entregues 71 aeronaves desse modelo às companhias chinesas e outros 104 foram encomendados. A China Southern Airlines é a que dispõe da maior frota: 16 aviões desse tipo estão em operação e mais 34 foram encomendados.

“Os dois acidentes aconteceram com aviões Boeing 737 Max 8 recém-entregues e ambos ocorreram na fase de decolagem, razão pela qual compartilham algumas semelhanças”, afirma o comunicado da CAAC. “Dado o nosso princípio de tolerância zero aos riscos de segurança e o rigoroso controle de qualquer perigo, às 9h do dia 11 de março (22h de domingo em Brasília), a Administração da Aviação Civil divulgou um aviso às companhias aéreas nacionais para suspender as operações comerciais de seus Boeing 737 Max 8.”

A CAAC entrará em contato com sua homóloga norte-americana, a Administração da Aviação Federal (FAA na sigla em inglês) e com a própria Boeing para notificá-los da suspensão e avisá-los quando as operações com o 737 Max forem retomadas, “depois de terem sido tomadas as medidas necessárias para garantir a segurança em voo”, acrescenta o comunicado.

Indonésia imobiliza os Boeing 737 e Norwegian mantém-os

AFP (Jakarta) / Reuters (Oslo)

O Governo indonésio decidiu imobilizar a frota de suas Boeing 737 MAX 8, depois das decisões da China e de Etiópia. "O diretor geral de Transporte Aéreo tomará medidas para inspecionar e proibir temporariamente aos Boeing 737 MAX 8 voar na Indonésia". Um avião desse modelo, da companhia Lion Air, se estrelló no final de outubro de 2018 no país.

A companhia aérea Norwegian, que conta com 18 aviões desse modelo em sua frota de 164 aeronaves, anunciou nesta segunda-feira que continuará os operando com normalidade. Norwegian comprou a Boeing dezenas destes aparelhos e contará com mais de 70 a final de 2021.

A revista econômica estatal Caijing, a primeira a informar sobre a suspensão, afirma que a ordem foi acatada de maneira imediata e que a maioria das companhias aéreas chinesas escolheu substituir os aparelhos sob suspeita pelos modelos 737-800.

A configuração da aeronave da Ethiopian Airlines acidentada é a mesma do avião operado pela indonésia Lion Air que caiu no mar de Java em 29 de outubro, também logo após decolar. Ainda é prematuro estabelecer uma relação entre os dois acidentes.

O B737-800 Max é a nova versão do bimotor de corredor único da Boeing. É o modelo mais vendido pela multinacional norte-americana e o preferido entre as empresas de baixo custo.

A família B737 Max é a mais moderna da Boeing. O B737 foi introduzido há cinco décadas. Mas a nova versão entrou em serviço em maio de 2017 e mais de 350 entregas do modelo foram feitas, de acordo com os dados mais recentes do fabricante. A carteira de pedidos tem mais de 5.100 unidades.

O B737 Max em suas quatro variantes usa a mesma tecnologia de materiais compósitos que o bimotor de longo alcance B787 Dreamliner e tem um novo sistema de voo para as operações críticas, como pouso e decolagem. Depois do acidente da Lion Air foi dada especial atenção ao sistema para evitar que a aeronave tome um ângulo de voo no qual possa perder a estabilidade.

No caso da Lion Air, a queda foi atribuída a um problema de manutenção. Os organismos reguladores de segurança aérea, no entanto, devem determinar se é uma simples coincidência ou se há circunstâncias comuns nos dois acidentes que obriguem a Boeing a adotar medidas. A Ethiopian Airlines, diferentemente da Lion Air, é uma empresa muito bem administrada e considerada segura.

A Boeing limitou-se a divulgar um breve comunicado no qual explica que dispõe de uma equipe técnica que se deslocará ao lugar do acidente para oferecer assistência às autoridades na investigação. Depois do acidente da Lion Air, companhias como a Southwest Airlines decidiram incorporar novos indicadores para ajudar os pilotos a detectar anomalias nos sensores que ativam os estabilizadores.

A companhia aérea de baixo custo norte-americana é a principal operadora desse modelo, o que a Boeing está vendendo mais rapidamente em sua história. A nova versão do B737 também é usada pela Norwegian Air, Flydubai, WestJet, Air China, American Airlines, SilkAir, China Eastern Airlines e Air Canada. Entre as empresas latino-americanas estão a Aeromexico, a panamenha COPA e a Aerolineas Argentinas, com diferentes versões.

O B737 Max é mais eficiente que as versões anteriores que reduzem o consumo e as emissões. Os motores também são maiores, por isso necessitam da ajuda dos sistemas eletrônicos para sua estabilidade. O avião tem capacidade para acomodar entre 140 e 220 passageiros, dependendo da configuração da cabine escolhida pela companhia aérea. Seu principal concorrente é o A320, do consórcio europeu Airbus.

A aviação na China cresceu exponencialmente nos últimos 25 anos. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) estima que o país supere os EUA e se torne o principal mercado em meados da década de 2020. Ao longo dos próximos vinte anos precisará de mais 7.000 aviões, aproximadamente, de acordo com cálculos do setor. Embora este país tenha tentado desenvolver sua própria indústria, até agora sua principal empresa, a estatal COMAC, ainda está muito atrás dos gigantes internacionais. Seu protótipo do avião de passageiros, o C919, ainda está em fase de testes, embora o objetivo de Pequim seja conquistar uma participação de mercado de 10% para as aeronaves nacionais até 2025.

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