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Tribuna
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Mundo do design celebra Lina Bo Bardi no Salone del Mobile de Milão

Maior convenção de design na Europa amplifica o recente boom do prestígio internacional da arquiteta brasileira que desenhou o MASP

GALERÍA NILUFAR

Acontece nesta semana de 17 a 22 de abril de 2018, em Milão, a 57ª edição do Salone del Mobile, seguramente o mais celebrado evento de design do mundo no setor de mobiliário, decoração e equipamentos de iluminação, com cerca de 2.500 expositores italianos e estrangeiros e a expectativa de atrair mais de 300.000 visitantes.

Vale dizer que um dos principais destaques para o Brasil é uma exposição, dividida em sete mostras distintas e complementares, que traçam um panorama do design brasileiro desde os anos 1940 até os dias atuais, como a Mestres Modernos Brasileiros e a Sergio Rodrigues, que apresentam peças dos consagrados Jorge Zalszupin, Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer e do próprio Sergio Rodrigues.

Aliás, outro grande destaque acontece no centro de pesquisa sobre design e arte Nilufar, há muitos anos um dos mais importantes da Itália, apresenta a exposição Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti – Studio d’Arte Palma 1948 – 1951, resultado da pesquisa feita por Nina Yashars, com a colaboração do Instituto Bardi de São Paulo, sobre o trabalho desses da arquiteta responsável do MASP, a Casa de Vidro ou o Sesc Pompeia junto com Palanti como designers de móveis.

Essa exposição respeita a essência do trabalho de Lina, com a presença do concreto armado, do aço, do vidro e dos tijolos aparentes para construir formas limpas e sem ornamentação e a valorização da cenografia simples dentro de um contexto industrial.

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#nilufargallery, @linabobardi

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Num olhar mais atento, talvez haja uma contradição (ou não?) nessas duas exposições brasileiras aqui destacadas: enquanto os designers que produziram para a elite endinheirada dividem um único espaço, numa mostra coletiva, Lina, que buscou pensar no uso social dos espaços que projetava, divide o enorme salão, que não poderia ser classificado como popular, apenas com seu “sócio” Palanti, onde ambos reinam soberanos.

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MDW | Skeleton by Lina

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Lina Bo Bardi, vale lembrar, nasceu em Roma em 1914, estudou arquitetura e, em 1946, casou-se com o jornalista Pietro Maria Bardi, com quem mudou-se para o Brasil, na tentativa de distanciar-se dos regimes totalitários.

Os Bardi tornaram-se personagens importantes da vida cultural no Brasil, onde Lina reafirmou e atualizou as origens italianas de seu trabalho, voltado à simplificação das formas, à relação entre forma e função, à produção em larga escala, à acessibilidade do design a um número crescente de pessoas e à incorporação dos saberes artesanais do povo às formas de produção industrial.

Radicada em São Paulo e naturalizada brasileira, Lina fundou o Studio d’Arte Palma, juntamente com Giancarlo Palanti, um arquiteto com quem compartilhou suas raízes italianas e racionalistas.

Além das obras de arquitetura, algumas das quais referencias mundiais, Lina produziu para o teatro, cinema, artes plásticas, cenografia e desenho de mobiliário. Após sua morte em 1992, o reconhecimento nacional e internacional do seu trabalho foi potencializado pelo Instituto Bardi e os debates por ela propostos permanecem atualíssimos no mundo do design: a valorização da cultura local quanto ao uso dos materiais e dos sistemas produtivos, os conflitos entre regionalização e internacionalização e, sobretudo, a acessibilidade do design a todos.

Flavio Borsato, sócio do Estudiobola, é ítalo-brasileiro, arquiteto, urbanista e designer de moveis.

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