Florence deixa pelo menos cinco mortos na costa leste dos EUA
Inicialmente classificado como furacão, fenômeno foi rebaixado a tempestade tropical, mas ainda pode causa fortes estragos pela enchente de rios nos próximos dias
A tensa espera acabou. O furacão Florence, transformado agora em uma tempestade tropical, tocou no começo de sexta-feira, 14, a costa sudeste dos Estados Unidos causando estragos: casas inundadas, tetos arrancados, árvores caídas e mais de meio milhão de pessoas sem eletricidade. Centenas de milhares precisaram deixar suas casas. Até agora pelo menos cinco pessoas morreram. O ciclone, que foi rebaixado a tempestade tropical, se lançou a mais de 140 quilômetros por hora sobre a costa da Carolina do Norte e Carolina do Sul. Os meteorologistas afirmam que o principal perigo não é o vento e sim as chuvas.
O espanhol Diego Coello e sua esposa precisaram deixar seu apartamento em New Bern. “Ficamos sabendo pelo Facebook que toda a cidade está sem luz, árvores caíram e que todas as casas às margens do rio estão inundadas”, afirmou em Nova York. Podem se passar semanas até que voltem ao seu lar na cidade que foi protagonista das piores cenas do ciclone Florence. “Minha preocupação particular é que as janelas do apartamento estourem e que a água leve meu carro. A geral é saber como ficará a cidade”.
É esperado que o ciclone, que na sexta-feira enfraqueceu até chegar à categoria 1 de 5 e que posteriormente foi rebaixado a tempestade tropical, atravesse as duas Carolinas ao longo do fim de semana. Os meteorologistas preveem “inundações catastróficas” e enchentes dos rios em um território com numerosos terrenos alagadiços e pântanos. Nos próximos dias, o Florence se encaminhará ao interior e se dirigirá ao oeste. Por volta de 10 milhões de pessoas moram nas áreas que estão em alerta pelo furacão. O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, confirmou que o ciclone estava “causando estragos” na costa e poderia arrasar comunidades inteiras. A tempestade verterá água suficiente para encher 65.000 edifícios do tamanho do Empire State, de acordo com os especialistas.
O panorama nas ruas costeiras nas Carolinas era preocupante. A água do mar se espalhava pelas avenidas com pedaços de edifícios que foram arrancados pelos fortes ventos.
Perdas humanas
De acordo com a imprensa local, os raros carros que circulavam pela rua principal de Wilmington, uma das cidades mais afetadas da Carolina do Norte, precisaram desviar de árvores caídas, restos de metal e fios elétricos. Os semáforos fora de serviço balançavam de acordo com as rajadas de vento. O aeroporto da cidade foi atingido por ventos de 169 quilômetros por hora, os mais fortes desde o furacão Helene em 1958. As duas primeiras pessoas que perderam a vida com o Florence eram dessa cidade litorânea. Uma mãe e seu filho morreram com a queda de uma árvore em sua casa. Depois uma mulher morreu de ataque cardíaco em Hampstead e outras duas no condado de Lenoir: a primeira morreu eletrocutada ao ligar um gerador de eletricidade na chuva; a segunda foi arrastada pelo vento quando saiu no quintal para amarrar seus cachorros. Todas as mortes ocorreram na Carolina do Norte.
Para as pessoas que vivem no interior das Carolina, o momento de maior risco virá nos próximos dias pela cheia dos rios e o deslizamento de lama. Na Carolina do Norte existem 157 refúgios abertos com 20.000 pessoas alojadas. A situação em Charlotte, uma das cidades do interior que se transformaram em abrigo, se complicará no sábado. Jack Raisanen, da Cruz Vermelha americana, afirma que será “a pior tempestade” que a cidade já viu. Durante toda a semana chegaram pessoas desabrigadas da costa à procura de maior segurança. Seja em hotéis ou em um autódromo. Qualquer lugar pode se transformar em um refúgio. Os colégios públicos suspenderam suas aulas e arrumaram os ginásios para que as pessoas possam se proteger neles. Não pedem documento de identidade e não confirmam o endereço.
Os que procuram proteção o fazem porque passaram por um furacão e sabem o que é. Também ocorre o caso contrário: pessoas que nunca vivenciaram uma situação semelhante e não fazem ideia do que irão enfrentar. Até sexta-feira por volta de 150 pessoas chegaram a esses locais. Ao chegar, recebem uma cama portátil, dois cobertores (um para servir de travesseiro porque não existem disponíveis) e apetrechos de higiene.
Os refugiados têm acesso às duchas e três refeições diárias, doadas pelos restaurantes do bairro. Yederka Zorilla, de 48 anos, mora em Charleston, um dos pontos críticos na rota do furacão pela Carolina do Sul. Tem medo. Vive com ele desde que foi vítima do furacão María quando morava em Porto Rico.
O ciclone que deixou por volta de 3.000 mortos no ano passado - de acordo com os números oficiais negados pelo presidente Donald Trump - destroçou todo o interior de sua casa. Com o celular, mostra fotos exibindo como os escombros ainda estão na sala e na cozinha. “A água chegava acima da cintura. Foi horrível, por isso prefiro ficar aqui, onde me sinto mais segura”, diz.
As rajadas de vento enfraqueceram na sexta-feira com o passar do dia, mas as autoridades afirmam que é “uma tempestade perigosa”. O maior risco é o aumento do nível da água que não para de estender seus tentáculos ao interior. Por volta de 9.700 soldados e civis da Guarda Civil, preparando-se para o pior, estão mobilizados na costa com helicópteros e barcos para salvar pessoas que não obedeceram às ordens de deixarem suas casas.
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