Temer testa a saúde de sua base na votação da segunda denúncia
Cargos ao ‘centrão’ e mudanças que custaram 12 bilhões de reais são o custo para presidente barrar a acusação dos crimes de obstrução à Justiça e organização criminosa

A Câmara dos Deputados caminha nesta quarta-feira para barrar, pela segunda vez consecutiva, a abertura de um processo criminal contra o presidente Michel Temer (PMDB). Acusado pelo Ministério Público pelos crimes de obstrução de Justiça e formação de organização criminosa, Temer deverá ter ao menos 240 votos pela rejeição da denúncia. Para vetá-la, são necessários 172 votos. O placar da votação deverá sinalizar qual é o tamanho efetivo de sua base, poderá interferir na composição de seus ministérios e sinalizar quais projetos de lei devem ser encampados pelo Governo. Se o apoio for pequeno, dificilmente propostas de emenda constitucional deverão ser bancadas pela gestão do peemedebista.
Michel Temer é acusado ao lado de dois de seus principais ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), de comporem o “quadrilhão do PMDB”, grupo que se beneficiou de desvios que atingem os 587 milhões de reais de contratos públicos. No mesmo processo, os parlamentar dirão se estão de acordo com o relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) que pede o arquivamento da investigação das três autoridades.
Até agora, os aliados mais otimistas de Temer calculam que o apoio a ele pode chegar aos 270 votos. Em qualquer cenário desenhado tanto pela oposição quanto pela situação, o presidente deverá se safar das apurações até o fim de 2018, quando encerra o mandato dele. Para evitar que os deputados autorizem que o Supremo Tribunal Federal julgue a denúncia, o apoio ao peemedebista tem de ser dado por pelo menos 172 dos 513 deputados. Ou seja, para que a apuração prospere, são necessários 342 votos. Caso consigam esse número e o Supremo Tribunal Federal aceite a abertura da investigação, o presidente é afasto do cargo e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, assume o mandato até a conclusão das investigações.
A oposição busca prorrogar a sessão até a próxima semana
“Já temos maioria, mas ainda não os 342 votos necessários”, afirmou o deputado oposicionista Henrique Fontana (PT-RS). Segundo ele, uma das estratégias será a de esvaziar a sessão de votação e tentar prorrogá-la para a próxima semana. Seu cálculo é de que nesses sete dias a mais, outros deputados vão aderir ao grupo que defende a investigação contra o chefe do Poder Executivo. Nas contas de outro oposicionista, Júlio Delgado (PSB-MG), já há 247 parlamentares favoráveis à investigação, quase cem a menos do que o necessário para autorizar a abertura. Caso consigam chegar aos 342 votos, Temer
Do outro lado, a estratégia do Governo é tentar ampliar o número de apoios que obteve em agosto, quando a Câmara julgou a primeira denúncia. Na ocasião o placar acabou com 263 deputados votando contra a investigação e 227, a favor. “Estamos conversando com uma série de parlamentares e queremos ter a base de apoio do Governo ampliada nessa segunda denúncia e podermos passar a votar o que interessa ao Brasil”, disse o deputado Beto Mansur, vice-líder do Governo na Câmara.
12 bilhões dos cofres públicos para manter Temer
O custo de Temer para se livrar da acusação é alto. Um levantamento do jornal O Globo mostrou que a salvação do presidente custou cerca de 12 bilhões de reais aos cofres públicos. A conta foi a seguinte: 881 milhões de reais em emendas parlamentares pagas desde o início de setembro; abdicou de receber 2,8 bilhões de reais em multas ambientais; enfrentou a frustração da receita de 2,4 bilhões de reais com o programa de refinanciamento de dívidas (Refis); e desistiu de privatizar o aeroporto de Congonhas, que renderia cerca de 6 bilhões de reais.
Além da liberação de emendas, o presidente teve de prometer a alguns de seus aliados do centrão novos cargos em ministérios. O grupo está de olho na Secretaria de Governo, a responsável por fazer a articulação política que atualmente está sob a responsabilidade de Antônio Imbassahy (PSDB-BA). Este ministro, ao lado de outros dez que são deputados federais licenciados, retornarão à Câmara nesta quarta-feira apenas para votar favoravelmente a Temer.
Mais informações
Arquivado Em
- Operação Lava Jato
- Rodrigo Maia
- Michel Temer
- Crises políticas
- Caso Petrobras
- Investigação policial
- Câmara Deputados
- Presidente Brasil
- Financiamento ilegal
- Presidência Brasil
- Corrupção política
- Caixa dois
- Governo Brasil
- Conflitos políticos
- Brasil
- Governo
- América Latina
- Força segurança
- Administração Estado
- América
- Empresas
- Delitos
- Política
- Administração pública
- Economia