Em poucas horas, Lula queima primeiro cartucho para evitar prisão
Advogados do ex-presidente tiveram 'habeas corpus' preventivo negado pelo STJ. Cármen Lúcia diz que STF se "apequenaria" se mudasse entendimento por causa de petista
Enquanto os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) não finalizam o processo da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as peças do tabuleiro político-judicial do petista seguem se mexendo. Os advogados de Lula entraram nesta terça-feira com um pedido de habeas corpus preventivo numa instância superior, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), para tentar evitar a prisão de seu cliente. Mas bastaram poucas horas para que esse primeiro cartucho fosse queimado em vão: a petição foi negada sob o argumento de que, como a detenção do petista deve ocorrer antes que seu último recurso (ainda não apresentado) no TRF-4 seja apreciado, a concessão de uma eventual proteção seria precoce.
O revés para o líder do PT aconteceu no mesmo dia em que circula a crítica da presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, à possibilidade de o tribunal supremo rever a prisão de condenados em segunda instância ao discutir o caso de Lula. Para a maioria dos analistas, a rediscussão do começo da execução da pena, quer pelo caso do petista ou quer de maneira geral, é a melhor chance do ex-presidente para evitar a detenção.
Além de reclamar da decisão dos três desembargadores do TRF-4 de endossar a condenação de Moro e ampliar a pena de prisão em três anos, os advogados de Lula enumeraram seis razões pelas quais acreditam que o cliente não deve ser preso. A primeira é que Lula "respeita as decisões judiciais, mesmo as teratológicas" — os defensores citam a entrega do passaporte do ex-presidente, determinada pela Justiça no Distrito Federal. Além disso, o petista é réu primário "e de bons antecedentes criminais", responde por crimes não violentos, tem 72 anos, "implementou diversas políticas de prevenção e repressão à criminalidade organizada e à prática de crimes econômicos e financeiros" enquanto presidente e é pré-candidato a um novo mandato.
Para embasar a argumentação pela liberdade do petista, os advogados citam os ministros do STF Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que votaram junto com Rosa Weber contra a prisão enquanto houver a possibilidade de recurso — Dias Toffoli defendeu prisão após condenação em terceira instância. O pedido de habeas corpus preventivo ainda destaca que o ministro Gilmar Mendes, que votou pela prisão em segunda instância, "já adiantou possível mudança de posicionamento", no qual a prisão só deveria ocorrer na terceira instância (o STJ).
As declarações de Mendes e a possibilidade de Lula ser preso nas próximas semanas levaram a especulações sobre a possibilidade de o STF rever a decisão tomada em outubro de 2016. Questionada sobre o assunto por jornalistas na noite de segunda-feira, a presidenta do STF disse que reabrir a discussão no tribunal por conta de um caso específico "seria apequenar muito o Supremo". Durante jantar promovido pelo site Poder360, Cármen Lúcia disse ainda que não pretende pautar o assunto em fevereiro ou março, mas que outros ministros podem levar a questão ao plenário do tribunal.
Nações Unidas
Além de recorrer na Justiça brasileira, os defensores de Lula seguem buscando atenção internacional. Eles protocolaram na segunda-feira seu "comunicado final" no recurso apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. Segundo nota publicada pelo Instituto Lula, o recurso "declara que o Estado Brasileiro continua violando os direitos humanos do ex-presidente ao não permitir que ele tenha acesso a nenhuma medida legal no Brasil". "Pediu-se ao Comitê de Direitos Humanos da ONU que faça considerações sobre as grosseiras violações dos direitos do ex-presidente Lula à privacidade, o direito do ex-presidente Lula a um julgamento justo, à proteção contra prisão arbitrária, à liberdade de movimento e à presunção da inocência até que se prove o contrário pelo TRF-4, pelo juiz Sérgio Moro e pelos procuradores da Lava-Jato", registra a nota.
Enquanto isso, os trâmites do processo seguem correndo na 13ª Vara Federal de Curitiba, que será responsável por executar uma possível prisão de Lula. Nesta segunda-feira, o juiz Sérgio Moro determinou o leilão do tríplex do Guarujá. O objetivo da medida, segundo Moro, é preservar o valor do imóvel — como, formalmente, ele não pertence nem a Lula nem à construtora OAS, o IPTU não está sendo pago. O juiz diz que os valores da venda devem ser "destinados, após o trânsito em julgado, à vitima no caso de confirmação do confisco ou devolvidos à OAS Empreendimentos ou ao ex-presidente no caso de não ser confirmado o confisco".
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