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Maduro e oposição fazem ‘batalha de shows’ na fronteira antes da chegada de ajuda humanitária

Chavistas anunciaram evento musical paralelo a shows que serão promovidos pelo empresário britânico Richard Branson no lado colombiano da divisa

Trabalhadores montam o palco do show Venezuela Aid Concert.
Trabalhadores montam o palco do show Venezuela Aid Concert.LUIS ROBAYO (AFP)
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A poucos dias da data estabelecida por Juan Guaidó para a entrada de ajuda humanitária na Venezuela – no próximo sábado –, o tenso embate travado entre o presidente da Assembleia Nacional com o Governo de Nicolás Maduro está se aproximando de um terreno inesperado. Na véspera do prazo previsto para a entrada de toneladas de suprimentos armazenados em Cúcuta, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, haverá uma batalha musical de shows: o chavismo e a oposição estarão na sexta-feira em margens opostas do rio Táchira, que marca o limite entre os dois países.

À primeira vista, a desproporção entre os dois shows parece enorme. O Venezuela Aid Live, promovido pelo empresário e filantropo britânico Richard Branson, fundador do Grupo Virgin, será realizado no lado colombiano da ponte de Tienditas, uma das três passagens que ligam Cúcuta ao Estado venezuelano de Táchira, no mesmo lugar que abriga os depósitos de toneladas de alimentos e suprimentos médicos, sob gestão da agência de cooperação dos Estados Unidos (USAID), à espera da entrada na Venezuela. Sua finalidade é apoiar a ajuda pedida por Guaidó, reconhecido como "presidente interino" por mais de cinquenta países, e arrecadar 100 milhões de dólares (370 milhões de reais) em 60 dias. No entanto, a cúpula do Exército – fiel a Maduro – se recusa a deixar os alimentos e remédios passarem.

O grupo de artistas internacionais que está inundando as mídias sociais com as suas mensagens de apoio ao povo venezuelano inclui os espanhóis Alejandro Sanz e Miguel Bosé, os colombianos Juanes e Carlos Vives, os venezuelanos Jose Luis Rodríguez El Puma, Nacho, Chyno Miranda e Carlos Baute, a banda mexicana Maná e o porto-riquenho Luis Fonsi, entre muitos outros. Na segunda-feira à tarde já se podia ver os primeiros preparativos para a instalação do palco em uma infraestrutura moderna, não utilizada, que permanece bloqueada pelos militares do lado venezuelano.

Em resposta ao evento de Cúcuta, o Governo de Maduro surpreendeu nesta segunda-feira com o anúncio de um show paralelo, nos dias 22 e 23, no lado venezuelano da ponte Simón Bolívar, na passagem principal da fronteira atravessada todos os dias por cerca de 35.000 venezuelanos em busca de alimentos e produtos básicos na Colômbia. A vizinha República Bolivariana sofre uma grave crise econômica que provoca escassez de alimentos e medicamentos e uma hiperinflação galopante que o Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula em 10.000.000% para 2019, o que levou cerca de três milhões de venezuelanos a deixarem o país, dos quais cerca de 1,2 milhão está na Colômbia e 160.000 na região metropolitana de Cúcuta.

"Recebemos uma proposta de um grande número de artistas venezuelanos que pediram a organização de um evento cultural, um grande show pela paz e pela vida", disse Jorge Rodríguez, ministro da Comunicação, ao anunciar em uma coletiva de imprensa o evento intitulado "Hands off Venezuela” (Tirem as mãos da Venezuela), na qual ele ignorou o êxodo e a emergência humanitária. Embora não tenha especificado quais artistas vão participar no lado venezuelano, Rodriguez disse que o chavismo enviará “mais de 20.000 cestas básicas Clap", com alimentos subsidiados, bem como atendimento médico gratuito para as necessidades dos moradores de Cúcuta. A principal cidade colombiana na fronteira vem sendo afetada pela pressão migratória, tem a segunda maior taxa de desemprego do país e em seus hospitais nascem mais bebês de mães venezuelanas do que colombianas desde meados do ano passado.

Quase ao mesmo tempo, tanto Guaidó como seus representantes em Cúcuta qualificaram o anúncio do chavismo de "chacota". "É preciso estar muito desconectado da realidade para zombar dessa maneira das necessidades do povo da Venezuela", disse o político em Caracas, que afirma que a ajuda procura salvar 300.000 venezuelanos do risco de morrer.

"Além de estarem usurpando o poder, continuam a gastar dinheiro em bobagens. Quando 68% de nossas salas de cirurgia não estão em condições de uso, quando 98% dos equipamentos de tomografia não estão em condições de uso, quando eles têm um sistema de saúde destruído, ele se põe a falar do sistema de saúde em Cúcuta”, disse em Tienditas o deputado (e médico) José Manuel Olivares, membro da comissão da Assembleia Nacional. Ele também denunciou o uso das cestas básicas Clap como uma" ferramenta política de dominação” que o chavismo costuma empregar.

Os shows ao ar livre na fronteira têm um claro antecedente. De fato, vários dos artistas que estarão no Aid Live de Cúcuta já se haviam apresentado em 2008 no evento "Paz sem Fronteiras", um espetáculo que atraiu uma multidão à ponte Simón Bolívar, promovido por Juanes, com a presença de mais de 100.000 pessoas vestidas de branco. Naquela época, os músicos buscavam pôr fim aos tambores de guerra depois de uma crise diplomática envolvendo Caracas, Bogotá e Quito, com Hugo Chávez, Álvaro Uribe e Rafael Correa no poder. A Venezuela e o Equador chegaram então a anunciar movimentação de tropas para suas fronteiras, depois que o Exército colombiano abateu em uma operação em território equatoriano Raúl Reyes, o número dois da guerrilha das Farc – hoje desarmada e transformada em partido político.

No entanto, os organizadores daquele show tentaram se distanciar dos políticos, manter algum grau de neutralidade e, a pedido do próprio Juanes, o ex-presidente Uribe não compareceu. Na sexta-feira, em um contraste evidente, o presidente Iván Duque –pupilo de Uribe– prometeu estar presente, e até o presidente chileno Sebastián Piñera anunciou que na sexta-feira visitará Cúcuta para apoiar a entrada de ajuda humanitária.

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