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Após ‘prêmio Lula’, dólar sobe, bolsa cai e certezas do mercado ficam em suspenso

Bovespa chegou a subir mais de 10% no ano, mas caiu 1,78% no primeiro dia útil após prisão de petista. Moody's anuncia melhora nota de risco do país de negativa para estável

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Bolsa de Valores de São PauloRafael Matsunaga (Wikipedia)
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O mercado financeiro viveu o teste do primeiro dia útil depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “sonho de consumo” do juiz Sérgio Moro, segundo o petista, mas também dos investidores que temiam a sua volta ao cenário eleitoral. Quem esperava resultados alvissareiros, no entanto, se desapontou. Nesta segunda-feira, o índice Bovespa fechou com queda de 1,78% e o dólar a 3,42 reais, uma das maiores altas da moeda brasileira. No final do dia, ao menos uma boa notícia. A agência Moody's melhorou a perspectiva de nota de risco dos títulos da dívida brasileira de negativa para estável, o que foi justificado pela melhora do ambiente econômico e de que um próximo Governo vá “aprovar reformas para preservar a sustentabilidade fiscal e estabilizar as métricas de dívida no médio prazo”, diz comunicado da agência. “A Moody's acredita, em resumo, que os riscos negativos para o crescimento e as incertezas relacionadas ao ímpeto para reformas, que levaram à atribuição da perspectiva negativa para o rating Ba2 em maio do ano passado, diminuíram.”

Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a queda da bolsa é parte de um ajuste já esperado. “De forma geral, as ações já haviam subido bastante. Ainda temos 9% de alta em moeda local”, diz Perfeito. Mas, o cenário incerto a partir de agora, com um Governo que não tem força política para aprovar reformas – tanto pelo ano eleitoral, como pela perspectiva de que venha uma nova denúncia contra ele relativa ao porto de Santos — e sem nenhum candidato com chances consistentes no horizonte, faz os investidores aumentarem seus movimentos de cautela no mercado acionário. Outros fatores podem manter uma certa reticência no mercado, aponta Perfeito. Desde que Lula seguiu para Curitiba ele não saiu do foco nacional. Em outras palavras, mesmo preso e com a chance baixa de que ele seja candidato, a influência do PT e do ex-presidente não desaparecem. “Hoje, no mercado, o que importa não é o Lula, mas a sua força política”, explica. A depender da estratégia, ele pode transferir milhões de votos para um nome ungido por ele.

Do ponto de vista macroeconômico, a inflação baixa aponta para juros também menores, o que reduz os ganhos do mercado. Segundo a pesquisa Focus, do Banco Central, feita com mais de 100 instituições financeiras, a perspectiva de inflação para este ano caiu de 3,54% para 3,53%, abaixo do piso da meta de 4,5%. Em outras palavras, mostra que o consumo pode não reagir a contento.

Bolsa favorável até então

Até agora, ventos favoráveis sopravam na Bolsa brasileira apesar dos escândalos e da corrupção política a seis meses da realização das eleições presidenciais no país. O índice Bovespa, que agrupa os 60 valores mais líquidos da Bolsa, acumularam uma rentabilidade que superava os 10% desde janeiro, o maior aumento dos principais mercados das Bolsas de valores latino-americanas em 2018 e muito próximo das máximas históricas que atingiu em 26 de fevereiro quando encerrou a sessão em 87.625,64 pontos.

Ainda que a política e a economia tenham saído do controle, as novidades em relação ao ex-presidente Lula eram esperadas pelo mercado. No sábado, o ex-presidente foi preso após o Supremo Tribunal Federal (STF) na mesma semana decidir recusar por um voto o recurso do habeas corpus de Lula pela condenação de 12 anos de prisão por corrupção que recebeu em janeiro. Dessa forma, Lula fica fora da disputa eleitoral apesar de liderar as pesquisas. Todos os especialistas dizem que outro candidato do PT, com o apoio de Lula, mesmo da prisão, pode conquistar uma parte desses votos.

“A alternativa a Lula, Bolsonaro, da extrema direita, ainda que no momento seja muito bem visto pelo mercado e ele mesmo tenha se encarregado disso, não traz certeza por seu perfil populista, mesmo cercando-se de uma equipe econômica mais pró-mercado”, diz Patricia García, do MacroYield. Outro dos candidatos, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, é o que tem mais possibilidades de reunir o establishment conservador. Também surge o nome do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, visto com bons olhos pelo setor dos negócios. Mas se a recuperação econômica não for percebida pela população até outubro, suas chances diminuem.

Até então, a Bolsa soube se manter à margem dos enredos políticos e tirou partido da recuperação econômica. Francisco Veiga, gestor da Orey Financial, atribui o bom comportamento da Bovespa – que está no terceiro ano consecutivo de lucros – à melhora tanto do entorno macro como do micro. “Após ficar três anos em recessão fortemente motivada pela agitação polícia, a economia brasileira cresceu nos últimos três trimestres de 2017, chegando a 2,12% de crescimento interanual no quarto trimestre”, diz o especialista.

José María Luna, diretor de análise da Profim Eafi, afirma que “em 2018 o real brasileiro se valorizou em 3% em relação ao euro, algo que ajuda a explicar parte da evolução positiva do mercado das Bolsas de valores do país nesse ano”.

Baixa dos juros

No início de 2018, a Bovespa recebeu novos estímulos com surpresas positivas econômicas e um novo corte dos juros. Patricia García da MacroYield considera que “as expectativas de inflação que há meses indicam a baixa nos juros estão fazendo com que o Banco Central possa ir na contracorrente dos outros bancos centrais com uma política monetária extraordinariamente adaptável. Em setembro de 2016, com a economia em crise os juros que estavam em 14,25% começaram a ser baixados aos 6,5% atuais”. Longe de esgotar seu potencial de alta, os especialistas acreditam que a Bovespa ainda tem fôlego. “Nos níveis atuais de preços, a Bovespa tem um potencial de 20%”, diz Francisco Veiga.

Por sua vez, as previsões do BBVA são otimistas à economia brasileira. “Em nosso cenário base, a economia continuará se recuperando e enfrentará o problema fiscal com uma reforma da previdência e outras medidas no início do próximo governo eleito nas eleições de 2018”, diz a entidade em seu último relatório macro sobre o Brasil.

Ainda assim, alerta que “não se pode descartar que os riscos políticos e fiscais se materializem, freando a recuperação econômica e até gerando um novo episódio de retrocesso econômico, especialmente no caso de o entorno global deixar de ser tão positivo”.

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