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Testemunha do ‘caso Odebrecht’ na Colômbia é encontrada morta

Ex-secretário da Transparência, Rafael Merchán foi encontrado em sua casa

Santiago Torrado
A sedel da Odebrecht em São Paulo.
A sedel da Odebrecht em São Paulo.N. Almeida (Getty)

Rafael Merchán, ex-secretário de Transparência da Presidência da Colômbia, que estava prestes a se tornar testemunha no caso Odebrecht, foi encontrado morto nesta quinta-feira em sua casa em Bogotá. As autoridades estão investigando as causas da morte.

Tanto o presidente Iván Duque, como seu antecessor, Juan Manuel Santos, lamentaram a morte de Merchán, 43 anos, e expressaram condolências à família. Duke o descreveu como "bom amigo e jovem funcionário", e Santos o considerou uma "grande pessoa e excelente funcionário". Outras importantes figuras do mundo político colombiano expressaram pesar.

Advogado e cientista político da Universidade de Los Andes, Merchán foi secretário da Transparência – uma espécie de czar anticorrupção – e cônsul durante o governo de Santos (2010-2018). O ex-funcionário iria prestar depoimento em uma das investigações sobre os subornos da construtora brasileira Odebrecht na Colômbia. Mais especificamente, no processo criminal contra o ex-presidente da Associação Nacional de Infraestrutura (ANI) Luis Fernando Andrade, no qual se previa que iria dar declarações em seu favor.

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Andrade, que também tem cidadania dos EUA e afirma ser vítima de perseguição, é acusado de crimes de "interesse indevido na assinatura de contratos, na condição de autor; ocultação, alteração e destruição de elementos materiais comprobatórios, como coautor; e falso testemunho". No começo do mês, um juiz aceitou o depoimento de Merchán no caso da Odebrecht a pedido da defesa de Andrade. O tribunal também acolheu as versões de outros funcionários, como o próprio Juan Manuel Santos, o ex-vice-presidente Germán Vargas Lleras e o procurador-geral Néstor Humberto Martínez.

Um caso turbulento

Merchán é a segunda testemunha do caso da Odebrecht que aparece morta, depois de Jorge Enrique Pizano, interventor de uma concessionária da construtora brasileira. A morte súbita de Pizano, principal testemunha do caso na Colômbia, após sofrer um enfarte, foi seguida na mesma semana de novembro pelo envenenamento de seu filho Alejandro Ponce de Leon, que morreu depois de beber de uma garrafa que encontrou na mesa do pai e que continha cianeto.

Estas mortes lançaram uma sombra sobre a investigação de um escândalo que remonta ao financiamento de campanhas presidenciais de 2010 e 2014 e submeteram a enorme pressão o procurador Martinez, cuja renúncia vem sendo pedida por conflitos de interesse que podem surgir no caso Odebrecht.

Após a morte de Pizano vieram à tona gravações de 2015 em que Martinez lhe expressava suas suspeitas sobre possíveis irregularidades. Martinez, na época advogado do conglomerado bancário Grupo Aval, que interveio naquele projeto, se limitou a cumprir, segundo suas palavras, uma função de "troca de mensagens". Mais tarde, como procurador, optou por não se envolver em algumas das linhas de investigação do caso Odebrecht.

Em dezembro houve vários desdobramentos no caso da Odebrecht. A contenção de Martínez levou à nomeação de um procurador ad hoc para três das múltiplas linhas de investigação. Leonardo Espinosa, decano de direito da Universidade Sergio Arboleda, em Bogotá, foi escolhido há duas semanas de uma lista de três candidatos que o presidente Duque enviou à Corte Suprema de Justiça.

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