Placar expõe redução de base de Temer e dificuldade para mudar Previdência
Número de apoios angariados na vitória não é capaz de aprovar PECs, que precisa de 308 votos
Assim que Michel Temer (PMDB) assumiu a Presidência da República, em substituição à deposta Dilma Rousseff (PT) ele ostentava uma base congressual de fazer inveja a regimes parlamentares. Tinha 80% do apoio na Câmara dos Deputados –411 dos 513 parlamentares votavam com ele. Um ano e três meses depois, a base se reduziu drasticamente, chega a 51% do parlamento e, ao menos no papel, seus opositores dobraram de tamanho. Eram cerca de cem parlamentares. Agora, levando em conta a votação desta quarta-feira, passam de 200.
O arquivamento temporário da denúncia por corrupção contra o presidente teve o placar de 264 votos a favor de Temer, 227 contra, 18 ausências e 2 abstenções e lhe deu novo fôlego. Agora, só poderá ser investigado por esse crime depois que deixar o cargo, em 31 de dezembro de 2018. O trabalho do peemedebista nos próximos dias será o de recompor sua base, enquanto a oposição tentará surfar nesta onda. “O Governo teve uma vitória de Pirro. Esse processo serviu para fortalecer um bloco de oposição e mostrar que dificilmente Temer conseguirá aprovar seus projetos na Câmara”, afirmou o líder da oposição, José Guimarães (PT-CE).
A maior das perdas da gestão Temer deverá ser a do PSDB. De seus 47 deputados, 22 votaram a favor da investigação do presidente, 21 contra e quatro se ausentaram. A tendência é que nos próximos meses seus quatro ministros (da Secretaria de Governo, das Relações Exteriores, das Cidades e dos Direitos Humanos) sejam forçados pela direção da legenda a entregar os cargos. Ainda indeciso se segue oficialmente no Governo ou se deixa de sustentar a gestão peemedebista, os tucanos dizem que estão, na verdade, preocupados com as reformas estruturantes.
“Não estamos no campo da oposição. Estamos apoiando as reformas de uma forma bem criteriosa. Temos de ter um comportamento igual para quem for parceiro ou adversário. Todos são iguais perante a lei e não cabe a nós diferenciarmos se a pessoa é presidente, ministro ou deputado”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli.
Analisando todo o cenário da base, nota-se que nenhum partido governista, nem mesmo o PMDB, conseguiu a totalidade dos votos a favor do presidente. Entre os peemedebistas, houve seis traições. Todos serão levados ao conselho de ética do partido, conforme determinado pelo presidente da legenda, Romero Jucá, no mês passado. O PSD, o PR, o PP e o PRB, partidos do centrão, com cargos no primeiro escalão do Governo e que se uniram para salvar Temer, também registraram defecções.
Já sabendo que terá dificuldades em aprovar as mudanças previdenciárias, Temer não citou a essa reforma em seu pronunciamento pós-votação. Nos poucos minutos em que se manifestou, falou que conseguiu aprovar as alterações na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), disse que se dedicará às reformas estruturantes, como a da simplificação tributária, mas não disse nem uma palavra sobre as mudanças nas aposentadorias. Seu discurso, voltou a ser o da pacificação do país. “Quero construir com cada brasileiro um país melhor, pacificado, justo, sem ódio ou rancor”, afirmou.
Seus principais aliados na Câmara já trabalham para “perdoar” as traições. “Vamos entender todos os companheiros da base que não conseguiram votar conosco e vamos conversar com eles”, afirmou o vice-líder do Governo, Darcísio Perondi (PMDB-RS). Sem esses perdões e intensas negociações, dificilmente o Governo conseguirá progredir. Ainda mais levando em conta que novas denúncias contra o presidente devem ser apresentadas ainda neste mês pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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