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“Metade dos padres do Vaticano são gays”: Ele foi expulso

Krzysztof Charamsa foi expulso do Vaticano por ser homossexual e vem denunciando a homofobia no seio da Igreja

O teólogo Krzysztof Charamsa, expulso do Vaticano depois de declarar abertamente sua homossexualidade.

O teólogo e filósofo Krzysztof Charamsa, polonês de nascimento e hoje residente em Barcelona com seu namorado catalão, ficou famoso sem querer quando há dois anos tornou público que é homossexual e que tinha um companheiro. Naquele momento, vivia em Roma e trabalhava diariamente no Vaticano, onde era nada menos que secretário da Comissão Teológica Internacional, dentro da Congregação para a Doutrina da Fé. Ou seja, Charamsa era um alto funcionário do Estado da Santa Sé. Expulso imediatamente do trabalho, o Vaticano tentou abafar um escândalo que colocava sobre a mesa novamente a homossexualidade na hierarquia da Igreja católica. “Metade dos padres do Vaticano são gays”, declarou na época. Mais tarde, publicou o livro A primeira pedra, no qual relata como foi o processo interno que o levou a tomar a decisão radical que mudou sua vida. Também denuncia a homofobia no seio da Igreja Católica. No sábado, dia 9 de setembro, pronunciou a quarta conferência do congresso da Associação de Teólogos e Teólogas João XXIII, que nesta edição aborda o tema Mulheres e religião: da discriminação à igualdade de gênero.

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Antes de ser designado o terceiro homem da imponente Comissão Teológica Internacional, que durante algumas décadas foi encabeçada pelo cardeal Josep Ratzinger, hoje o emérito Bento XVI, Krzysztof Charamsa se apresentou na manhã de 9 de setembro em sua conferência intitulada Identidades sexuais e cristianismo. Eis aqui um trecho: “Na cultura ocidental se produziu uma mudança histórica: enquanto no passado o campo da sexualidade era dominado prioritariamente pela religião, que foi fonte primária da formação da mentalidade ocidental sobre a sexualidade, nos tempos modernos são as ciências humanas que reclamam a competência racional em relação à sexualidade, independentemente dos respeitáveis interesses religiosos”.

“O sexo, que até agora foi mantido como tabu em nível de linguagem e da consciência racional das massas, se transforma em um discurso racional, verificável e controlável por meio das ferramentas lógicas e científicas. Essa mudança para o cristianismo e, em particular, para a Igreja católica, representa um momento de enorme crise. O que até agora podia ser apenas o tema secreto da confissão, mantendo e desenvolvendo o sentido da vergonha, da culpabilidade e com frequência do complexo, se transforma em um tema racional de sofisticados discursos universitários, como os dos manuais básicos de sexologia e de outras ciências humanas”, acrescentou.

A meta ideal

Charamsa afirma que “a meta ideal do processo de desenvolvimento da relação entre a sexualidade e as religiões é a aceitação por parte da religião da competência da ciência (e da razão humana) no campo da sexualidade, para poder começar o diálogo por parte das religiões com o novo conhecimento científico adquirido, até agora inexplorado na história da humanidade. Disse: “O revolucionário desenvolvimento do conhecimento científico e experiencial sobre a sexualidade na verdade não é nenhum ataque contra o saber específico da religião. Ao contrário, ajuda a manter a verdadeira competência da religião entre seus justos limites, que é a competência existencial (de salvação) e moral (de autorrealização). Em termos científicos, trata-se da competência teológica, ou seja, da compreensão da realidade e da interpretação das fontes da fé com a razão teológica”.

O teólogo polonês também analisou, em perspectiva histórica, o atual desenvolvimento das ciências e das filosofias sobre a sexualidade que, afirmou, “jogam em favor não apenas do cristianismo, mas de cada religião, porque permitem conquistar conhecimentos que não se tinha antes, que ajudam a diferenciar e precisar melhor a mensagem religiosa em relação ao sexo”. Apelou para a célebre frase de Galileu Galilei: “A Bíblia nos ensina como se vai ao céu, não como vai o céu”, que, disse, se pode analogamente aplicar à grande questão da sexualidade: “A Bíblia nos ensina como viver a sexualidade, não como é a nossa sexualidade”.

Sua opinião é a de que o Concílio Vaticano II e um de seus documentos basilares, a constituição pastoral Gaudium et spes, da qual o palestrante extraiu numerosas citações, promoveram uma relação com o saber científico mais serena do que no passado. “A constituição pastoral diz que as dificuldades (crises) entre a formação cristã e a cultura, entre a fé e a razão, não prejudicam necessariamente a vida de fé: pelo contrário, podem estimular a mente a uma inteligência mais cuidadosa e profunda do que aquela. Uma vez que os estudos mais recentes e as novas descobertas das ciências, da história e da filosofia suscitam problemas novos que trazem consigo consequências práticas e até exigem novas pesquisas teológicas, é preciso reconhecer e empregar suficientemente no trabalho pastoral não só os princípios teológicos, mas também as descobertas das ciências profanas, sobretudo em psicologia e sociologia, levando assim os fiéis a uma vida de fé mais pura e madura”.

Concluiu que graças às mulheres e ao movimento feminista abriu-se a primeira etapa da revolução da identidade sexual. “Quando Simone de Beauvoir em O segundo sexo (1949) formula seu princípio: ‘Não se nasce mulher, torna-se’, apresenta-se o desafio de um re-pensamento radical de toda a questão feminina. A radicalidade exigia tomar consciência da discriminação das mulheres, impedidas como seres inferiores a vários níveis da vida nas sociedades e culturas patriarcais e misóginas, assim como nos demos conta da discriminação racial das pessoas negras nas sociedades racistas”.

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