“Sr. Trump, o senhor cometeu um erro”, diz líder iraniano após fim do pacto nuclear
Deputados queimaram uma bandeira dos Estados Unidos em protesto contra a decisão de Washington
A ala mais conservadora do regime iraniano levantou a voz depois que os EUA anunciaram, na terça-feira, sua saída do pacto nuclear assinado em 2015. O líder supremo iraniano, Ali Khamenei, uma referência para a comunidade xiita dentro e fora do país, qualificou como “tolo e superficial” o discurso do presidente norte-americano, Donald Trump, artífice da ruptura do acordo. “Vocês ouviram, na noite de ontem, os comentários tolos e superficiais feitos pelo presidente dos Estados Unidos”, disse Khamenei na manhã desta quarta-feira, dia 9, segundo o site oficial. “Contou, talvez, mais de 10 mentiras em seu discurso. Ameaçou o regime e o povo, dizendo que fará isso ou aquilo. Sr. Trump, eu lhe digo em nome dos iranianos: o senhor cometeu um erro.”
Khamenei sempre foi cético em relação ao pacto, especialmente durante as negociações. Mesmo assim deu seu aval após a assinatura. “Aceitamos o acordo”, disse o aiatolá nesta quarta-feira, “mas a inimizade contra a República Islâmica não acabou”. O presidente Hassan Rohani também lamentou na terça-feira, logo após o anúncio de Trump, que os EUA sempre tenham sido “hostis”, mas deixou aberta a porta para manter o acordo se houver consenso com os demais países signatários – Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha.
As palavras de Khamenei, autoridade máxima do país, estavam em sintonia com a posição expressa pelo general Mohammad Ali Jafari, chefe da Guarda Revolucionária, poder policial-militar com grande influência na esfera econômica. Ali Jafari declarou nesta quarta-feira que os laços com Washington não permitirão que a Europa atue por conta própria. “Está claro”, disse Ali Jafari à agência iraniana Fars, “que os europeus não podem decidir de forma independente entre o Irã e os EUA e são aliados dos EUA”. “O destino do acordo iraniano está claro”, declarou.
A Guarda Revolucionária manteve um tenso cabo-de-guerra com o presidente Rohani durante as eleições do ano passado. Durante a campanha, a corporação apoiou Ebrahim Raisi, o adversário ultraconservador de Rohani.
A resposta à decisão de Trump atingiu sua maior temperatura no Parlamento iraniano. Nesta quarta-feira, um grupo de deputados queimou uma bandeira dos EUA em protesto contra a decisão de Washington de romper o pacto nuclear com Teerã. No início da sessão na Câmara, os políticos também atearam fogo a uma cópia simbólica do acordo e gritaram “Morte à América”, segundo a Agência de Notícias dos Estudantes Iranianos, citada pela Reuters. A queima da bandeira norte-americana nas ruas do Irã tem sido, especialmente desde a revolução de 1979, um símbolo comum do sentimento de inimizade gerado pela maior potência mundial. Os observadores citados pela Associated Press, no entanto, não se lembram de nada parecido dentro do Parlamento.
Trump anunciou na terça-feira que Washington está se retirando do acordo nuclear assinado em 2015 com o Irã e restabeleceu, “ao nível máximo” e de forma imediata, as sanções contra o regime. O presidente argumentou que, “se esse pacto continuar, em breve haverá uma corrida armamentista no Oriente Médio”. Com a decisão, o presidente fraturou o Ocidente – de pouco serviram as tentativas de impedi-lo feitas por França, Alemanha e Reino Unido – e abriu uma era de instabilidade no Oriente Médio.
O presidente da Câmara, Ali Larijani, declarou no Parlamento iraniano que Trump não tem a “capacidade mental” necessária para o seu trabalho, segundo informou a agência de notícias Mizan, vinculada ao Judiciário. “Trump não tem capacidade mental para lidar com problemas”, disse Larijani.
“A saída de Trump do acordo nuclear foi um espetáculo diplomático. Na situação atual, o Irã não tem nenhuma obrigação de cumprir seus compromissos. É uma ameaça à paz e à segurança. Não tenho certeza se os signatários europeus cumprirão suas promessas”, disse o presidente do Parlamento iraniano, segundo a televisão estatal. “É óbvio que Trump só entende a linguagem da força”, acrescentou.
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