Dez sinais de que o Brasil pode dar início a uma retomada econômica
Com juros e inflação em queda, setores como indústria e comércio têm expectativa de retomar crescimento
A traumática recessão dos últimos anos vem sendo substituída por entusiasmo no setor produtivo com o ano de 2018. São as expectativas - positivas ou negativas - que determinam a velocidade da retomada ou da paralisação dos investimentos, essenciais para fazer o motor econômico girar. O EL PAÍS separou dez evidências que mostram por que o Brasil parece estar no ritmo de uma retomada econômica, mesmo num ano de eleição que promete ser turbulenta, em que alguns investidores ainda parecem estar em compasso de espera.
1. Melhora (lenta, mas progressiva) no emprego
Dados divulgados pelo IBGE nesta semana mostram que o índice de desemprego no Brasil atingiu 12,2% no trimestre encerrado em janeiro, representando 12,7 milhões de pessoas desocupadas, um número ligeiramente acima do registrado no trimestre anterior (11,85). O que à primeira vista parece uma má notícia nada mais é do que o resultado da dispensa de trabalhadores temporários, que são tradicionalmente contratados para o período de férias em dezembro. Em relação ao período setembro-novembro de 2017, o indicador de desemprego ficou estável e teve uma leve queda em relação ao primeiro trimestre do ano anterior (12,6%). Setores como construção civil e comércio já preveem fim da onda de demissões e novas contratações.
2. Queda da inflação e dos juros
A recessão dos últimos anos contribuiu para conter os preços em 2017. A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou o ano acumulada em 2,94%, bem abaixo dos 6,29% registrados em 2016.
Com os preços mais baixos e expectativas para uma inflação menor, a taxa básica de juros (Selic), também teve seu ciclo de cortes. Nas oito reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2017, a Selic foi reduzida sucessivamente, passando de 13,75% para 7% ao ano. Neste ano, o Copom fez mais um corte para 6,7%, a menor taxa de juros da série histórica, iniciada em 1986.
3. Cresce confiança dos empresários da construção
O setor de construção tem sido um dos mais atingidos pela crise política e financeira. Os escândalos de corrupção minaram a credibilidade de grandes empreiteiras, levando à redução de crédito e demissões em massa nos últimos anos. Mas uma sondagem divulgada nesta quarta pela Confederação Nacional da Industrial (CNI) aponta uma mudança de clima no setor.
A confiança dos empresários melhorou de 57,2 pontos em janeiro (maior nível desde o começo de 2014) para 56,3 em fevereiro, mantendo-se acima da média histórica (52,8 pontos). O nível de utilização da capacidade de operação da indústria da construção também subiu para 60% em janeiro e ficou dois pontos percentuais acima dos 58% registrados em dezembro de 2016.
Dados da pesquisa Rumos, apresentada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostram que há também uma expectativa de recuperação do emprego para parte da indústria paulista em 2018, com 24,4% dos industriais afirmando que pretendem aumentar o número de vagas.
4. Superávit do setor público e arrecadação surpreenderam em janeiro
As contas do setor público consolidado, que englobam Governo federal, Estados, municípios e empresas estatais, registram superávit primário de 46,9 bilhões de reais em janeiro, segundo divulgado nesta semana pelo Banco Central. Na prática, isso significa que a soma dos impostos e contribuições superou as despesas no período. O saldo é o maior da série histórica desde dezembro de 2001.
A arrecadação total da Receita Federal foi de 155,6 bilhões de reais em janeiro, superando expectativas. O valor é o maior para o mês desde 2014 e representa um crescimento real de 10,1% em relação ao mesmo período de 2017.
Vale ressaltar, no entanto, que a dívida do setor público continua alta. Ela alcançou 51,8% do PIB em janeiro, pouco acima dos 51,6% de dezembro.
5. Expectativa de crescimento para 2018 na indústria
O setor industrial ficou estável em 2017, segundo dados do IBGE. Uma sondagem feita em janeiro pela Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), no entanto, indica que a maioria das empresas projeta crescimento de suas atividades em 2018.
De acordo com a pesquisa, 83% das consultadas esperam aumento das vendas e encomendas este ano, enquanto 11% projetam estabilidade e 6%, queda, em relação a 2017. Na sondagem, melhorou também o percentual de empresas que têm intenção de contratar, passando de 12% em dezembro de 2017 para 19% no mês passado. Já o percentual de entrevistados que pretende diminuir seu quadro de funcionários caiu de 18% para 10% no período.
6. Confiança no agronegócio avança mesmo sem nova supersafra
A recuperação dos preços de commodities como soja e milho nos últimos três meses de 2017 contribuiu para o crescimento de 1% no PIB. Esse fator, aliado ao bom humor de empresários com uma melhora no crédito agrícola e a expectativa de boas safras em 2018, estão puxando a confiança dos produtores e das indústrias ligadas ao agronegócio.
O Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), divulgado pela Fiesp, fechou o quarto trimestre de 2017 em 100,3 pontos, um avanço de 1,2 ponto em relação ao trimestre imediatamente anterior. De acordo com a metodologia do estudo, resultados acima de 100 pontos correspondem a otimismo. Pontuações abaixo disso demonstram baixo grau de confiança. Apesar dos bons indicadores, não há previsão que o país tenha uma supersafra, como teve em 2017.
7. Poupança e renda do brasileiro voltam a crescer
A taxa de poupança no ano apresentou recuperação, passando de 13,9% em 2016 para 14,8% em 2017, a primeira alta registrada desde 2013. A taxa de poupança vem sendo considerada um dos mais importantes indicadores para o crescimento econômico do país. O estudo “Exchange Rate Misalignment and Growth: A Myth?” (Desalinhamento e crescimento da taxa de câmbio: um mito?), publicado pelos professores da Universidade de São Paulo Carlos Eduardo Goncalves e Mauro Rodrigues, mostra que para cada aumento de um ponto percentual na taxa de poupança, há um impacto positivo de 0,1 ponto na taxa média de crescimento.
No trimestre encerrado em janeiro, a renda média real dos brasileiros apresentou um aumento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
8. Mercado imobiliário prevê retomar expansão
O mercado imobiliário teve anos de bonança na década passada, com preço dos imóveis em alta, e um grande número de lançamento puxados pelo farto crédito imobiliário e inflação em baixa. Mas a recessão em 2014 e 2015 fizeram com que o número de lançamentos diminuíssem radicalmente. Se depender da expectativa positiva do setor, 2018 será o ano da retomada. O Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP) prevê um crescimento de 10% nos lançamentos imobiliários em 2018. Já a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) projeta alta de 15% no financiamento imobiliário via poupança neste ano.
9. Comércio espera a abertura de 20.700 novas lojas
Nos últimos anos o setor de comércio perdeu 226.500 lojas, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No entanto, levantamento da entidade mostra que, para 2018, há uma previsão de abertura de líquida de 20.700 novos estabelecimentos comerciais (já desconsiderando os fechamentos e mudanças de pontos programados). A estimativa não é suficiente para reverter as perdas de empregos nos últimos anos. No ano passado, o saldo entre aberturas e fechamentos de estabelecimentos comerciais ficou negativo em 19.300 unidades. Mas a CNC acredita que o ciclo negativo está chegando ao fim.
Após perder mais de 350 mil postos de trabalho em 2015 e 2016, o setor conseguiu no ano ano passado consegui criar 26.600 vagas. Para 2018, a CNC projeta crescimento de 5,1% no volume de vendas do varejo.
10. Investimento direto no país permaneceu elevado em janeiro
Em janeiro, o fluxo de investimento direto no país (IDP) surpreendeu positivamente, com um ingresso de 6,5 bilhões de dólares, muito superior aos 3,8 bilhões de dólares esperados pelo Banco Central. Esse resultado mostra uma recuperação de confiança na economia nacional. Mesmo assim, questões não resolvidas, como a reforma da Previdência, ainda deixam investidores inseguros em relação ao futuro do país. Recentemente, a agência de classificação de risco financeiro Fitch reduziu a nota de risco do Brasil de BB a BB- com perspectiva estável, depois do fracasso das negociações para a reforma da Previdência, considerada essencial para sanar os déficits públicos. A nota serve como uma baliza para grandes investidores: quanto mais baixa, mais longe o país fica de conseguir o selo de "bom pagador", o que ajuda o fluxo de investimentos e impacta em outras taxas da economia.
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