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Guaidó organiza centenas de milhares de voluntários para defender a ajuda internacional

O presidente da Assembleia Nacional ativa um plano para permitir a entrada, em 23 de fevereiro, de remédios e alimentos na Venezuela

Francesco Manetto
Juan Guaidó, durante evento em Caracas.
Juan Guaidó, durante evento em Caracas.ANDRES MARTINEZ CASARES (REUTERS)
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A entrada de ajuda humanitária na Venezuela se tornou um território crucial da disputa entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro. Ainda falta uma semana para 23 de fevereiro, dia escolhido para a entrada, pela fronteira colombiana, dos carregamentos de remédios e alimentos enviados pelos Estados Unidos. Mas o presidente da Assembleia Nacional já ativou um plano com o qual quer envolver diretamente centenas de milhares de voluntários para proteger essas entregas, garantir a chegada de produtos que, insiste, mais de 300.000 pessoas em risco de morte necessitam com urgência, e ganhar assim uma batalha política aparentemente decisiva.

O político que desafiou o sucessor de Hugo Chávez ao proclamar-se em janeiro presidente interino protagonizou neste sábado esse compromisso, que considera condição necessária para redobrar a pressão diante do Governo e das Forças Armadas. O juramento, fórmula que já é um marco de sua estratégia, foi realizada diante de milhares de seguidores no estacionamento do jornal El Nacional, no noroeste de Caracas. Guaidó prometeu “fazer o necessário para que a ajuda chegue” e, depois de convocar a “expulsar o resto”, convidou todo mundo a ficar em pé. “Digamos com força”, enfatizou, “nós, voluntários, juramos defender a Constituição, comprometemo-nos a que entre a ajuda humanitária, comprometemo-nos a distribuir a ajuda.”

A mobilização convocada para o próximo sábado não se concentrará apenas na fronteira, mas em todo o país. O presidente do Parlamento garantiu que já são 600.000 as pessoas que aderiram à iniciativa, apesar de seu objetivo ser uma exibição de força ainda maior. A tarefa que delegou a seus seguidores é precisa. “Organizarmo-nos em brigadas humanitárias e chegar a um milhão de voluntários inscritos. As brigadas humanitárias serão a representação de seus Estados em cada uma das fronteiras por onde entrará a ajuda.”

A oposição tenta contemporizar a emergência humanitária sofrida pela Venezuela com medicamentos e suplementos nutricionais dirigidos, em uma primeira fase, a crianças menores de três anos e a mulheres grávidas em situação de pobreza extrema. No entanto, o Governo nega a existência de uma crise dessa monta e recusa de forma taxativa a entrada de auxílio, por considerar uma ingerência externa liderada pelo governo de Donald Trump e um primeiro passo para abrir caminho para uma intervenção militar.

Maduro aumentou o contingente de forças armadas na fronteira entre as cidades de San Antonio del Táchira e Cúcuta, por onde está previsto que entrem os primeiros carregamentos, e alertou os soldados a ficarem preparados para defender o território nacional. Diante da militarização, Guaidó está há semanas tentando quebrar a unidade do Exército e da Polícia apelando para a consciência de sua cúpula e de seus membros. “Restam sete dias. Soldados venezuelanos, coronéis, majores, tenentes... Com que cara vocês vão olhar para suas famílias? Com a cara e o orgulho de que ajudaram a deixar entrar ou com a vergonha de apoiar um usurpador cujo tempo acabou?”, perguntou durante o ato.

A declaração de intenções da Assembleia Nacional continua intacta apesar do assédio do regime, que tenta reduzir a margem de ação de seus representantes com algumas investigações e medidas cautelares. “Cesse a usurpação, Governo de transição e eleições livres.” Esse é o mantra da oposição. Para isso, no entanto, não é suficiente o apoio internacional, praticamente unânime, por isso seus dirigentes tentam obter uma vitória concreta na Venezuela. Para além da indiscutível urgência de um canal humanitário, esse é outro significado da ajuda. E as milhares de pessoas que neste sábado aguardavam sob o sol para participar do juramento demonstram que o desafio de Guaidó não perdeu fôlego apesar do tempo transcorrido e do fantasma dos fracassos do passado.

“A mudança é irreversível”, continuou o dirigente do partido de oposição Voluntad Popular, que afirmou que os que esperavam que o movimento que busca desalojar o chavismo do poder esfriará se equivocaram. Mas Guaidó quer se concentrar agora sobretudo na organização e instou os voluntários a divulgar as mensagens oficiais e não faltar ao encontro de 23 de fevereiro para acompanhar as concentrações convocadas em todo o país. “Devemos nos organizar e nos mobilizar”, insistiu.

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