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Neymar
Coluna
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O futuro de Neymar no Real Madrid

Quando o brasileiro chegou ao Barcelona, foi dado tamanho protagonismo às questões sentimentais que a pista do dinheiro se perdeu

Neymar, em Wembley, antes do amistoso Brasil x Inglaterra.
Neymar, em Wembley, antes do amistoso Brasil x Inglaterra.DYLAN MARTINEZ (REUTERS)
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Ainda não haviam se confirmado os primeiros rumores sobre sua contratação pelo PSG, e já havia quem suspeitasse que, antes do que se imaginava, Neymar jogaria pelo Real Madrid, uma consequência inevitável de tanto amor declarado pelo garoto e pelas arquibancadas do Camp Nou após sua chegada a Barcelona. Aqueles foram os dias mais felizes das nossas vidas, emocionados que estávamos pelos dribles de pai e filho contra a carteira de Florentino Pérez. Não fomos poucos os que sentimos a tentação de levá-lo diretamente ao altar para encenar a assinatura de seu contrato não só diante da imprensa, mas também perante deus. Na época, foi dado tanto protagonismo às razões do coração que durante meses perdemos de vista a pista do dinheiro, um jorro indecente de comissões que terminaram por judicializar a economia do Barça e desembocaram em um caríssimo divórcio, o trâmite legal imprescindível para começar uma nova vida e algum dia passear, novamente entusiasmado, pelas praias de Madri.

Que grande canção comporia Joaquín Sabina sobre a futura aterrissagem do brasileiro na capital espanhola, se tivesse o coração tão branco como será o de Neymar quando o roteiro assim exigir. Em alguma entrevista, o compositor recordou como chegou com uma mala de papelão da sua Úbeda natal e, cinco minutos depois, já era um cidadão de Madri, um tempo que agora nos parece até excessivo diante da suspeita de que o outrora ídolo culé já era madrilenho quando os sapos dos Jardins do Retiro se transformavam em príncipes, e não em imputados por casos de corrupção. Seus futuros colegas, os mesmos que anteontem lhe chutavam os tornozelos com rancor e certo despeito, hoje lhe abrem as portas das suas casas, e em Paris já contam as horas para que o brasileiro se apresente no escritório do cartola Al Khelaifi para lhe dizer aquele batidíssimo argumento de que “não é você, sou eu”. O cortejo já começou e não é preciso ser muito esperto para saber como a novela terminará.

Toda esta situação me lembrou um casamento onde trabalhei como garçom, já faz um tempo. Terminado o banquete, e com o ambiente regado para a emoção, as luzes do salão diminuíram, e a orquestra anunciou uma surpresa que o noivo havia preparado para a noiva. Superada por tão romântica expectativa, a moça precisou ser amparada numa cadeira diante da possibilidade de um desmaio, enquanto os convidados se dividiam entre os que aplaudiam contentes e os que erguiam e agitavam seus isqueiros. Então começaram a soar uns acordes de samba, e pela porta de serviço apareceram três mulatas de dimensões homéricas, montadas em saltos-agulha e com os corpos insuficientemente cobertos por brilhantina e três plumas coloridas. O noivo, claramente eufórico, se jogou na pista de dança, com passos atrapalhados, mas atrevidos, fazendo um cancã entre as bailarinas diante do olhar pasmado dos demais presentes. Quando a música parou, sua esposa, seus sogros e boa parte da família dela já iam embora para casa, entre atônitos e indignados. Desolado, o desafortunado rapaz era cercado por parentes e amigos que tentavam lhe oferecer consolo, quando um deles o agarrou pelo colarinho e começou a lhe gritar a dois palmos da cara: “Eu te disse ou não te disse?”. Sempre tem alguém que já disse.

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