Conheça o banco que ajudou a Odebrecht a lavar dinheiro em Andorra
BPA relaxou sua vigilância sobre políticos que receberam subornos da construtora, segundo a Polícia
A Banca Privada d’Andorra (BPA) burlou os protocolos de prevenção à lavagem de capitais para permitir que dezenas de clientes seus recebessem subornos milionários da Odebrecht, a megaempreiteira brasileira que está no centro da maior trama de corrupção empresarial já revelada nas Américas.
A instituição financeira andorrana permitiu que altos funcionários, políticos e gestores públicos de oito países da América Latina recebessem transferências milionárias da Odebrecht, “apesar dos indícios que desaconselhavam essas transações e da falta de bases justificativas”, segundo um relatório confidencial da polícia do pequeno principado europeu, ao qual o EL PAÍS teve acesso.
O documento, datado de 11 de abril, é parte da investigação da juíza andorrana Canòlich Mingorance, que rastreia 200 milhões de dólares (cerca de 650 milhões de reais) em subornos a 145 clientes desse banco.
Atrás do rastro de 62 milhões
A Polícia do Principado de Andorra quer saber quem está por trás de uma dezena de contas da BPA que receberam um total de 62 milhões de dólares (202 milhões de reais) a partir do complexo societário da Odebrecht. Os investigadores exigem que o banco, sob intervenção desde 2015, forneça informações sobre esses depósitos.
Os investigadores afirmam que, quando o escândalo aflorou, em junho de 2015, a entidade permitiu que os clientes vinculados à empreiteira “retirassem seus recursos”.
A BPA “não denunciou” e “enterrou o assunto”, segundo um relatório que acusa o banco de “evitar parâmetros importantes e de segurança no que diz respeito à procedência do dinheiro”.
A conclusão policial decorre do exame de atas confidenciais do departamento de compliance (obediência às regras financeiras), a unidade da BPA dedicada a prevenir a lavagem de dinheiro. E conclui que só a partir de 2013 a instituição reforçou as precauções sobre as operações controvertidas vinculadas à Odebrecht.
Antes disso, o banco aprovara transferências da empreiteira a clientes que deveriam estar sob vigilância por seu elo com a concessão de contratos públicos, principal fonte de faturamento da Odebrecht. É o caso dos 780.000 dólares (2,5 milhões de reais) pagos pela construtora em Andorra a contas anônimas ligadas a Juan Carlos Zevallos Ugarte, ex-diretor da Ositram, um organismo público que administrou a construção do trecho peruano da Rodovia Interoceânica, uma obra executada pela Odebrecht ao custo de 1,4 bilhão de dólares (4,6 bilhões de reais).
A Polícia ressalta que a empresa brasileira manteve contatos com a BPA através de um ex-diretor do banco no Uruguai, Andrés Norberto Sanguinetti Barros, conhecido como Betingo. “A BPA agiu deslumbrada por ter como cliente uma das principais empresas da América Latina”, dizem os investigadores.
Betingo colaborou supostamente na trama societária que a maior empreiteira latino-americana teceu para pagar subornos sem deixar rastros. “Todos os clientes estudados e/ou investigados foram levados à entidade bancária por esse funcionário [Betingo]”, afirma a Polícia, que acusa Sanguinetti Barros de “participar da abertura das contas, facilitando a entrada na entidade dos investigados, administrando seus recursos e a tramitação dos recursos”. E resume: “Acreditamos que [Betingo] era perfeito conhecedor das operações”.
“A BPA enterrou o tema” depois que o escândalo veio à tona, segundo a investigação
Rodrigo Tacla, ex-advogado da Odebrecht detido em 2016 em Madri, também apontou Betingo em seu depoimento ao órgão de combate à corrupção do Ministério Público espanhol. Na ocasião, vinculou o executivo ao pagamento de uma comissão de um milhão de dólares (3,26 milhões de reais) ao ex-ministro de Eletricidade equatoriano Alecksey Mosquera.
As autoridades uruguaias prenderam Betingo em agosto. E a juíza Mingorance solicitou sua extradição para esclarecer seu papel na complexa arquitetura de lavagem de dinheiro.
Os investigadores também colocam os holofotes sobre Cristina Lozano, ex-diretora da filial do banco andorrano chamada BPA Serveis. Atribuem a essa executiva a criação de empresas panamenhas que foram posteriormente incluídas nas contas andorranas para mascarar os verdadeiros beneficiários. “A Odebrecht recorreu ao BPA Serveis para pagar comissões em caixa-dois.”
Lozano figurou também como representante da Lodore, uma fundação utilizada pela Odebrecht para ocultar as negociações por trás da aquisição da petroquímica Quattor-Unipar. O gigante brasileiro e a Petrobras desembolsaram em 2010 mais de 500 milhões de dólares (1,6 bilhão de reais, pelo câmbio atual) por essa operação.
“Tanto Norberto Sanguinetti como Cristina Lozano tiveram uma colaboração capital e participaram plenamente na logística, formulação e construção da estrutura societária para operações triangulares em benefício da Odebrecht, através da BPA”, afiram os agentes, acrescentando que ambos não tinham poder hierárquico e, além disso, apontam três superiores seus como responsáveis.
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