_
_
_
_
_

Temer testa a saúde de sua base na votação da segunda denúncia

Cargos ao ‘centrão’ e mudanças que custaram 12 bilhões de reais são o custo para presidente barrar a acusação dos crimes de obstrução à Justiça e organização criminosa

Michel Temer no dia 23.
Michel Temer no dia 23.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

A Câmara dos Deputados caminha nesta quarta-feira para barrar, pela segunda vez consecutiva, a abertura de um processo criminal contra o presidente Michel Temer (PMDB). Acusado pelo Ministério Público pelos crimes de obstrução de Justiça e formação de organização criminosa, Temer deverá ter ao menos 240 votos pela rejeição da denúncia. Para vetá-la, são necessários 172 votos. O placar da votação deverá sinalizar qual é o tamanho efetivo de sua base, poderá interferir na composição de seus ministérios e sinalizar quais projetos de lei devem ser encampados pelo Governo. Se o apoio for pequeno, dificilmente propostas de emenda constitucional deverão ser bancadas pela gestão do peemedebista.

Mais informações
Temer passa mal em dia decisivo de votação da denúncia na Câmara
Câmara vota segunda denúncia contra Temer. Acompanhe ao vivo
O dia de votação da denúncia contra Temer na Câmara, em imagens
Brasil entre a pós-verdade e o teatro do absurdo, por JUAN ARIAS

Michel Temer é acusado ao lado de dois de seus principais ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), de comporem o “quadrilhão do PMDB”, grupo que se beneficiou de desvios que atingem os 587 milhões de reais de contratos públicos. No mesmo processo, os parlamentar dirão se estão de acordo com o relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) que pede o arquivamento da investigação das três autoridades.

Até agora, os aliados mais otimistas de Temer calculam que o apoio a ele pode chegar aos 270 votos. Em qualquer cenário desenhado tanto pela oposição quanto pela situação, o presidente deverá se safar das apurações até o fim de 2018, quando encerra o mandato dele. Para evitar que os deputados autorizem que o Supremo Tribunal Federal julgue a denúncia, o apoio ao peemedebista tem de ser dado por pelo menos 172 dos 513 deputados. Ou seja, para que a apuração prospere, são necessários 342 votos. Caso consigam esse número e o Supremo Tribunal Federal aceite a abertura da investigação, o presidente é afasto do cargo e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, assume o mandato até a conclusão das investigações.

A oposição busca prorrogar a sessão até a próxima semana

“Já temos maioria, mas ainda não os 342 votos necessários”, afirmou o deputado oposicionista Henrique Fontana (PT-RS). Segundo ele, uma das estratégias será a de esvaziar a sessão de votação e tentar prorrogá-la para a próxima semana. Seu cálculo é de que nesses sete dias a mais, outros deputados vão aderir ao grupo que defende a investigação contra o chefe do Poder Executivo. Nas contas de outro oposicionista, Júlio Delgado (PSB-MG), já há 247 parlamentares favoráveis à investigação, quase cem a menos do que o necessário para autorizar a abertura. Caso consigam chegar aos 342 votos, Temer

Do outro lado, a estratégia do Governo é tentar ampliar o número de apoios que obteve em agosto, quando a Câmara julgou a primeira denúncia. Na ocasião o placar acabou com 263 deputados votando contra a investigação e 227, a favor. “Estamos conversando com uma série de parlamentares e queremos ter a base de apoio do Governo ampliada nessa segunda denúncia e podermos passar a votar o que interessa ao Brasil”, disse o deputado Beto Mansur, vice-líder do Governo na Câmara.

12 bilhões dos cofres públicos para manter Temer

O custo de Temer para se livrar da acusação é alto. Um levantamento do jornal O Globo mostrou que a salvação do presidente custou cerca de 12 bilhões de reais aos cofres públicos. A conta foi a seguinte: 881 milhões de reais em emendas parlamentares pagas desde o início de setembro; abdicou de receber 2,8 bilhões de reais em multas ambientais; enfrentou a frustração da receita de 2,4 bilhões de reais com o programa de refinanciamento de dívidas (Refis); e desistiu de privatizar o aeroporto de Congonhas, que renderia cerca de 6 bilhões de reais.

Além da liberação de emendas, o presidente teve de prometer a alguns de seus aliados do centrão novos cargos em ministérios. O grupo está de olho na Secretaria de Governo, a responsável por fazer a articulação política que atualmente está sob a responsabilidade de Antônio Imbassahy (PSDB-BA). Este ministro, ao lado de outros dez que são deputados federais licenciados, retornarão à Câmara nesta quarta-feira apenas para votar favoravelmente a Temer.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_