Trump critica acusações à Arábia Saudita pelo desaparecimento de jornalista na Turquia
Presidente compara reprimendas a Riad com as denúncias de abusos sexuais ao novo juiz do Supremo
O presidente dos EUA, Donald Trump, reforçou nesta terça-feira, 16, seu apoio à Arábia Saudita pelo misterioso desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi. Em entrevista à Associated Press, o republicano considerou prematura a onda de condenação a Riad pelo modo como vem conduzindo o caso do repórter, que criticava o regime e não é visto desde que entrou no consulado saudita em 2 de outubro, em Istambul. A Turquia afirma que o jornalista foi morto e esquartejado, enquanto a Arábia Saudita afirma que não sabe o que aconteceu.
"Aqui estamos novamente com, você já sabe, você é culpado até que seja provado que você é inocente", disse o presidente na entrevista. Trump comparou a acusação de que Riad está por trás do desaparecimento e aparente morte do jornalista com as acusações de abuso sexual feitas a Brett Kavanaugh antes de ser confirmado no dia 6 como juiz da Suprema Corte. Antes de sua aprovação para o cargo, o presidente fez uma defesa inflamada da inocência de Kavanaugh, como já havia feito de outros homens, incluindo ele mesmo, acusados de abuso sexual de mulheres.
Depois de falar com o rei da Arábia Saudita, Salman, Trump especulou na segunda-feira, 15, que Khashoggi poderia ter sido morto por pessoas que agiram por conta própria, desvinculando assim o Governo saudita do evento macabro. Questionado sobre essa afirmação durante a entrevista, o presidente alegou que foi fruto de sua "sensação" durante a conversa com o monarca.
Trump falou na terça-feira com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman. Como seu pai, segundo o republicano, ele categoricamente negou ter conhecimento do que aconteceu no consulado e prometeu uma "investigação completa" sobre o assunto.
O presidente, que reforçou o estreito relacionamento com a Arábia Saudita em seus quase dois anos na Casa Branca, tem sido ambivalente em relação ao desaparecimento de Khashoggi, que vivia nos EUA e era colunista do The Washington Post. Inicialmente, minimizou a possibilidade de sancionar Riad, como restringir as milionárias vendas de armas, apesar da crescente pressão do Congresso para que faça isso. No entanto, em uma entrevista no final de semana ele prometeu que a Arábia Saudita seria "punida severamente" se sua responsabilidade pela suposta morte do jornalista for comprovada, levando o regime a advertir Washington de que quaisquer sanções resultariam em represálias.
Na segunda-feira, Trump baixou o tom com sua sugestão de que a morte de Khashoggi poderia não ter relação com a cúpula saudita, ao mesmo tempo em que enviava à Arábia Saudita seu secretário de Estado, Mike Pompeo. Nesta terça-feira, fez um novo elogio a Riad, mas também disse, em outra entrevista, à Fox Business, que seria "ruim" se o rei ou o príncipe herdeiro soubessem o que aconteceu com o jornalista.
A crise também é um teste para Trump, que claramente apostou na ascensão de Mohamed bin Salman e deixou em segundo plano o respeito pelos direitos humanos. O príncipe herdeiro embarcou em uma agenda de reformas no hermético e ultraconservador país árabe, buscando uma maior abertura ao Ocidente e a redução da hegemonia do petróleo em sua economia, mas também está envolvido em questões controversas.
De acordo com o The Washington Post, os EUA interceptaram conversas de autoridades sauditas em que falavam sobre como Mohamed bin Salman ordenou uma operação para preparar uma armadilha para Khashoggi a fim de prendê-lo e transferi-lo para a Arábia Saudita. Washington suspeita que a operação, executada por uma equipe de 15 pessoas enviadas a Istambul, não teve os desdobramentos planejados.
Órgãos da mídia dos EUA – CNN, The New York Times e The Wall Street Journal – disseram na segunda-feira que Riad planeja admitir em uma declaração que o jornalista morreu durante um interrogatório de uma operação de inteligência que deu errado.
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