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A aquarela perdida de Hitler que ninguém quer comprar

Uma vista da Torre Nova, de Viena, pintada pelo Führer foi doada por falta de interesse nas casas de leilões

Isabel Ferrer
A Torre Nova, na cidade de Viena, pintada por Adolf Hitler.
A Torre Nova, na cidade de Viena, pintada por Adolf Hitler.NIOD

Uma simples aquarela pode se transformar também em documento histórico se o seu autor se chamar Adolf Hitler. É o caso de uma vista urbana da Torre Nova, na cidade de Viena, pintada entre 1908 e 1913 pelo Führer e recentemente apresentada ao público pelo Instituto Holandês de Pesquisa sobre a Guerra, o Holocausto e o Genocídio (NIOD na sigla em holandês). Sua proprietária era uma mulher que prefere manter o anonimato e segundo a qual o desenho lhe “queimava nas mãos”. Herdou-o do pai, e quando se deu conta de que nenhuma casa de leilões se interessava por ele, decidiu doá-lo. É a única obra assinada por Hitler conservada na Holanda, e o NIOD está disposto a cedê-la caso algum museu queira montar uma exposição sobre a Segunda Guerra Mundial.

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O pai da doadora comprou a obra “há muito tempo” por 75 centavos de florim em uma pequena feira de selos e moedas, segundo o Instituto. Ao chegar em casa, dando-se conta da assinatura e “do seu valor e peso histórico, guardou-o assustado”, acrescenta a instituição. Dada a existência no mercado de obras falsas de Hitler, os especialistas do NIOD realizaram um estudo exaustivo para ter certeza de sua autenticidade. Além da assinatura, A. Hitler, analisaram os selos colados atrás, o suporte da aquarela e a antiguidade do papel. Eram todos autênticos e da época mencionada, a primeira década do século passado. “Todas as informações recolhidas confluem para o mesmo autor, Hitler. Nada nos leva a achar que não seja dele”, afirma o NIOD.

Hitler queria ser pintor - sua produção reúne centenas de aguadas e cartões postais -, mas não conseguiu entrar na Academia de Belas Artes de Viena. Desistiu duas vezes do exame, e um dos avaliadores lhe sugeriu que tentasse o desenho arquitetônico. Dava muito mais atenção para os detalhes de ruas e edifícios, e a aquarela agora trazida a público é um bom exemplo disso.

A Torre Nova é ladeada por edifícios geminados, com uma perspectiva bem concebida. Ele gostava de exibir sua habilidade técnica, mas também de pintar paisagens onde reproduzia a natureza com a mesma precisão. Em 1914, no começo da Primeira Guerra Mundial, Hitler tinha 25 anos e pintava até mesmo quando estava no front. Depois da Segunda Guerra Mundial, grande parte de suas obras foram requisitadas pelo Exército norte-americano, mas outras acabaram nas mãos de colecionadores privados ou em leilões públicos. Razão pela qual o historiador Frank van Vree, diretor do NIOD, agradeceu a doação, “para evitar que acabe em uma venda de objetos da época nazista, sendo que se trata de um documento histórico”.

Outras obras

Em 2015, 14 aquarelas atribuídas a Hitler foram adquiridas pela galeria de arte Weidler, de Nuremberg, no sul da Alemanha, por quase 400.000 euros (1,5 milhão de reais). O lote incluía o castelo bávaro de Neuschwanstein, aberto ao público em 1886 depois da morte do rei Ludwig II da Baviera, conhecido como O louco. Há também várias vistas de Viena e um nu feminino. Participavam da disputa colecionadores da China, da França, do Brasil, da Alemanha e dos Emirados Árabes. Em 2014, um fã do Oriente Médio pagou 130.000 euros (500.000 reais) por uma aquarela que mostrava a antiga Prefeitura de Nuremberg. Dois anos antes, na Eslováquia, uma paisagem marítima noturna foi arrematada por 32.000 euros (121.000 reais).

Apesar da polêmica que essas vendas costumam suscitar, a legislação alemã não as impede de acontecerem, desde que não haja símbolos nazistas nas obras comercializadas. O Museu da Segunda Guerra Mundial, na cidade norte-americana de Natick (a oeste de Boston, Massachusetts), abriga objetos pessoais de Hitler, como seus óculos e seu primeiro esboço da bandeira nazista, além de várias pinturas.

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