PSG procura novo treinador para Neymar
Dirigentes acreditam que Unai Emery não tira o melhor do atacante brasileiro e propõem como opções Tite ou Luis Enrique
As sessões de análise de vídeos de Unai Emery, o treinador do Paris Saint-Germain (PSG), incluem até o último segundo das partidas mais irrelevantes que a equipe de Neymar já disputou. Um jogador lembra que às vezes, durante suas explanações, o técnico espanhol entra num tipo de transe. Ao descreve uma situação de jogo aéreo, por exemplo, reproduz o gesto do salto na frente do projetor e cabeceia o ar. Os saltos de Emery durante as conversas táticas já foram alvo de comentários assustados do plantel. O ex-lateral brasileiro Maxwell, que agora serve de intermediário entre o vestiário e a diretoria, abordou Emery há alguns meses para sugerir que editasse os vídeos o máximo possível. Deu a entender que tinha gente que se entediava e isso era perigoso. No vestiário ficou claro que o entediado é Neymar. O técnico interpretou o sinal com resignação. Não hesitou em ceder. Desde então, transformou seus longas-metragens em curtas. Um de seus auxiliares pondera: “Não dá mais para entender nada!”.
Com 46 anos, Emery é um homem isolado em Paris. Pessoas próximas a ele afirmam que tem as horas contadas desde que Nasser Al-Khelaifi, o presidente do clube, se convenceu de que não é o técnico adequado para seu time, em 5 de dezembro, na Allianz Arena. Na noite em que o Bayern derrotou o PSG por 3 a 1, Al-Khelaifi esteve a ponto de demitir o espanhol de maneira fulminante. A desconfiança só aumenta. Mesmo com a Ligue 1 garantida — a vantagem sobre o segundo colocado é de 12 pontos —, o PSG não descarta sua demissão imediata caso o time seja eliminado pelo Real Madrid no confronto das oitavas da Champions League, que começa a ser disputado nesta quarta-feira, no Santiago Bernabéu. Al-Khelaifi foi advertido por seus assessores a dar toda a atenção ao Bayern x PSG da última rodada da fase de grupos. Consideravam este o teste definitivo; em meio à imensidão de jogos sem consequências que o futebol francês oferece, o jogo de Munique era a única partida com exigência máxima que enfrentariam entre agosto e fevereiro. Omitiram o duelo de ida no Parque dos Príncipes (3 a 0) porque consideraram notório que na ocasião os jogadores do Bayern tinham se amotinado contra o então técnico Carlo Ancelotti. Se fixaram em Munique e o 3 a 1 desesperou Al-Khelaifi. O xeque descobriu que o jogo perdeu consistência. As conversas que travou com Emery para elaborar estratégias de melhora foram decepcionantes.
Há um ano, Emery justificou a histórica goleada sofrida contra o Barcelona no Camp Nou (6 a 1) dizendo que lhe faltavam peças com poder de desequilibrar o adversário. Al-Khelaifi concordou. Não o demitiu depois de perder a Ligue 1 e contratou Neymar e Mbappé por mais de 400 milhões de euros (1,6 bilhão de reais).
Feito o investimento, o presidente considerou que o trabalho de Emery era garantir que a equipe se mantivesse sempre no primeiro escalão da competição europeia. Como isso — à luz de Munique — não ocorreu, pediu explicações. A resposta de Emery foi apontar Neymar e denunciar o contágio de um tipo de displicência. Argumentou que os jogadores não podem competir como javalis um dia por semana se nos outros seis vivem na boemia em um ambiente — o futebol francês — que não os convida ao aperfeiçoamento. Desde então, Al-Khelaifi procura outro técnico. No vestiário parisiense anunciam que dois nomes se destacam como opções. O técnico da seleção brasileira, Tite, e Luis Enrique, ex-técnico do Barcelona, que está sem clube. Dois treinadores recomendados. Consultado pelos dirigentes do PSG, Neymar deu seu aval a ambos.
Ninguém em Paris ignora que Neymar vive como quer. Ninguém o critica. Nem a mídia, disposta a exaltar suas conquistas mais banais, nem Al-Khelaifi, primeiro apoiador de tudo que seja motivo de felicidade para o brasileiro. O presidente interpretou que a queixa de Emery denunciava sua incapacidade. Entende que Neymar é um artista e que a missão do técnico é estimulá-lo e a seus colegas para que ofereçam sua melhor versão, em condições de disputar a Champions de igual para igual com Barcelona e Real Madrid.
Al-Khelaifi emitiu uma ordem que se estende pelo clube. A chave de um treinador das estrelas deve ser a psicologia, e esta é uma ciência que Emery não domina bem. “Emery é um grande profissional e uma ótima pessoa”, repetem do Catar a Paris. “Mas não tem inteligência emocional.”
Laurent Blanc, o técnico anterior, voltava das partidas dormindo no avião. Emery volta mergulhado em seu laptop, revisando dados, estudando imagens ou preparando conversas. Diz um jogador que lhes dá muitos indicações, mas que fala pouco com eles. O elenco aprendeu a apreciá-lo como se aprecia um bom funcionário. Sem desconfiança nem admiração. A opção de Emery parece simples. Ganha a Champions ou não ganha nada.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.