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O ‘número três’ do Vaticano é condenado por estuprar uma criança e abusar de outra

Vem a público o veredicto do Cardeal George Pell, que se declarado culpado em dezembro por cinco acusações de abusos sexuais contra menores nos anos noventa

Daniel Verdú
O cardeal George Pell chega ao tribunal de Melbourne nesta terça-feira. Em vídeo, a reação do presidente da conferência episcopal australiana.
O cardeal George Pell chega ao tribunal de Melbourne nesta terça-feira. Em vídeo, a reação do presidente da conferência episcopal australiana.DAVID CROSLING (EFE)

A bomba explodiu em várias fases. E a última detonação é a mais grave, voltando comprometer seriamente o Vaticano. O cardeal George Pell, conselheiro direto do papa Francisco, superministro de Finanças (ainda na manhã desta terça figurava assim no organograma do site da Santa Sé) e considerado o número três da cúria romana, foi declarado culpado por um tribunal de Melbourne (Austrália) por abusar sexualmente de dois meninos na década de noventa. Desde 11 de dezembro já se sabia que havia sido condenado, mas por razões judiciais os detalhes só vieram a público nesta terça (havia outro processo em marcha, que afinal não será levado a julgamento). Até agora havia sido revelado apenas que ele respondera por cinco acusações de conduta sexual gravemente inapropriada. Agora se sabe que as vítimas eram dois meninos do coro, ambos de 13 anos, e que um deles foi sexualmente violentado pelo cardeal australiano, o mais graduado membro da cúpula eclesiástica a ser condenado até hoje.

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A revelação da sentença de Pell e dos horríveis detalhes do caso coincide com o final da cúpula no Vaticano que reuniu 190 líderes religiosos para tentar conter o problema dos abusos sexuais cometidos pelo clero. Pediu-se contundência e eficácia nesta luta, mas o caso do australiano, mantido até o último dia no seu cargo da área econômica e só afastado em dezembro passado do conselho cardinalício que assessora o Papa – e mesmo assim "por motivos de idade" – evidencia uma maneira muito diferente de tratar essa questão, especialmente em comparação à dureza dispensada a outros cardeais, como o norte-americano Theodore McCarrick, expulso do sacerdócio há uma semana. Pell estava até agora em liberdade condicional, mas poderá ser detido a partir da quarta-feira, quando começarão as audiências para determinar uma pena que pode chegar a 10 anos de prisão.

O Vaticano sempre trabalhou com a hipótese de que Pell fosse acusado por bolinar o corpo de menores numa piscina. O Papa aplicou a presunção da inocência, e inclusive quando foi intimado como réu por um tribunal australiano lhe concedeu uma espécie de licença para se defender. Pell negou repetidamente os fatos, e o Papa, embora o cardeal já arrastasse uma longuíssima lista de acusações pelas vítimas na Austrália, confiou em sua versão. Agora, entretanto, sabe-se do alcance real dos cinco processos por atos cometidos em Melbourne em 1996 e 1997. Um deles é pela penetração a um menor, que aconteceu após uma missa celebrada pelo arcebispo de Melbourne. Os outros quatro são por cometer atos indecentes contra os dois menores. Durante o julgamento, informa a agência Efe, o tribunal escutou o relato de que em 1996 o então arcebispo de Melbourne se encontrou com os dois meninos depois de uma missa nas dependências da catedral. Depois de lhes advertir que haviam se metido em apuros por terem bebido o vinho da missa, Pell abusou deles. Depois, repetiu o abuso contra um dos meninos um ano mais tarde.

Indenização milionária

Uma das duas vítimas, segundo um comunicado publicado na imprensa local, pediu que sua identidade seja mantida em sigilo. Dizendo não ser um porta-voz das vítimas de pedofilia, apenas “um sujeito trabalhador, comum, que mantém e protege sua família o melhor possível”, esse indivíduo afirmou necessitar de “espaço e tempo para suportar o processo judicial em andamento". Assim como outros sobreviventes de abusos sexuais, a vítima que assina esse comunicado disse ter passado "vergonha, solidão, depressão e uma luta (interna)" e que demorou "anos para entender o impacto" do abuso na sua vida. A outra vítima morreu de overdose em 2014.

Quando Pell foi nomeado superministro de Finanças do Vaticano, já tinha sido acusado várias vezes pelas vítimas. O cardeal trabalhou como sacerdote em Ballarat, sua cidade natal, entre 1979 e 1984, período no qual houve dezenas de casos de abusos cometidos por outro padre, Gerald Ridsale, que foi condenado a oito anos de prisão. Pell sempre negou saber desses crimes. Mas também afirmou ignorar a maioria dos 4.444 casos denunciados entre 1980 e 2015, muitos dos quais quando foi arcebispo do Melbourne, entre 1996 e 2001, e de Sidney até 2014. Entretanto, como relatava Emiliano Fittipaldi, jornalista do L’Espresso e autor do livro Luxúria, que trata desse caso, as vítimas australianas acabaram recebendo uma indenização equivalente a 34 milhões de reais em troca de não voltar a remexer naqueles assuntos.

A bomba explodiu em várias fases. E a última detonação é a mais grave, voltando comprometer seriamente o Vaticano. O cardeal George Pell, conselheiro direto do papa Francisco, superministro de Finanças (ainda na manhã desta terça figurava assim no organograma do site da Santa Sé) e considerado o número três da cúria romana, foi declarado culpado por um tribunal de Melbourne (Austrália) por abusar sexualmente de dois meninos na década de noventa. Desde 11 de dezembro já se sabia que havia sido condenado, mas por razões judiciais os detalhes só vieram a público nesta terça (havia outro processo em marcha, que afinal não será levado a julgamento). Até agora havia sido revelado apenas que ele respondera por cinco acusações de conduta sexual gravemente inapropriada. Agora se sabe que as vítimas eram dois meninos do coro, ambos de 13 anos, e que um deles foi sexualmente violentado pelo cardeal australiano, o mais graduado membro da cúpula eclesiástica a ser condenado até hoje.

A revelação da sentença de Pell e dos horríveis detalhes do caso coincide com o final da cúpula no Vaticano que reuniu 190 líderes religiosos para tentar conter o problema dos abusos sexuais cometidos pelo clero. Pediu-se contundência e eficácia nesta luta, mas o caso do australiano, mantido até o último dia no seu cargo da área econômica e só afastado em dezembro passado do conselho cardinalício que assessora o Papa – e mesmo assim "por motivos de idade" – evidencia uma maneira muito diferente de tratar essa questão, especialmente em comparação à dureza dispensada a outros cardeais, como o norte-americano Theodore McCarrick, expulso do sacerdócio há uma semana. Pell estava até agora em liberdade condicional, mas poderá ser detido a partir da quarta-feira, quando começarão as audiências para determinar uma pena que pode chegar a 10 anos de prisão.

O Vaticano sempre trabalhou com a hipótese de que Pell fosse acusado por bolinar o corpo de menores numa piscina. O Papa aplicou a presunção da inocência, e inclusive quando foi intimado como réu por um tribunal australiano lhe concedeu uma espécie de licença para se defender. Pell negou repetidamente os fatos, e o Papa, embora o cardeal já arrastasse uma longuíssima lista de acusações pelas vítimas na Austrália, confiou em sua versão. Agora, entretanto, sabe-se do alcance real dos cinco processos por atos cometidos em Melbourne em 1996 e 1997. Um deles é pela penetração a um menor, que aconteceu após uma missa celebrada pelo arcebispo de Melbourne. Os outros quatro são por cometer atos indecentes contra os dois menores. Durante o julgamento, informa a agência Efe, o tribunal escutou o relato de que em 1996 o então arcebispo de Melbourne se encontrou com os dois meninos depois de uma missa nas dependências da catedral. Depois de lhes advertir que haviam se metido em apuros por terem bebido o vinho da missa, Pell abusou deles. Depois, repetiu o abuso contra um dos meninos um ano mais tarde.

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