Apocalípticos versus cooptados, o racha do PSDB vai à TV e aprofunda crise
Congressistas pedem a destituição de Tasso Jereissati da presidência interina da legenda Programa em rede nacional pode custar aos governistas da sigla o Ministério das Cidades
Está declarada uma guerra interna no PSDB que pode resultar na perda do ministério das Cidades e na troca do comando partidário nas próximas semanas. Rachado desde a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados, o partido terá a difícil missão de se reunificar antes do fim do ano, quando a convenção nacional da legenda elegerá sua nova direção. O estopim que gerou a nova crise foi o programa partidário divulgado na noite de quinta-feira (assista aqui) no qual uma das principais mensagens foi a de que o Brasil vive um regime de "presidencialismo de cooptação". O recado foi claro à gestão Temer, assim como a seus antecessores, que governaram trocando cargos e recursos públicos por apoio no Congresso.
Ao tratar desse assunto, a direção tucana mexeu com os brios de ao menos três dos quatro ministros peessedebistas, além de outros vários representantes que defendem a manutenção do apoio ao impopular Governo Temer. O programa foi ao ar semanas depois que o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) foi oficializado como o presidente da transição da legenda, em substituição ao presidente afastado Aécio Neves (PSDB-MG). O termo que incomodou parte da base tucana – presidencialismo de cooptação – foi sugerido pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. É Tasso, contudo, quem assumiu toda a responsabilidade pelo teor da propaganda partidária. “Não me arrependo de nada. Tenho responsabilidade total pelo programa”, afirmou a jornalistas após participar de uma palestra, em Fortaleza, ao lado do prefeito tucano paulistano, João Doria, em mais uma viagem de prospecção de campanha com mira em 2018.
Apesar dos claros ataques entre deputados, ministros e militantes, Tasso nega que a legenda esteja rachada. “Todos os partidos estão rachados no sentido que têm posições divergentes. Não tem pensamento único. Pensamento único só há no Partido Comunista”, disse. Não é o que pensam os ministros do partido. “Em vez de fortalecer o partido e apresentar contribuições ao país, preferiu-se expor, em rede nacional, uma divisão interna que, a meu ver, já havia sido superados”, afirmou em nota o ministro Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo.
Aloysio Nunes, ministro das Relações Exteriores, foi além. Disse que o PSDB desferiu um tiro no próprio pé. Reclamou da generalização do termo de que políticos são cooptados pelo presidente. Culpou os governos do PT pela crise econômica e pela desorganização administrativa. E ainda disse que nunca pediu dinheiro ou recebeu vantagens para apoiar agendas nas quais ele acredita. O longo desabafo foi publicado em sua página no Facebook. “O programa partidário do PSDB é um monumento à inépcia publicitária, e a expressão de uma confusão política digna de figurar numa antologia do gênero”, analisou Nunes.
Já o ministro das Cidades, Bruno Araújo, afirmou que o programa não o representava e cobrou que Tasso Jereissati submetesse as decisões à Executiva Nacional da legenda. Com essas queixas dos tucanos, cresceu no Palácio do Planalto o movimento para distribuir parte dos ministérios comandados pelo PSDB para partidos do centrão. O cargo mais cobiçado é exatamente o ocupado hoje por Araújo. Partidos como PSC, PR, PP, PRB e PSD cobram que o presidente deveria privilegiar algum de seus representantes no ministério das Cidades porque entendem que eles atuaram mais em defesa de seu mandato do que os tucanos.
Nos bastidores do PSDB já há deputados e senadores articulando a troca de Tasso Jereissati por outro nome que não esteja na linha de frente da oposição à gestão federal. Aécio Neves, que se afastou do comando partidário para se defender do escândalo de corrupção no qual se envolveu, foi instado a destituir Tasso, mas ainda não o fez. Quer ouvir outros correligionários antes de tomar qualquer decisão.
Autocrítica e parlamentarismo
Um dos líderes do movimento que defende o rompimento com a gestão Temer, o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) elogiou a propaganda partidária. Avalia que agora, no entanto, é preciso pacificar a legenda, antes mesmo da convenção nacional no fim do ano. “Os dois lados têm de baixar a guarda e sentar para conversar. Sem isso, ficaremos sem rumo. Não pode a ala governista fincar o pé no Governo e não podemos nós sermos intransigentes com eles”, ponderou.
Quem analisa o cenário com maior distanciamento entende que a propaganda partidária foi acertada, ao menos em parte. O cientista político Aldo Fornazieri, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, diz que ao fazer uma autocrítica o PSDB se aproxima da população. “Os partidos políticos têm 5% de apoio da população Como eles vão mudar sem admitir que erraram. O PSDB faz uma coisa que o PT não faz, o de admitir que errou”, disse o especialista.
Os tucanos ainda terão de administrar um contrassenso que é o de criticar a gestão Temer, mas seguir a apoiando com quatro ministérios. “O PSDB está desorientado. Sabe que há um custo eleitoral muito grande por ter sustentado o Governo Temer. E essa incongruência eles vão ter de resolver”, afirmou.
Enquanto a Câmara discute mudanças eleitorais já para a eleição de 2018, o programa do PSDB também decidiu tornar pública em rede nacional uma defesa do parlamentarismo, ainda que uma ação que vai decidir se o Congresso pode ou não debater o assunto esteja parada no Supremo Tribunal Federal. O vídeo diz que a proposta do parlamentarismo está na legenda desde 1988 e é “uma bandeira histórica”.
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