O calvário final de Janot: cinco dias para salvar sua imagem e apresentar as últimas denúncias
Traído por um antigo colaborador e alvo do fogo cruzado dos seus inimigos, o procurador-geral da República tem uma semana para lutar pela sua herança
Rodrigo Janot vive uma estranha corrida na sua última semana à frente da Procuradoria-Geral da República, em meio ao fogo cruzado entre ele e os inimigos que reuniu ao longo do seu mandato. Janot tem somente cinco dias para salvar sua imagem, atacada por várias frentes -sobretudo a frente política, mas também a de algumas pessoas do judiciário- após as irregularidades descobertas na delação da JBS. O procurador tentará demonstrar que não está enfraquecido e ainda quer apresentar as últimas denúncias, dentre elas a que deve ter como alvo de novo a pessoa que virou seu grande inimigo, o presidente da República, Michel Temer.
A última semana de Janot será marcada por ao menos duas ações: a limpeza das gavetas dos casos da operação Lava Jato e a tentativa de amenizar as críticas feitas por conta das omissões da JBS em seu acordo de delação premiada. Desde que passou a denunciar políticos com foro privilegiado, Janot entregou uma média de 1,3 denúncia por mês. Só na última semana esse número já aumentou, foram duas denúncias e um pedido de arquivamento contra políticos do PT e do PMDB. Ao total, foram 34 denúncias entre agosto de 2015 e setembro de 2017. A expectativa é que até a próxima sexta-feira, último dia útil de seu mandato, mais uma ou duas sejam apresentadas.
Os próximos alvos de Janot podem ser o presidente Michel Temer (PMDB), que está sendo investigado por obstrução à Justiça, além do empresário Joesley Batista, preso em Brasília desde esta segunda-feira justamente por esconder informações do Ministério Público Federal.
Enquanto junta as últimas peças dos intrincados quebra-cabeças da corrupção brasileira, o procurador-geral lida com uma complicada transição para Raquel Dodge e com as tentativas de adversários de sujar sua imagem. No fim de semana, ele foi fotografado sentado na mesa de uma distribuidora de bebidas com o advogado Pierpaolo Bottini, um dos defensores de Joesley no Supremo Tribunal Federal. A imagem, publicada pelo site O Antagonista, só elevou a onda de boatos em Brasília e colaborou para a tentativa de manchar a imagem do procurador na reta final de sua carreira. Oficialmente, ambos disseram que não trataram de nenhum processo judicial específico e só trataram de amenidades.
Antes dessa foto, o advogado de Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, já havia pedido a suspeição do procurador nos casos envolvendo o presidente. O pedido foi negado em uma primeira análise do STF. Mas Mariz recorreu e pode ser reanalisado nesta quarta-feira, quando a Corte julgará se as provas levadas pela JBS no seu acordo de delação premiada serão válidas ou não. Se a resposta for negativa, Janot terminará de uma forma melancólica seus quatro anos de mandato. Se for positiva, lhe dará um alívio.
“Apesar de querer aparentar que está tranquilo com todo o processo, ele está um poço de ansiedade e quer demonstrar que, até o último minuto, trabalhou de maneira correta. Ele foi traído”, afirmou um procurador que trabalha com Janot. A traição, na visão dos colegas do procurador-geral, ocorreu quando Marcelo Miller, um antigo membro da força-tarefa da Lava Jato, ajudou os executivos da JBS a negociarem um acordo de leniência com a Justiça Federal. Toda negociação teria sido feita enquanto ele ainda era procurador. Mais tarde, quando deixou a procuradoria, Miller se associou ao escritório que firmou o acordo judicial. Nesta segunda-feira, no entanto, a leniência foi temporariamente suspensa. O juiz que havia a acatado entendeu que era prudente o STF julgue a validade da delação da JBS antes de dar andamento ao pagamento da multa, estipulada em 10,3 bilhões de reais.
Se já não bastassem as batalhas jurídicas, a artilharia contra Janot também já está preparada no Congresso Nacional. Nesta terça-feira, deputados e senadores participam da segunda sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS, criada especialmente para analisar os acordos de delação da Lava Jato e os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um dos que devem ser convocados a depor é Janot. Na lista também estão os irmãos Batista e o ex-procurador Marcelo Miller.
Marcado por ser um procurador que pouco lidava com ações criminais até chegar à chefia do Ministério Público, Janot tentará deixar outras marcas. Nas últimas denúncias criminais que apresentou ele costumava enviar recados aos potenciais réus, conforme destacou o site Jota. Citou desde o pacifista Mahatma Gandhi (ao dizer que “tiranos sempre caem") até o poeta e jornalista brasileiro Millôr Fernandes (ao lembrar que “toda farsa tem dois gumes"). Resta saber qual será a citação que estará no último capítulo da sua biografia profissional.
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