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Papa Francisco: “Não permitirei o celibato opcional”

Pontífice fixa os objetivos do encontro de fevereiro com os bispos, que buscará soluções para o abuso sexual de menores por parte de clérigos

O papa Francisco se dirige aos jornalistas no avião papal depois de decolar da Cidade do Panamá
O papa Francisco se dirige aos jornalistas no avião papal depois de decolar da Cidade do PanamáAlessandra Tarantino (AP Photo)
Daniel Verdú

As entrevistas coletivas com o papa Francisco a 11.000 metros de altitude são sempre uma incógnita. Alguns dias, cansado da viagem, ele evita as principais perguntas sobre o Vaticano e pede que lhe perguntem sobre episódios da viagem. Em outros, como neste domingo, 27, não se importa em falar com desenvoltura sobre os assuntos mais espinhosos. Depois de quatro dias participando da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Panamá, e já bem perto de um encontro histórico no Vaticano para discutir a questão dos abusos sexuais com os presidentes de todas as conferências episcopais, Francisco concordou em abordar como questão central de sua entrevista a ferida que faz a Igreja sangrar. Além disso, descartou taxativamente a hipótese de permitir que o celibato seja opcional para os sacerdotes.

O Vaticano reunirá todos os presidentes das conferências episcopais entre 21 e 24 de fevereiro para debater e buscar soluções para a praga do abuso sexual de menores. Pela primeira vez, o Papa explicou diretamente a origem do histórico encontro e suas metas. "A ideia nasceu no C9 [o conselho de cardeais que o aconselha nas reformas]. Vimos que alguns bispos não sabiam o que fazer, não entendiam ... Eles faziam uma coisa boa e outra ruim. Então sentimos a necessidade de dar uma catequese sobre este problema às conferências episcopais. [...] Primeiro eles têm que estar conscientes sobre isso", disse.

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Mas as vítimas e os especialistas exigem medidas concretas que estabeleçam as bases para a mudança de rumo anunciada há anos pela Igreja, sem muitos efeitos palpáveis. A música que emana da "tolerância zero" soa bem, mas são necessárias novas leis e regras, consideram todas as associações. Para o Papa, o problema é que muitos bispos ainda não sabem como lidar com a questão. "Eles precisam saber o que devem fazer, o procedimento. Porque às vezes o bispo não sabe o que fazer. É necessário que se façam programas gerais, mas que cheguem a todas as conferências episcopais: o que o bispo, o arcebispo, o presidente da conferência têm que fazer ... Protocolos que sejam claros: isto é o principal.”

A reunião, como já anteciparam os organizadores, e Francisco confirmou durante o voo, será realizada a portas fechadas e moderada pelo padre Federico Lombardi [porta-voz do Papa na época de Bento XVI]. Incluirá vítimas que relatarão suas experiências de modo que os numerosos bispos que ainda estão imunes a esse sofrimento o conheçam diretamente. "A primeira coisa é estar consciente. Haverá orações e depoimentos, haverá liturgias de penitência e para pedir perdão para toda a Igreja", disse ele antes de acrescentar um pouco de água ao vinho. Um antes e depois no tratamento dos abusos? "Deixe-me dizer que senti uma expectativa inflada. É necessário esvaziar as expectativas para esses pontos de que falo. Porque o problema dos abusos continuará: é um problema humano que ocorre em todos os lugares", afirmou, referindo-se à culpa compartilhada a que a Igreja frequentemente se refere nesta questão.

Um dos grandes debates em torno do abuso sexual de menores pelo clero geralmente invoca a conveniência de eliminar o celibato. Mas Francisco foi contundente quando questionado sobre se em algum momento permitirá que homens casados sejam padres. A questão se atinha à possibilidade de uma abertura semelhante à da Igreja Anglicana, que facilite a decisão aos jovens que têm vocação e estão em dúvida por causa da dificuldade do caminho. Mas a resposta do Papa permite descartar definitivamente a opção de abolir o celibato como uma solução para a praga dos abusos sexuais. "Uma frase de São Paulo VI me vem à mente: ‘Prefiro dar a minha vida a mudar a lei do celibato.’ É uma frase corajosa, em um momento mais difícil do que este. Pessoalmente, acredito que o celibato é um presente para a Igreja. Além disso, não concordo que seja permitido o celibato opcional, não. [...] É algo pessoal, não vou fazer isso. Mas eu não me sinto capaz de me colocar diante de Deus com esta decisão.”

Padres casados como no rito oriental da Igreja? Francisco acredita que só seria possível contemplar essa possibilidade em lugares onde, por causa do isolamento, não é viável encontrar vocações ou padres que permitam a Eucaristia e outras funções básicas. "A questão deve seguir nesse sentido, de onde há problemas pastorais em razão da falta de sacerdotes. Aí se deve pensar nos fiéis. Não digo que deva ser feito porque ainda não refleti o suficiente sobre isso, mas os teólogos têm que estudar isso. Estes são os pontos em que pode ser feito.” Essa é uma figura conhecida como viri probati, para cujo estudo o papa já havia aberto a porta em outras ocasiões.

“Aconselho as mulheres que abortaram a cantar uma cantiga de ninar a seu filho”

A posição do Papa Francisco sobre a questão do aborto é tão dura quanto a de seus predecessores. No entanto, o Pontífice abriu há algum tempo a porta para a absolvição de mulheres que tomaram essa decisão e se arrependeram. No domingo, ele voltou a essa ideia e lembrou o que, segundo ele, é o verdadeiro drama dessa questão. "A mensagem de misericórdia é para todos, também para a pessoa humana em gestação. Depois de ter cometido este erro, há misericórdia também. Uma misericórdia difícil, porque o problema não está em dar perdão, o problema está em acompanhar uma mulher que se conscientizou de ter abortado. São dramas terríveis. É preciso estar no confessionário, e ali dar consolo, não atacar, por isso ter autoridade de absolver o aborto por misericórdia.”

Francisco diz que no confessionário se percebe o verdadeiro drama de uma mulher arrependida por ter tomado uma decisão desse tipo. "Quando choram e têm essa angústia, eu lhes digo que seu filho está no céu, que conversem com ele, que lhes cantem a cantiga de ninar que não puderam cantar. E há uma reconciliação da mãe com o filho, porque Deus já perdoou. Para entender o drama de um aborto, é necessário estar em um confessionário ".

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