‘Garoto de 165 milhões’, o estigma que persegue Vinicius Junior
Com apenas 17 anos, atacante do Flamengo evolui, mas ainda não alcançou em campo o protagonismo sugerido pela fortuna desembolsada pelo Real Madrid para contratá-lo
Um ano atrás, Vinicius Junior era mais que um garoto promissor. Já despontava como estrela na base do Flamengo, onde sempre atuou em categorias acima de sua idade. Porém, ainda não chegava perto de ser o garoto badalado que se tornou, sobretudo após o Real Madrid pagar 45 milhões de euros (165 milhões de reais) para contratá-lo em maio deste ano. Embora tenha só 17 anos, ele ganhou visibilidade e status incomuns para um atleta tão jovem. Em sua primeira temporada no time principal do Flamengo, fez 37 jogos, apenas cinco como titular, e quatro gols. Acumula média de 28,7 minutos por partida, sendo que, com dois treinadores diferentes – Zé Ricardo e Reinaldo Rueda –, não conseguiu deixar a condição de reserva apesar dos insistentes apelos da torcida rubro-negra.
Houve, é verdade, lampejos animadores. Como na única partida em que jogou os 90 minutos, contra o Atlético Goianiense, último colocado do Campeonato Brasileiro. Na ocasião, Vinicius Junior marcou os dois gols da vitória por 2 a 0. Ele também foi decisivo ao entrar no segundo tempo de alguns jogos, como na última rodada do Brasileirão, quando ajudou o Flamengo a garantir uma vaga na Copa Libertadores. Mesmo com poucas oportunidades, mantém inabalado seu prestígio com a torcida, mas, por outro lado, levantou dúvidas sobre sua real capacidade. Seria o atacante mais uma promessa supervalorizada do Flamengo? Para o colunista e ex-jogador Tostão, que chegou a alçar Vinicius Junior ao patamar de fenômenos como Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, ele é um “talento adormecido”, justificando que o atacante está “muito confuso, afobado e erra muitos passes”.
A ansiedade de Vinicius em campo, que já havia despertado a preocupação de treinadores que trabalharam com ele nas categorias de base do Flamengo e da seleção brasileira, ficou ainda mais evidente na final da Copa Sul-Americana contra o Independiente, no Maracanã. O Flamengo empatava por 1 a 1. Precisando da vitória, o técnico colombiano Reinaldo Rueda acionou Vinicius Junior aos 10 minutos do segundo tempo, para euforia dos mais de 50.000 rubro-negros presentes no estádio. No entanto, o máximo que o atacante conseguiu foi cavar duas faltas. Errou passes e lançamentos primários. Acabou ofuscado por Lucas Paquetá, de 20 anos, outra promessa da base flamenguista que marcou um gol e estabeleceu-se como destaque do time na campanha do vice-campeonato.
“Em sua faixa etária, o Vinicius Junior já é um dos melhores do mundo”, afirma o ídolo rubro-negro Zico. “É preciso dar mais oportunidades para o garoto jogar e começar as partidas. Ele tem capacidade para mudar um jogo, mas só vamos saber se vai corresponder às expectativas quando for titular do time.” De acordo com a comissão técnica do Flamengo, o garoto ainda tem de cumprir o ciclo natural de desenvolvimento físico para ter condições de jogar com mais regularidade na equipe profissional. Ele ainda sofre para cumprir funções defensivas cada vez mais exigidas de atacantes que atuam pelas pontas. Rueda entende que o maior aproveitamento de Vinicius depende, além da questão física, de cuidados com a exposição precoce da jovem promessa, sob o risco de alimentar expectativas desproporcionais à sua experiência. “Estamos falando de um menino que tem um grande futuro pela frente, mas não podemos jogar toda responsabilidade sobre ele”, disse o técnico em uma das diversas vezes que foi questionado por não aproveitá-lo por mais tempo.
Entretanto, o clube avalia que Vinicius Junior amadureceu, apresentando evolução em vários aspectos desde que subiu ao time principal. Segundo análises internas, ele agora é menos individualista e tem feito melhores escolhas no campo. Apesar do inevitável rótulo de “garoto de 165 milhões”, o estafe que cuida de sua carreira considera que o desempenho do atacante está acima do esperado para a maioria dos garotos da mesma idade. Ele estreou como profissional ainda com 16 anos, mais cedo, por exemplo, que Neymar e Gabriel Jesus, que só debutaram oficialmente por Santos e Palmeiras, respectivamente, aos 17 anos. Ambos também passaram um período na reserva antes de se firmarem como titulares.
Para que não repita casos como o de Lucas Moura, que se transferiu do São Paulo para o PSG por 43 milhões de euros (108 milhões de reais na cotação da época, em 2012), aos 20 anos, e, em sua quinta temporada na Europa, ainda não conseguiu comprovar o status de craque, o Flamengo espera convencer o Real Madrid e o jogador a estender a permanência no Rio de Janeiro por pelo menos mais um ano. Ele só pode se transferir para o clube espanhol a partir de julho de 2018, depois de completar 18 anos. De férias, Vinicius Junior passará alguns dias em Madri para conhecer seu futuro clube e deve acompanhar o clássico contra o Barcelona no Santiago Bernabéu. No último sábado, o atacante garantiu que seu desejo é ganhar um título de expressão pelo Flamengo antes embarcar definitivamente para a Espanha: “Quero ficar até o fim do ano que vem e ganhar uma Libertadores”.
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