Trump, depois da forte queda da Bolsa: “O Federal Reserve ficou louco”
Presidente investe de novo contra a estratégia de elevação de juros do banco central norte-americano depois da maior desvalorização no mercado de ações em meses
Donald Trump não é de fazer rodeios ao mostrar sua insatisfação com a estratégia do Federal Reserve de elevar as taxas de juros. Diz isso toda vez que surge a oportunidade, embora até agora estivesse tentando se mostrar compreensivo com a política de Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, banco central dos EUA, que ele mesmo indicou. Mas nesta quarta-feira Trump levou sua linha crítica ao extremo quando indagado sobre a queda acentuada de Wall Street durante o pregão. "Acho que o Fed está cometendo um erro", disse, "acho que o Fed ficou louco".
O Dow Jones se despediu do dia com uma queda de mais de 3,1%, a pior desde fevereiro. A Nasdaq sofreu um baque ainda mais robusto, de mais de 4%, o maior desde o Brexit, em junho de 2016. Foi como se todos os desequilíbrios tivessem aparecido ao mesmo tempo, apenas uma semana depois de o próprio Powell ter afirmado em discurso que as taxas de juros ainda estavam longe de atingir uma posição neutra – aquela em que não afetam o crescimento econômico. "É uma correção que vinha vindo há bastante tempo", disse o magnata republicano.
Bolsas de valores de todo mundo reagiram ao forte declínio de Wall Street. Em Tóquio, a bolsa despencava nesta quinta-feira por volta da metade do pregão, mais de 4%. O índice geral da Bolsa de Xangai, principal indicador do mercado chinês, registrou nesta quinta-feira fortes quedas na abertura, de 3,04%. No Brasil, o Ibovespa abriu em alta, apesar do cenário externo negativo, ainda influenciado pela divulgação da pesquisa Datafolha, que coloca Bolsonaro à frente de Haddad no segundo turno. Às 11h17 subia 0,47%.
A taxa de juros dos EUA está agora em uma faixa entre 2% e 2,25%, após o terceiro aumento no ano, decidido há duas semanas. Em seus últimos discursos, Powell deixou claro que está determinado a seguir em frente com a retirada gradual dos estímulos monetários, para impedir o superaquecimento da economia. Mas os membros do banco central consideram até possível um novo aumento em dezembro. "Eu realmente discordo", insistiu Trump.
O presidente dos Estados Unidos considera que o Fed "está indo rápido demais" com o aumento da taxa e que a baixa inflação, em princípio, lhe dá margem para seguir com mais calma. Ele também diz que essa estratégia pode colocar pedras em seu plano de reativação econômica, porque eleva o custo da dívida dos consumidores, ao pagarem os financiamentos de suas casas ou carros. Mas também reconhece que, se a retirada de estímulos está em andamento, é precisamente porque a economia dos EUA está indo de vento em popa.
O aumento das taxas de juros é, de fato, um dos fatores por trás da forte correção sofrida nesta quarta-feira no pregão em Nova York, e isso também se reflete nos mercados dos países emergentes, atingidos pelo fortalecimento do dólar. O encarecimento do dinheiro aumenta em grande medida o atrativo dos títulos e da renda fixa corporativa em detrimento das ações. Uma moeda forte, por sua vez, afeta os resultados das multinacionais.
O índice de volatilidade (VIX), uma espécie de 'termômetro do medo' do mercado financeiro, subiu mais de 35% durante a sessão, embora ainda esteja na metade dos níveis registrados no final de fevereiro, quando o mercado de ações também foi afetado. Os juros pelo título de 10 anos, outro dos indicadores para medir o estresse do mercado, são de 3,2%.
Mas por trás do impacto em Wall Street há, porém, uma série de fatores além do Federal Reserve: os índices de referência (renda fixa e renda variável) estão atingindo níveis históricos e, na mente dos investidores, também pesa a incerteza dos litígios comerciais com a China. Este jogo de forças ficou bem evidente em ações específicas, como a da Nike, que perderam quase 7% em apenas um dia, ou as da Boeing, que caíram 4,7%. As empresas de tecnologia sofreram muito: a Amazon caiu 6,1%, a Microsoft, 5,4% e a Apple, mais de 4,6%.
Powell, que assumiu há oito meses o lugar de Janet Yellen – também criticada por Trump – , deixou claro que sua estratégia responde à evolução da economia e não a questões políticas. Mas os comentários do presidente, que os repete desde meados do ano, são vistos como um claro ataque à independência do banco central mais poderoso do mundo. E a autonomia é o valor por excelência do guardião da política monetária.
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