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Coluna
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A borboleta amarela e o homem nu

Repare no escândalo no museu. Um homem despido, minha gente, como pode ter vindo ao mundo desse jeito?

Foto de divulgação de exposição no MAM
Foto de divulgação de exposição no MAMDivulgação

Cadê o amor que estava na minha crônica? O gato esfomeado da realidade comeu. Cadê o lirismo vagabundo sem compromisso com a hora do Brasil? Virou ração do mesmo insaciável felino.

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Você diria que não é tempo de crônicas do amor louco, velho cronista? Sempre é, caríssima leitora que me fez a pergunta na “Tarrafa Literária”, em Santos, mas somente os gênios, à prova da secreção biliar do noticiário, conseguem seguir a borboleta amarela – São Rubem Braga, rogai por nós que recorremos a vós.

O grande desafio do cronista é seguir a borboleta amarela e ignorar os desmantelos que o mundo esfrega na nossa cara. No tempo do jornal de papel até que era fácil, o drama nos chegava com umas 24 horas de atraso. Hoje o cadáver estrebucha online, não permite sequer tapar o nariz.

Outro dia participei de uma competição com amigos do ramo. A grande maratona da borboleta amarela. Venceu o Humberto Werneck, óbvio, era o mais bem-treinado na arte perseguir a invertebrada voadora desde Belo Horizonte. Não sei, até o momento, se a medalha de prata coube ao Mário ou ao Antonio, há controvérsias e os trocadilhos indecentes estão liberados. Luís Henrique Pellanda, ao flanar em Curitiba, ficou em terceiro.

As moças reclamaram de gincana tão porco-chauvinista. Cadê a Maria Ribeiro, a Vanessa Bárbara, a Claudia Tajes, a Tati Bernardi, a Nina Lemos, a Martha Medeiros, a Mariana Ianelli?

Não fui capaz de sacar argumentos, apenas arrisquei uma tese, à guisa de desculpa amarela: Clarice Lispector venceu Rubem Braga, por milímetros, na arte de caçar borboletas. Clarice tem mais milhagem na abstração da realidade, chuto.

Clarice tem uma crônica sobre Brasília, do começo dos anos 1960, na qual invoca Flash Gordon. Que maravilha de texto. Nem o Rubem chegaria tão longe.

Não tenho conseguido dobrar a esquina atrás da borboleta amarela. Logo aparece um bafo no noticiário e me tira do prumo. Repare no homem nu do MAM, o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Quanta imoralidade. Um homem nu, minha gente, como pode ter vindo ao mundo desse jeito? Cadê a bíblica folha de parreira? Prendam-no e o arrebentem. Um homem nu sob a desculpa de manifestação artística. Pouca vergonha. Fica Temer, pelo menos até a intervenção militar, fora comunistas.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “A pátria em sandálias da humildade” (editora Realejo, 2017). Comentarista dos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”.

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