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Temer se vê forçado a demitir da Polícia Federal um aliado do MDB

Fernando Segovia deixa a diretoria da polícia após ser emparedado pelo Ministério Público e pelo Supremo

O delegado Fernando Segovia, demitido da diretoria da PF.
O delegado Fernando Segovia, demitido da diretoria da PF.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

Sai um diretor falastrão que tentava defender seus aliados. Entra um discreto, com perfil mais executivo e que tentará manter a isonomia das investigações. Foi assim que três policiais com trânsito na cúpula da Polícia Federal analisaram a troca de comando na corporação nessa terça-feira. A demissão de Fernando Segovia na direção-geral da PF e sua substituição por Rogério Galloro foi o primeiro ato de Raul Jungmann como novo ministro da Segurança Pública.

A troca do homem que chegou ao posto máximo da PF pelas mãos de dois figurões do MDB e caiu justamente por minimizou uma investigação policial em andamento contra Michel Temer é vista em Brasília como uma tentativa do presidente de passar a imagem de que não quer interferir em nenhuma apuração, nem as que ocorrem contra ele mesmo. Logo após a posse de Jungmann, na manhã desta terça-feira, o presidente foi questionado por jornalistas se havia alguma recomendação contra a Operação Lava Jato. De maneira enfática ele respondeu: “Não há um movimento sequer com vistas à interrupção. Aliás, vamos registrar um fato: segurança pública é combater a criminalidade. Que tipo de criminalidade? Aquela, digamos, mais, podemos dizer assim, vivenciada, tráfico de drogas, a bandidagem em geral, e, evidentemente, a corrupção”.

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O novo diretor, Galloro, era o mais cotado para substituir Leandro Daiello Coimbra no fim do ano passado. Ambos são do mesmo grupo interno da PF sendo que Segovia já havia sido o diretor-executivo da PF, uma espécie de vice-diretor. Ele teve o seu nome levado pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, para Temer em outubro do ano passado. Mas o suporte político de Segovia, vindo do ex-presidente José Sarney e do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, pesou contra Galloro, que acabou deslocado para a Secretaria Nacional de Segurança Pública.

No meio policial há a expectativa de que o novo diretor não interfira nas investigações em andamento, principalmente as relacionadas à corrupção, e mantenha a sua habitual discrição. “As coisas com ele são mais preto no branco. Para a instituição foi uma troca importante”, ponderou outro policial federal.

Neste ano, as apurações policiais têm um fator a mais: o eleitoral. Ninguém as elimina como um peso preponderante na trajetória dos candidatos até outubro. Quase todos os partidos têm figurões investigados e, conforme for o andamento de cada investigação, os rumos dos políticos podem ser selados. Só no STF são 150 inquéritos relacionados à Operação Lava Jato nos quais autoridades com foro privilegiado são alvo.

Na PF estão, por exemplo, a investigação contra o emedebista Temer na qual ele é suspeito do crime de corrupção no caso dos portos; a apuração de pagamento de propina para o ex-governador e plano B dos petistas, Jacques Wagner, na construção da Arena da Fonte Nova, na Bahia; além da formação de cartel por empresas que agiram nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra, ambos do PSDB, em São Paulo. Além disso, a PF pode ser requisitada para agir em processos que já estão em estágios mais avançados no Judiciário, como os que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (réu em ao menos sete processos judiciais e condenado em um deles) ou o que apura a ligação do senador Aécio Neves, ex-presidente do PSDB, com corruptores da empresa JBS.

Ascensão e queda e defesa de Rodrigo Maia

Segovia estava no cargo havia pouco mais de três meses. No dia de sua posse, em 20 de novembro do ano passado, mostrou seu cartão de visitas: disse que apenas uma mala com 500.000 reais como fruto de corrupção não era capaz de comprovar um crime. “A gente acredita que se fosse pela égide da PF, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”, afirmou. A mala citada fora carregada pelo ex-deputado e ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, a propina paga pelos empresários Joesley e Wesley Batista, segundo consta em denúncia apresentada contra o presidente no ano passado. Temer nega que fosse o destinatário do dinheiro.

Depois, em entrevista à agência de notícias Reuters, o então diretor da PF minimizou uma investigação policial em andamento contra Temer no qual ele é suspeito de ter beneficiado empresas que atuam no porto de Santos ao emitir um decreto. Segovia disse à agência que os indícios do inquérito “são muito frágeis” e que a investigação “pode até concluir que não houve crime”. Foi a gota d’água.

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, o chamou para se explicar formalmente. Na segunda-feira, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pedir ao STF uma “ordem judicial” para que o diretor-geral se abstivesse de declarações a respeito de inquéritos em curso, sob pena de ser afastado do cargo. Nesta terça-feira, em uma nova decisão, Barroso emparedou Segovia e disse que o diretor já estava ciente de que deveria se abster de qualquer pronunciamento sobre a apuração envolvendo Temer. “O diretor morreu pela boca, sem dúvida. Nossa categoria estava muito desgastada. Por mais que ele tivesse boas intenções, nossa imagem estava corroída”, afirmou um policial ouvido pela reportagem.

No Congresso, opositores e governistas disseram que se surpreenderam com a decisão de Jungmann, referendada por Temer. “Fui pego de surpresa. O Segovia é um bom quadro da Polícia (...) E há muitos outros que têm falado demais, no Poder Judiciário, no Ministério Público”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “A demissão foi uma decisão inevitável. Ele se antecipou a uma decisão que ocorreria não pelas mãos do presidente da República”, disse o senador oposicionista Randolfe Rodrigues (REDE-AP).

Com a demissão, Segovia é o segundo diretor-geral com menos tempo no cargo desde a redemocratização do país, há 33 anos. Antes dele, apenas o delegado João Batista Campelo comandou a polícia por um período tão curto. Ele esteve apenas seis dias à frente da corporação no ano de 1999, no Governo Fernando Henrique Cardoso. O motivo foi que o grupo Tortura Nunca Mais revelou que durante a ditadura militar ele havia participado de tortura de pelo menos um preso político, segundo dados do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas.

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